Tombini on the road

Pensar que alguém como Alexandre Tombini, um homem que mal expressa emoções em público, poderia tomar uma atitude inconsequente e arriscada à frente do Banco Central do Brasil é libertador



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Cidadão modelo. Esposa, dois filhos, carreira estável, estudos no exterior, pós-graduação, reputação de lúcido e equilibrado, até chegar ao topo, à presidência do Banco Central, e, enfim, chutar o balde, como se esse sempre tivesse sido o plano, e cometer a loucura, a transgressão absoluta e insana: baixar a taxa básica de juros do país em meio ponto percentual. O crime perfeito, mais ousado que passar 10 horas dentro de um banco e pedir comida chinesa enquanto arromba cofres na Avenida Paulista, mais cruel até do que abrir um banco.

O roteiro é bom, vai. Não entremos aqui no mérito do acerto ou não da medida, que vamos acabar nos perdendo na estrada, mas pensar que alguém como Alexandre Tombini, um homem que mal expressa emoções em público, poderia tomar uma atitude inconsequente e arriscada à frente do Banco Central do Brasil é libertador. Foi essa a impressão inicial deixada pela última reunião do Copom, de que o Comitê tinha sido tomado por Sal Paradise, Dean Moriarty e Carlo Marx (ou Kerouac, Cassady e Ginsberg) e se jogado ao sabor do destino nas compras a prazo, sem medo de ser feliz.

Mas as análises posteriores, que passaram não apenas a cogitar o acerto do Banco Central, mas a identificar a existência de um raciocínio plausível na essência da decisão, jogaram por terra toda a adrenalina daquele emocionante salto de paraquedas dos juros. Tombini e sua turma tomaram a decisão (certa ou errada) com base em preceitos econômicos, para conter os efeitos da crise internacional no Brasil, e nossa única esperança de emoção é de que tenha rolado uma coação (ou sedução, no melhor dos cenários) do perdulário Palácio do Planalto nessa história.

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Não, eles não são aventureiros. Podem estar errados, podem ser incompetentes, mas não cruzariam o país pegando carona e fazendo malabares com a taxa Selic. Melhor assim... Continuamos seguros pelo menos de que o Banco Central não vai cometer loucuras, de que devemos contar apenas com o erro, e nada mais.

Aí a gente volta pra casa e liga a tevê, para logo depois dormir e acordar para voltar ao trabalho e depois para casa, para ligar a tevê à espera de que algo aconteça, algo como a redução alucinante, e de uma vez só, da taxa básica de juros em mais de um ponto percentual. Vai que eles desbundaram mesmo... Ei, Tombini, topa uma roleta russa monetária?

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