Elias Jabbour: modelo chinês permite empresário enriquecer sob regulação e trabalhador fazer greve

Reeleito presidente da China, Xi Jinping tem como desafio concreto uma reforma democratizante do sistema empresarial, diz cientista econômico; veja vídeo na íntegra

Elias Jabbour
Elias Jabbour (Foto: Thomas Peter/Reuters | Reprodução)


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Pedro Alexandre Sanches, do Opera Mundi - O cientista econômico Elias Jabbour, especialista em questões chinesas, afirma que uma reforma democratizante do sistema empresarial será o principal desafio concreto de Xi Jinping, reeleito neste domingo (23/10) para um terceiro mandato como presidente da China e secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC). 

Em entrevista a Breno Altman no programa 20 MINUTOS desta segunda-feira (24/10), o especialista nomeou o atual modelo chinês de socialismo embrionário, planejado dentro de uma compreensão “ultrassofisticada” do marxismo. 

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Nesse sentido, ele destaca a China como o país mais aberto às greves de trabalhadores no mundo atual e afirma que a burguesia mais afeita à liberalização financeira tende a ser extinta no país. 

“As big techs são o setor da burguesia que Xi Jinping nomeou como seu inimigo estratégico. Não é proibido ficar rico, mas, quanto mais rico você ficar, mais regulado você vai ser. Só vai ser rico quem tiver projetos úteis ao Estado e à sociedade. Caso contrário não serve”, descreve, citando como exemplo das transformações em curso o processo de estatização do setor imobiliário, que segundo ele é o maior processo de estatização da história da humanidade.

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O professor rejeita classificações predominantes no Ocidente sobre o modelo desenvolvido por Xi Jinping desde 2012, com denominações como socialismo de mercado e capitalismo de Estado. “Chamar algo de capitalismo de estado é feio, porque o capitalismo, a moeda e as instituições de mercado são criações estatais. Todo capitalismo é de Estado, até o neoliberal”, demarca.

Jabbour oferece sua própria conceituação: “existe hoje um bloco histórico de poder na China que orienta a sociedade no rumo da construção do socialismo, assentando numa base material que é a grande propriedade pública dos meios de produção, com um setor privado completamente dependente. É outro tipo de governança corporativa”. 

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Para ele, não há precedentes para essa experiência, já que o "socialismo que aparece na China hoje não está em nenhum manual. É um socialismo que se caracteriza pela razão transformada em instrumento de governo”. 

Nos últimos dez anos, 150 milhões de trabalhadores chineses se urbanizaram, e as greves que acontecem como consequência dessa urbanização obrigam o PCCh a uma postura responsiva em relação à classe trabalhadora: “A China é hoje o país do mundo que tem mais greves, e isso é excepcional. Os trabalhadores ocuparam de vez um bloco de poder no país, e nos últimos dez anos os salários urbanos aumentaram 300%, acima da produtividade, do PIB e da inflação. A luta de classes é fundamental para o avanço do socialismo, e o operário urbano está sacudindo a sociedade chinesa em grandes greves”.

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Altman questionou se o regime atual poderia ser considerado imperialista, e o professor elencou motivos para afirmar que esse não é o caso. “A China não exerce a violência como forma de atingir seus interesses, não influi em assuntos internos de outros países. As ferrovias que constrói na África estão ligando muito mais os países africanos entre si, unificando o mercado interno africano, do que formando corredores de exportação”, disse.

Jabbour chama o fenômeno de globalização inclusiva, ligada ao crescimento econômico do país nas últimas quatro décadas. Por trás desse crescimento, estaria o próprio capitalismo ocidental, crescentemente fragilizado em seu processo de financeirização: “houve uma precipitação histórica que levou a China a ter condições de oferecer ao mundo uma outra globalização, ao invés dessa que está aí”.

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O capitalismo ocidental segue cumprindo papel decisivo para a unificação e o fortalecimento da China, afirma: “entre liberais chineses, os socialistas de mercado, o que se diz é que não há mais condições de diálogo com Estados Unidos. Os Estados Unidos conseguiram unir a China, de liberais a conservadores”. 

No campo das relações entre China e Brasil, Jabbour refuta que a vitória de Jair Bolsonaro pudesse ser mais interessante para o país oriental que a de Luiz Inácio Lula da Silva. Ele defende que um novo governo do petista priorize a relação entre os países. 

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“Uma relação desse nível não pode ser conduzida por um diplomata, tem que ser político de altíssimo calibre, com visão estratégica. A China pode equipar o Brasil de ferrovias de alta velocidade em troca de petróleo, soja e ferro, como está fazendo com o Irã, por exemplo. Isso exige um nível de sofisticação estratégica que não existe na esquerda brasileira hoje”, lamenta.

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