"Todo mundo quer uma taxa de juros menor", diz Gabriel Galípolo, 'número 2' da Fazenda

Galípolo diz que autoridades monetárias do exterior são mais compreensíveis em relação à necessidade de não colocar os países em recessão por conta de uma luta contra a inflação

Gabriel Galípolo
Gabriel Galípolo (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)


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247 - Secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo falou ao Estado de S. Paulo sobre a atual taxa de juros mantida pelo Banco Central (BC), de 13,75% ao ano - a mais alta do mundo. Ele disse conversar com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, "quase que diariamente" e afirmou que a Fazenda e o governo Lula (PT) trabalham para melhorar o ambiente e "evitar uma crise de crédito no país".

Todas as medidas econômicas que o governo vem lançando - o Desenrola, relançamento do Minha Casa, Minha Vida, um novo Bolsa Família, correção na tabela do Imposto de Renda e aumento real do salário mínimo - segundo Galípolo, visam melhorar o ambiente econômico brasileiro, combatendo a inflação por dentro e permitindo uma redução na taxa de juros.

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A prioridade, de acordo com o 'número 2' da Fazenda, é atender "quem mais precisa": "Vamos começar pelo caso do Desenrola. A gente tem uma situação bastante complexa do ponto de pessoa física. Praticamente 40% da população economicamente ativa está negativada do ponto de vista de crédito. São em torno de 70 milhões de pessoas marginalizadas do processo de crédito. É uma situação muito grave e preocupante. E praticamente metade dessas negativações ocorreram nos últimos 12 meses, o que demonstra que essa deterioração vem ocorrendo de maneira bem acelerada e rápida nos últimos meses – o que demanda uma ação rápida por parte do governo. Por isso que desde o início, tanto o ministro Haddad quanto o presidente Lula têm cobrado que a gente consiga dar uma resposta a partir do Desenrola para produzir algum tipo de alívio para essas famílias e pessoas que estão endividadas. E as outras medidas também se inserem sob essa mesma lógica. Então, desde a medida que foi tomada com a questão do Imposto de Renda para permitir que as pessoas que recebem até em torno de R$ 2.640 não sejam oneradas e também a questão do salário mínimo estão alinhadas na mesma direção: de tentar produzir alívio para as pessoas que mais precisam.

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"Se tiver em algum ponto do mercado uma restrição de liquidez que possa gerar algum tipo de problema um pouco mais amplo. Hoje, se você conversar, por exemplo, com a Febraban , ela vai te passar um cenário menos preocupado com pessoa jurídica do que com pessoa física, que é o que nós estamos endereçando com o Desenrola. Isso não quer dizer que nós não estejamos acompanhando também a situação de pessoa jurídica e pensando em programas e políticas adequadas para ter certeza de que, do ponto de vista financeiro, vai se ter uma saúde. O programa Desenrola está saindo na frente justamente porque não só o governo, mas a Febraban sinaliza hoje que a maior preocupação é com pessoa física e não com pessoa jurídica. Mas se você analisar, por exemplo, durante a covid, a gente teve o Pronampe, que foi desenhado justamente para oferecer garantias e garantir que empresas teriam acesso a crédito", complementou.

Galípolo avaliou que "o crédito é a decisão crucial nessa economia" e garantiu que "o governo e a equipe econômica estão totalmente focados em evitar uma crise de crédito no País". "Se você pegar todos esses programas, eles são envolvidos com isso: Desenrola, Minha Casa Minha Vida, um novo Bolsa Família, o Imposto de Renda, o salário mínimo... todos eles são rios que correm para o mesmo mar. Eu acho que todas as lógicas de antecipação estão associadas a isso".

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Segundo Galípolo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sabe que o novo arcabouço fiscal a ser apresentado pelo Executivo também "colabora para dar uma previsibilidade no cenário de médio e longo prazo – o que pode permitir, inclusive, que o mercado derrube as taxas de juros longas no mercado secundário. Uma suavização nas taxas de juros longas permite uma melhoria no ambiente de liquidez para as empresas que captam, porque determinam o benchmark para todas as empresas. Então, perceba que o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Desenrola, Imposto de Renda, salário mínimo, regra fiscal antecipada e uma reforma tributária convergem para o mesmo sentido".

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O 'número 2' pontuou que os juros altos no Brasil seguem uma tendência mundial, mas ponderou que, no exterior, autoridades monetárias se mostram mais compreensíveis em relação à necessidade de garantir que os países não entrem em recessão por conta de uma luta contra a inflação. "É muito importante a gente lembrar que o Brasil é uma economia inserida na economia global. Hoje existe muita discussão e todo mundo está olhando para como as autoridades monetárias lá fora vão se comportar no combate à inflação. A gente percebe lá fora certa compreensão das autoridades monetárias, me parece, apesar de a gente estar vendo um discurso duro em algumas declarações de autoridades, de que não se pretende derrubar as economias para uma recessão para tentar combater muitas vezes uma inflação que tem elementos que dificilmente poderiam ser combatidos com uma taxa de juros muito alta ou com custo muito alto para a economia. Do nosso lado, qual é a grande vantagem? O Brasil tem um mercado grande, com capacidade de responder rapidamente. Daí a importância dos programas que a gente listou, que num prazo curto já estão formulados e já estão sendo colocados em prática. Então, tudo isso contribui para que não haja uma retração econômica, pelo contrário: a gente pretende garantir crescimento econômico".

Sobre Roberto Campos Neto, Galípolo contou: "falo com ele quase que diariamente. Estou com uma missão corporativa de, até o final do ano, ele ser criticado por todos os grupos bolsonaristas por estar excessivamente próximo à equipe econômica do PT. Essa é a minha missão até o final do governo. Temos muito diálogo com ele. Boa parte desse processo de monitoramento a gente faz em conjunto com ele".

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A taxa de juros de 13,75%, segundo o secretário-executivo, não agrada ninguém. "Eu acho que ninguém quer juros de 13,75%, mesmo para o mercado financeiro, não só para as empresas. O mercado financeiro assistiu a um crescimento do mercado secundário, no mercado de emissões de título de dívida, de acesso ao que a gente chama de mercado de capitais. E há uma dinâmica que é bastante importante: o valor dos ativos sofre com elevações da taxa de juros, porque é calculado enquanto um valor presente que desconta as receitas futuras esperadas que aquele ativo vai gerar a valor presente. Então, quanto mais alta essa taxa, menor o valor presente. Não é aquela dinâmica que muitas vezes aparece, de que juro alto é benéfico para o mercado de capitais, o mercado financeiro. Isso não é uma verdade absoluta. Eu tenho certeza de que todo mundo quer uma taxa de juros menor. E acho que o que o Ministério da Fazenda vem fazendo é construir as condições para que o juro seja mais barato – não só a taxa Selic, mas a taxa de juros que chega para população, para as empresas, na ponta. E que isso esteja alinhado com um projeto que está sustentado nesses três pilares: desenvolvimento econômico, social e ambiental".

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