Dandara Pedrita, estudante transexual: "saímos da escola porque somos expulsas pelo preconceito"

À TV 247, ela diz que falta incentivo ao respeito à diversidade nas escolas. Pedagoga e mulher trans, Alexandra Braga também chegou a deixar os estudos por conta do preconceito

Dandara Pedrita (esq.)
Dandara Pedrita (esq.) (Foto: Reprodução)


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Por Ricardo Nêggo Tom, 247 - O caso da estudante transexual Bárbara, de 16 anos, que foi espancada por colegas do colégio onde estudava em Mogi das Cruzes (SP), trouxe ao programa “Um Tom de resistência” o debate sobre violência transfóbica nas escolas. Um problema grave que não deve ser tratado apenas como pauta identitária, mas como causa humanitária. Principalmente no Brasil, o país que mais agride e mata transexuais no mundo.

Para Alexandra Braga, 44 anos, pedagoga e vice-presidente do Fórum Mogiano LGBT, “entrar nesse diálogo é falar sobre a minha própria experiência de vida. Quando falamos de exclusão e de evasão escolar, é por conta desse bullying que ainda acontece dentro das escolas. Eu fui vítima disso, como mulher transexual. Devido a tanta pancada que eu tomei na escola, aos 15 anos de idade, quando a minha transexualidade já estava aparecendo no meu corpo, eu tive que me evadir porque não aguentava. E a escola, em si, não conseguia trabalhar isso e de alguma maneira sanar essa violência psicológica e física. Foi quando eu entrei na prostituição, que não é um ambiente ideal, mas foi onde eu me senti acolhida por outras meninas transexuais iguais a mim. E ainda hoje, em 2022, eu não vejo mudanças. Esses atos ainda continuam acontecendo dentro das escolas, porque esse problema ainda é pouco discutido pelo corpo docente e pela gestão”.

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A estudante Dandara Pedrita, diretora de movimentos sociais da UBES, também já foi vítima de transfobia na escola e, por pouco, não teve que abandonar os estudos. No seu caso, o agressor era seu professor de matemática no último ano do ensino médio, que se recusava a chamá-la pelo nome social durante a verificação de presença dos alunos. “Quando usamos os termos ‘evasão’ ou ‘abandono’ pode soar como se nós, pessoas trans e travestis, quiséssemos sair do espaço escolar. Claro que essas palavras são formas de dar um significado às estatísticas que são importantes para entender esse processo de expulsão que, na verdade, é o que acontece, tanto por parte dos profissionais da educação, como dos nossos próprios colegas que praticam preconceito e violência física e psicológica contra nós. Você estar em um espaço e não conseguir permanecer nele, porque as pessoas não têm respeito por você, é um processo de expulsão. Nós saímos da escola porque somos expulsas pelo preconceito de uma sociedade que não nos respeita como somos. Não é uma questão de falta de empatia ou de tolerância, até porque nós não devemos ser toleradas. As pessoas têm a obrigação de nos respeitar. Vivemos uma realidade onde 82% das pessoas trans e travestis são obrigadas a abandonarem a escola ainda no ensino básico. Ou seja, desde o início da nossa vida educacional somos obrigadas a nos retirar do espaço escolar por conta do preconceito”.

A prostituição como “única” alternativa de sobrevivência para mulheres transexuais em consequência do processo de evasão escolar e da exclusão do mercado de trabalho também foi analisada pelas convidadas. Dandara explica que “essa questão da prostituição, desde sempre esteve muito presente na vida de travestis e transexuais. Isso também gera um debate dentro do espaço escolar. Muitas vezes, não somos aceitas porque nossos corpos são super sexualizados e as pessoas ainda acham que aquele espaço não é o nosso. Muito desse preconceito e de querer nos expulsar desse espaço é porque acham que representamos uma imagem ruim associada a prostituição. Não que a prostituição seja algo ruim, porque ela já salvou a vida de muitas pessoas trans que não tiveram oportunidade”. Alexandra lembra que recorreu à prostituição por falta de oportunidades e, por meio dela, aprendeu a se defender da violência e do preconceito da sociedade. “Estando na prostituição eu fui aprendendo que a sociedade hétero, normativa e branca, que não me queria dentro de suas empresas e que não queria conviver comigo, era a que consumia o meu corpo e que a noite me procurava para consumir o meu sexo. Então eu comecei a entender que vivo em uma sociedade hipócrita e falsa moralista, que não me quer durante o dia mas me quer para exercer a sua sexualidade, muitas vezes nojenta, que eles escondem”.

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A violência homofóbica e transfóbica praticada por adolescentes dentro do ambiente escolar, como resultado de uma educação familiar, religiosa e conservadora que, além de não ensinar o respeito às diferenças, estimula o preconceito e a intolerância, precisa ser discutida pela sociedade dita civilizada. Dandara Pedrita desabafa que “não basta apenas sermos caçadas nas ruas e em outros espaços, mas hoje também temos que viver sendo agredidas, ou até mortas, dentro do espaço escolar. Já tivemos o caso de uma menina trans que foi agredida por querer usar o banheiro que ela se identifica. Isso é mais um problema. Nós não podemos nem fazer as nossas necessidades fisiológicas na escola. E isso não é só uma questão de criação familiar. Embora a família tenha participação fundamental na formação de uma pessoa cidadã”. Alexandra Braga acredita que o respeito precisa pautar todas as relações. “Nós queremos respeito. Eu não preciso gostar de ninguém, mas não tenho o direito de agredir, de violentar. Infelizmente, com todo respeito às religiões, muitas pessoas começaram a usar a Bíblia como uma arma em nome de Deus, para nos atacar e dizer que não merecemos viver em sociedade. Isso é o mesmo que dizer: mate mesmo, espanque, porque essas pessoas não têm que estar entre nós”.

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