Amir Saleh: extrema direita é incompatível com princípios maçons

Integrante da Irmandade Progressista afirma que maçonaria advoga liberdade religiosa, política e de pensamento; veja vídeo na íntegra

Amir Saleh
Amir Saleh (Foto: Reprodução)


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Por Pedro Alexandre Sanches, do Opera Mundi - A maçonaria se fundamenta em princípios de liberdade religiosa, política e de pensamento, de acordo com o maçom Amir Saleh, entrevistado pelo jornalista Breno Altman no programa 20 MINUTOS desta terça-feira (11/10) para falar sobre a repercussão, em meios religiosos evangélicos e católicos, de fotos do presidente Jair Bolsonaro em uma loja maçônica. As imagens, diz, retratam uma visita do então pré-candidato à presidência à Loja Esfinge, em Volta Redonda (RJ), em 2017. Na opinião de Saleh, é imprópria a associação entre Bolsonaro e a maçonaria: “Considero a extrema direita incompatível com os princípios maçônicos. Em tese, todos os maçons têm que ter liberdade para defender sua convicção religiosa e política”.

Saleh se esforça para desmentir a desinformação difundida no contexto eleitoral e as associações estabelecidas em setores religiosos entre maçonaria, satanismo e ocultismo. Altman perguntou se existem correntes progressistas na instituição. “Sim, eu represento uma delas, a Irmandade Progressista. Existem outras, como os Maçons pela Democracia. Estamos tentando nos estruturar mais como movimento social”, responde, afirmando que a maçonaria se autodefine como uma instituição “iniciática, filosófica, filantrópica, progressista e evolucionista”.

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Ele admite, no entanto, que o conservadorismo tem tido voz forte na organização. “No meu entender, isso foge um pouco ao senso. Se é uma sociedade evolucionista e progressista, como é possível ser conservadora, no sentido de conservação das estruturas de exploração?”, pergunta. A pecha conservadora começou a se colar à maçonaria no Brasil a partir da instituição do Estado Novo, em 1937, segundo Saleh: “Getúlio Vargas fechou as lojas maçônicas e houve um progressivo endireitamento. A pá de cal foi o golpe de 1964. Aí houve intervenção direta dos golpistas, colocação de pessoas inadequadas em cargos de direção”.

Segundo o maçom, existe um movimento espalhado pelo Brasil pela restauração dos princípios progressistas e evolucionistas da maçonaria, para retomar a vinculação histórica da instituição com movimentos revolucionários como a Revolução Francesa ou com os ideias independentistas e abolicionistas no Brasil do século 19.

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O fundamentos da oposição entre a maçonaria e a Igreja Católica remontam a 1738, quando o Papa Clemente XII proibiu católicos de serem membros de lojas maçônicas. Em 1983, o futuro papa Josef Ratzinger afirmou que os fiéis pertencentes às associações maçônicas vivem em estado de pecado grave. Segundo Saleh, o que motivou a bula papal  de 1738 foi o incômodo causado pelas ideias maçônicas junto às monarquias absolutistas em crise. 

Ele contesta que a maçonaria seria anticristã ou incompatível com a religião: "Dentro da maçonaria há cristãos, que se dividem entre católicos e evangélicos, mas também budistas, gente do candomblé, da umbanda, espíritas, de todas as religiões”, em especial no tempo presente: “A Igreja Católica se conforma e tolera a maçonaria, por ter muitos maçons entre seus membros. Hoje em dia não vejo retaliação católica, só em alguns setores evangélicos. Mas a maçonaria está está cheia de evangélicos também”. Os ateus ficam de fora dessa norma. “Não faz muito sentido um ateu participar, porque um dos princípios da maçonaria é a admissão de um princípio criador”, justifica.

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No Brasil, uma das raízes da repulsa religiosa pela maçonaria seria a Questão Religiosa, na segunda metade do século 19. “A oposição aconteceu porque a maçonaria defendia a separação entre Estado e igreja e abolição da escravatura, supremo pecado”, diz. Houve lojas em São Paulo que só admitiam senhores de escravos se os alforriassem, afirma. “As justificações pseudo-religiosas e doutrinárias não correspondem à realidade. A má vontade se deve a questões sociais pelas quais a maçonaria luta desde sempre.”

Saleh contesta também a ideia, ligada à profusão de políticos maçons, de que a maçonaria exista com o objetivo de exercer o poder: “É uma organização que tenta influenciar o poder, com várias formas de participação política, mas não exercer o poder diretamente. Até onde sei nunca aconteceu”. Afirma que seus membros são livres pensadores e valorizam o debate democrático: “A maçonaria não é dogmática. Sairia do ideal iluminista de discussão e livre pensamento”. 

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O regramento moral existe, mas não é proibitivo. “A maçonaria exige amor à família, fidelidade à pátria e obediência à lei”, resume, enumerando princípios morais que poderiam ser interpretados como francamente antibolsonaristas: “A tolerância enquanto virtude moral e respeito pelo indivíduo é um de nossos princípios fundamentais. Renunciamos à utilização da força para quaisquer objetivos e condenamos privilégios e regalias. Não ao sectarismo político, religioso e racial. Não à ignorância, à superstição e à tirania".

Tenta desmentir também a ideia comum de que a maçonaria discrimina mulheres: “Existem organizações exclusivamente masculinas, exclusivamente femininas ou que admitem homens e mulheres As que admitem apenas homens são muito maiores, então existe uma quantidade muito maior de maçons homens".

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Por fim, Saleh busca desanuviar as vinculações satânicas, em especial devido à associação corrente entre maçonaria e a imagem medieval do Baphomet, um ídolo medieval pagão com cabeça de bode. “Não é uma imagem maçônica. Surgiu uma conversa de que maçom é como bode, que ouve um segredo e nunca o revela a ninguém. Durante a Inquisição, maçons foram torturados e não revelaram segredos, diziam que era como tentar falar com o bode”, contesta.

Novamente, na interpretação do maçom progressista Amir Saleh, tais associações surgiram como tentativa de controle de movimentos sociais por parte da Igreja Católica. Por sinal, a organização remonta às corporações de ofício da Idade Média, em suas palavras “uma espécie de sindicato”: “A maçonaria existiu durante o feudalismo principalmente para as grandes construções europeias de castelos e templo. Tinha pedreiros, arquitetos, projetistas, cortadores de pedra”.

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