Breno Altman: Petro é favorito, mas segundo turno será difícil na Colômbia

Coalizão de esquerda enfrentará união de toda a direita, sob comando do uribismo

Gustavo Petro
Gustavo Petro (Foto: Reuters)


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Opera Mundi - A Colômbia foi às urnas domingo (29/05), no primeiro turno das eleições presidenciais de 2022. O jornalista Breno Altman fez uma análise, no 20 MINUTOS desta terça-feira (31/05), sobre o resultado e o que se pode esperar para a segunda volta da disputa eleitoral . 

Em sua avaliação, Altman destacou que a coalizão progressista em torno do candidato Gustavo Petro é favorita, mas terá grandes dificuldades para levar a esquerda ao poder pela primeira vez na história da Colômbia.

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No primeiro turno, ficou em primeiro lugar o candidato do Pacto Histórico com 40,32%. Petro irá disputar o segundo turno contra o direitista Rodolfo Hernández, da Liga de Governadores Anticorrupção, que obteve 28,15% dos votos. Na terceira posição, outro candidato de direita, Federico Gutiérrez, da Equipe por Colômbia, apoiado pelo Centro Democrático, o partido de Álvaro Uribe e do atual presidente Iván Duque. 

Foram às urnas mais de 21 milhões de eleitores. O voto no país vizinho é facultativo e a participação foi parecida com a de 2018, que alcançou 53,40%, e bem acima de 2014, antes do Acordo de Paz, de 2016, quando apenas 39,74% apareceram nos postos de votação.

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O segundo turno será disputado no dia 19 de junho. Imediatamente após o anúncio do resultado da primeira volta, Gutiérrez e todas as lideranças do uribismo se alinharam a Hernández contra Petro. O bloco potencial de direita, se forem às urnas os mesmos eleitores, alcança um patamar entre 52 e 54%, ao qual poderia ser somada parte dos que votaram por Sérgio Fajardo, que obteve 4,20% dos votos. 

Para Altman, o que se coloca pela frente é um segundo turno difícil para Petro e sua vice, Francia Márquez, na luta para levar a esquerda ao comando do país. 

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Contextualizando o atual cenário político na Colômbia, o jornalista detalhou o uribismo, corrente hegemônica do campo conservador do país, encabeçada por Álvaro Uribe, que presidiu o país entre 2002 e 2010. O chefe direitista elegeu o sucessor Juan Manuel Santos, presidente entre 2010 e 2014, que dele se afastou ao optar pelo Acordo de Paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). 

Mas o uribismo conseguiu recuperar a Presidência em 2018, elegendo Duque, o atual mandatário, em um segundo turno disputado contra o mesmo Petro que venceu a votação deste domingo.

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Filho de uma família de fazendeiros prósperos, Uribe, a exemplo de seu pai, tinha notórias ligações com o Cartel de Medellin e os grupos paramilitares que enfrentavam as organizações guerrilheiras. Altman lembrou que originalmente era um homem de posições moderadas e defensor das negociações de paz, mas passou a se apresentar como um “linha dura” contra a guerrilha, elegendo-se pela primeira vez à Presidência. 

“Seu papel foi muito claro: apoiado pela alta oficialidade das Forças Armadas e pelos Estados Unidos, reforçado por suas ligações com os grupos paramilitares, abrir negócios para o complexo bélico-industrial e legalizar a narcoburguesia como uma fração normalizada das classes dominantes do país”, interpretou o jornalista. 

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Combatendo a guerrilha, especialmente as Farc, Uribe colocou vozes antigas da burguesia colombiana sob seu domínio, dotando o Estado colombiano de evidentes feições neofascistas. Não desmontou a institucionalidade liberal, mas desenvolveu um Estado policial sob aparência constitucional, destinado a reprimir tanto a oposição guerrilheira quanto os movimentos sociais, recorrendo a brutais expedientes de extermínio, particularmente no campo.

Altman observou que Uribe se decidiu por apoiar Gutiérrez, mas logo se deu conta que apostar todas as fichas nessa candidatura poderia ser um erro, permitindo que Petro unificasse todo o campo oposicionista já no primeiro turno. Por baixo dos panos, decidiu ter um plano B, Hernández, empresário da construção civil. 

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A candidatura de Hernández bloqueou o crescimento de Petro, ao mesmo tempo em que enfraqueceu Gutiérrez. Contra o empresário, apresentado como uma “direita moderada” e fora do jogo político, o candidato pelo Pacto Histórico deverá ter maiores dificuldades de arregimentar novos apoios. 

Por outro lado, Petro se beneficia do Acordo de Paz de 2016, já que "sem a guerra civil, ficou mais frágil o combate propagandístico da direita, associando a esquerda à guerrilha, às Farc e aos seus supostos crimes”, disse Altman, declarando que o "tema que ocupou o centro do debate deixou de ser o confronto armado para ser a situação econômica, social e humanitária".

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Segundo o fundador de Opera Mundi, ainda não está claro o cenário, mas os primeiros passos de Petro no segundo turno vão no sentido de esclarecer que, na verdade, Hernández é Uribe, defendendo, ainda com maior afinco, uma agenda de mudanças profundas. 

“Será uma tremenda batalha. Vamos acompanhar com toda a atenção e, claro, torcendo para que a esquerda chegue ao governo pela primeira vez no país vizinho”, finalizou.

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