Ailce Moreira: “segmento neopentecostal faz da instituição religiosa um balcão de negócios”

“Setores evangélicos exploram a fé das pessoas”, afirma integrante da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, Ailce Moreira

Evangélicos | Ailce Moreira
Evangélicos | Ailce Moreira (Foto: Divulgação)


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Por Ricardo Nêggo Tom - O racismo religioso é um tema que vem sendo cada vez mais discutido na nossa sociedade. Definido como intolerância para negar a existência do racismo estrutural na nossa sociedade, o preconceito contra religiões de matriz africana também se mostra fortemente presente no ambiente político. Principalmente, por essas religiões serem o principal alvo do projeto de poder neopentecostal evangélico que usa Deus como instrumento de manipulação social e o evangelho como um balcão de negócios. A jornalista e integrante da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, Ailce Moreira, que foi candidata a deputada estadual pelo PSOL em Pernambuco, considera que “é preciso ressaltar que quando falamos da igreja brasileira, estamos falando de igrejas e não de um movimento único e homogêneo. Nós estamos falando de igrejas e de pessoas diferentes. E o segmento neopentecostal é o que mais nos preocupa, porque ele que faz da instituição religiosa esse balcão de negócios e uma forma de explorar a fé das pessoas, manipulando o comportamento social delas através de uma agenda fundamentalista que tem o bolsonarismo como diretriz. E eu falo como uma cristã evangélica e progressista, que é uma crítica assídua da instituição, pois isso contradiz a mensagem do evangelho, que é uma mensagem de generosidade, partilha e de amor. E o que temos visto são lideranças religiosas se unindo ao projeto de poder capitalista, que precisa que umas pessoas sejam exploradas para que outras desfrutem de privilégios”.

A Iyalorixá e produtora cultural Janielly Azevedo, que disputou uma vaga ao Congresso Nacional também pelo PSOL em Pernambuco, lembra que esse projeto de poder neopentecostal teve início no final dos anos 1990, quando essas igrejas começam a penetrar nas periferias e nas camadas mais pobres da população. “O ano é 1997, quando essas igrejas pentecostais e neopentecostais começam a adentrar nas comunidades, onde o aluguel é mais barato para elas se instalarem e tem muita gente sofrendo com a ausência do poder público. Isso facilitou o acesso. Logo depois desse processo de instalação, essas igrejas começaram a cuidar socialmente dessas áreas, suprindo a ausência do estado. A partir disso, as lideranças que tinham dentro dessas comunidades seguem outro rumo e aquela população fica à mercê dessas novas lideranças. Com isso, a visualização da cultura daquele local começa a sofrer consequências. Por exemplo, os terreiros existentes nessas comunidades começam a ser vistos de forma diferente, porque as lideranças religiosas dessas igrejas começam a demonizar e atacar a fé de matriz africana. A umbanda, o candomblé, a jurema. E esses ataques são violentos, colocam fogo nos terreiros, apedrejam esses locais de culto e até atentados à bala ocorrem. Até as crianças das nossas religiões são atacadas nas escolas em nome dessa única verdade religiosa que determina que só eles serão salvos e os outros irão para o inferno”.

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Janielly associa o aumento dos crimes de intolerância e racismo religioso à ascensão de Jair Bolsonaro ao poder. Ela desabafa dizendo que “os terreiros são espaços onde são acolhidas pessoas que a maioria das pessoas não acolhem. E nesse período temos sofrido ataques constantes na nossa casa, com bombas e pedradas, porque temos as lideranças que atualmente governam o país incitando o ódio contra nós, dizendo que fazemos macumbeira, que não somos de Deus, que somos do demônio. Sendo que nós não pregamos santificação, demonização e nem salvação. Acreditamos que cada um colhe o que planta. Hoje. Nós estamos com medo de sair na rua com a nossa indumentária de fé e sofrermos algum atentado contra a nossa vida . Sempre sofremos com olhares e com demonização, mas agora os ataques são contra o nosso corpo. Passamos a pensar se vale a pena sair de casa para visitar um terreiro próximo vestindo a nossa roupa religiosa, e durante o percurso encontrar algum fanático que vai nos atacar fisicamente. Isso é muito dolorido, e é o resultado de termos uma liderança no governo que coloca o Deus cristão acima de tudo, apagando todas as outras religiões e as classificando como erradas e diabólicas”.  

Ailce Moreira revela que, por ser de formação evangélica, um dia também acreditou nessa ideia de demonização das religiões de matriz africana, algo que hoje, mesmo sendo evangélica, ela ajuda a combater em defesa da laicidade do estado. “Eu tenho fé que os evangélicos fundamentalistas não irão tomar conta dessa nação e estamos na luta para que isso não aconteça. Um dia eu também caí nesse conto do vigário, por ter crescido e ter sido educada dentro desse conservadorismo religioso evangélico. Mas depois de um aprofundamento e de uma maior vivência espiritual e de uma maior aproximação com o Deus do evangelho, que é um Deus que não se coloca acima de todos, mas se coloca no meio de nós, porque, se assim não fosse, a vinda de Jesus Cristo não faria sentido, porque ele é a encarnação do amor, eu mudei a minha visão”. Ailce lembrou de uma fala do pastor Silas Malafaia, onde ele pede para que os fiéis de sua igreja orem para que Jesus “trave” as urnas eletrônicas, caso Bolsonaro esteja sendo prejudicado por elas. Para ela, “não faz sentido alguém solicitar a essa divindade de amor que ela faça uma manobra sob a égide de um milagre, para fraudar o sistema democrático de um país, para favorecer os mais ricos e prejudicar os mais pobres”.

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