Eric Terena: bolsonarismo acirra discurso de ódio contra indígenas

Fundador da Mídia Índia afirma que preconceito nas ruas aumentou e define demarcação de terras como palavra de ordem prioritária nas eleições de 2022; veja vídeo na íntegra

Eric Terena
Eric Terena (Foto: Reprodução/YouTube/Eric Marky Terena)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Opera Mundi - No programa SUB40 desta quinta-feira (03/08), o diretor de redação de Opera Mundi, Haroldo Ceravolo Sereza, recebeu o ativista, comunicador e realizador audiovisual Eric Terena, um dos fundadores do site de notícias Mídia Índia. 

Nascido há 29 anos e integrante da etnia Terena, ele define a bandeira da demarcação de terras indígenas como palavra de ordem principal para as várias candidaturas de representantes dos povos originários nas eleições legislativas de 2022. “É com a demarcação que a gente consegue monitorar natalidade e mortalidade e criar políticas públicas para o poder executivo. Na pandemia, por exemplo, muitos povos indígenas não tiveram atendimento básico porque não eram de terras demarcadas. Tiveram seus direitos de assistência básica à saúde negados porque não eram contabilizados”, afirmou.

continua após o anúncio

Segundo ele, com Jair Bolsonaro na presidência, o poder executivo colocou-se na posição de inimigo dos povos indígenas, provocando o acirramento do discurso de ódio e o preconceito  nos espaços públicos: "Se a gente sai pintado ou com nossas vestimentas tradicionais, existe hoje uma população incentivada por esse governo que acaba sendo preconceituosa”.

Para Terena, os governos petistas deixaram a desejar na questão da demarcação de territórios indígenas, mas mantiveram abertos o diálogo e o acesso à construção de políticas públicas. “Agora, pelo contrário, temos o sucateamento da Funai (Fundação Nacional do Índio) e o enfraquecimento dos órgãos de fiscalização. Institucionalmente, esse governo fragilizou o apoio aos povos indígenas e alimentou o discurso de ódio contra nossas populações”, avalia.

continua após o anúncio

A guerra declarada por Bolsonaro, no entanto, não tem surtido o efeito de sufocar o desenvolvimento progressivo da identidade e do orgulho por parte das nações originárias. “A gente não se enxergava, disfarçava, falava que não era indígena, por conta do preconceito. Ninguém queria empregar um indígena, pelo tabu criado por uma sociedade colonial de que indígena não quer trabalhar”, analisa. “Era muito difícil ser indígena. Hoje está totalmente diferente, a gente consegue lidar.”

Eric Terena é exemplo vivo dessa transformação. Nasceu na capital sul-matogrossense no trânsito de sua família entre as terras das comunidades Terena e a cidade, movida por intensa interação política e social dentro e fora da comunidade. A falta de demarcação das terras Terena é para ele um dos motivos da alta evasão das aldeias para as cidades. Por outro lado, o vínculo com a capital propiciou educação para o jovem líder e sua irmã, atualmente cursando universidade e trabalhando no setor de saúde no Pará. Falando fluentemente português, ele conta que demorou a aprender o segundo idioma. 

continua após o anúncio

"Eu convivia muito com a cultura do povo Terena em casa, com idioma, religiosidade, saberes tradicionais, modo de ver o mundo. Na sala de aula, isso era completamente negado. Era muito difícil se auto-afirmar como indígena na cidade”, descreve. Mas os obstáculos não o privaram da tomada de consciência: “Apesar de não estar dentro de uma comunidade, eu tinha afinidade com outros jovens indígenas que também estudavam na cidade. Tive esse pertencimento”.

Terena explica a criação do projeto Mídia Índia, que desenvolve paralelamente com o trabalho como músico: “Ninguém realmente falava sobre nós. Não há indígenas dentro da comunicação. A Mídia Índia veio como um meio de fazer a conexão da mídia hegemônica com a nossa comunicação”. Em sua passagem por redações de grandes portais nacionais, a dificuldade de pautar reportagens sobre questões indígenas ou territoriais era total, sempre sob o pretexto de que o tema seria “muito complicado”.

continua após o anúncio

A reação dos bolsonaristas à Mídia Índia é de “muita chacota”, segundo Terena: "Publicam que perdemos identidade, naquela linha de direita de que indígena que está sendo integrado à sociedade já não é mais indígena”. Estereótipos como o que ironiza o “índio de iPhone” não são levados em conta: “As pessoas acham que, por sermos indígenas, temos que viver isolados, mas hoje lutamos por nossos próprios direitos usando ferramentas tecnológicas como celular e computador”.

Um dos objetivos da Mídia Índia é dar visibilidade às candidaturas indígenas em 2022, mas o comunicador afirma não ter pretensões políticas individuais. “Nosso grupo de jovens influenciadores indígenas trabalha diretamente para fortalecer nossas candidaturas, mas a gente tem uma afinidade muito distante com a política, comparada a nossos líderes e caciques”, diz. Eric Terena celebra a promessa do candidato presidencial Luiz Inácio Lula da Silva de criar o Ministério dos Povos Indígenas, mas diz que o movimento reivindicará espaços independentemente de quem estiver no governo a partir de 2023. “Se Lula prometeu deve cumprir, senão o movimento vai para cima”, finaliza.

continua após o anúncio

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:.  

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247