Perspectivas para a economia em 2022 são ‘limitadas’ e apontam estagflação

Para o presidente do Conselho Federal de Economia, cenário mais provável é de crescimento perto de zero e inflação ainda incômoda

(Foto: Roberto Parizotti/CUT/Fotos Públicas)


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Vitor Nuzzi, da RBA - Depois de uma sequência de anos ruins, as perspectivas para 2022 seguem negativas, afirma Antonio Corrêa de Lacerda, presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon) e professor-doutor do Programa de Pós-graduação em Economia Política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para ele, o cenário mais provável é o do chamada estagflação, com crescimento perto de zero e inflação ainda expressiva.

Sobre a alta de preços, Lacerda afirma que o novo ciclo de altas dos juros, promovido pelo Banco Central, além de não resolver o problema, terá efeitos colaterais adversos. ” A questão chave é que a atual pressão inflacionária se caracteriza nitidamente em um choque de oferta e não de excesso de demanda!”, ressalta.

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Da mesma forma, a situação do mercado de trabalho não deve melhorar, na medida em que não haverá crescimento econômico. “Mais do que um problema social, o que por sí só já justificaria uma política pública anticíclica, é também uma questão econômica. Um desempregado a mais é um consumidor a menos.”

Depois de um primeiro ano fraco, um segundo ano devastado pela pandemia, um terceiro com estagnação, o que esperar do último ano do atual governo?

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As perspectivas de crescimento no ano vindouro são limitadas, por dois motivos: primeiro porque a atual desaceleração deixa poucos vetores para o crescimento em 2022: desemprego elevado, queda da renda real, inflação persistente, alta da taxa de juros, baixa no consumo e fraco nível de investimentos não são bons incentivadores do crescimento futuro. Segundo, estatisticamente, ao contrário de 2021, que herdou um efeito estatístico positivo de 3,6% de 2020, o impacto de 2021 para 2022 será próximo de nulo.

O quadro mais provável para 2022 é de estagflação: crescimento do PIB próximo de zero, inflação mais baixa que em 2021, mas ainda relevante. O risco de eventual recessão aumentará a depender de variáveis como eventual necessidade de novas medidas sanitárias de restrição em função das novas variantes da covid-19. O Auxílio Brasil, embora necessário, não será suficiente para impulsionar o consumo.

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A pandemia, obviamente, teve efeito sobre a economia brasileira. Mas nossa atividade já não andava baixa antes disso?

Sim, o desempenho após a recessão de 2015-2016 foi pífio, pouco acima de 1% ao ano, em 2017, 2018 e 2019. Em 2020, com os efeitos da pandemia e a péssima gestão do seu combate implicou uma recessão de quase 4% no ano. Assim, o crescimento de 2021 apenas nos devolve o nível de 2019, porém com desemprego muito mais elevado, queda na renda e uma inflação maior.

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Nos últimos anos, reformas como as trabalhista e previdenciária foram apresentadas como necessárias para, segundo se falava, criar ambiente favorável e proporcionar segurança jurídica, para que a economia crescesse e empregos fossem criados. Agora, se repete o discurso, com a reforma administrativa, por exemplo. Essas reformas tiveram algum efeito positivo ao país?

Prevalece uma espécie de autoengano no papel a ser desempenhado pelas chamadas reformas. Na verdade, elas têm tido pouco efeito para o fim desejado, porque, não apenas por ter sua expectativa de resultado superestimado, mas também porque o “conjunto da obra” não colabora. Ou seja, a combinação de políticas econômicas adotadas estão longe de representar uma alternativa de desenvolvimento.

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O que esperar, por exemplo, do mercado de trabalho? A taxa de desemprego parou de crescer, segundo o IBGE, mas a informalidade aumentou e a renda caiu.

Se somarmos os desempregos, mais os desalentados e os subocupados temos 30 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho no Brasil. Emprego e renda são variantes do nível de atividade. Como já temos uma situação desfavorável no final de 2021 e o crescimento da economia não ocorrerá, o quadro do mercado de trabalho tende a se manter retraído. Mais do que um problema social, o que por sí só já justificaria uma política pública anticíclica, é também uma questão econômica. Um desempregado a mais é um consumidor a menos. Como crescer sem mercado consumidor, lembrando que o crédito também está cada vez mais caro?

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E quanto à indústria? A produção acumula cinco quedas mensais seguidas e há anos perde participação no PIB. O Brasil precisa de uma política específica para o setor? A desoneração da folha, que acaba de ser prorrogada, foi positiva?

Não temos uma política industrial no país. Aliás, sequer temos ministério da indústria, uma vez que na prática foi extinto, com a fusão realizada pelo atual governo dos antigos ministérios da Fazenda, Planejamento, MDIC e Trabalho e Emprego, este último só recentemente desdobrado. O tema política industrial está totalmente fora da agenda. Desoneração de folha de pagamento, assim como medidas pontuais, são apenas paliativos que não respondem às grandes questões impostas pela revolução tecnológica da Industria 4.0 e as telecomunicações 5G, para citar dois exemplos.

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A inflação voltou a mostrar fôlego. As sucessivas altas da taxa de juros têm alguma eficácia, considerando que a inflação não decorre de consumo “excessivo”?

A pressão inflacionária recente tem “nome e endereço”. O aumento das cotações das matérias primas, especialmente petróleo e grãos (commodities) no mercado internacional associado à desvalorização do real têm pressionado os preços domésticos dos combustíveis, gás de cozinha e alimentação, dentre outros.

Fatores específicos do nosso mercado, que vão muito além da sempre apontada questão fiscal, também são relevantes: a política de paridade internacional dos preços praticada pela Petrobras, as estruturas de mercado em vários setores oligopolizados e a indexação, são alguns deles.

A questão da taxa de juros básica no Brasil representa um expressivo paradoxo, especialmente em face da situação em curso: diante da prevalência do Regime de Metas de Inflação e da inoperância de outros instrumentos de combate à inflação, o aumento da Selic se torna uma aparente alternativa única, com custos econômicos e sociais dramáticos!

A contradição presente é que a elevação de juros não irá resolver  o problema atual da inflação brasileira, embora produza vários efeitos colaterais adversos. A questão chave é que a atual pressão inflacionária se caracteriza nitidamente em um choque de oferta e não de excesso de demanda!

“Juro alto é um mecanismo clássico de combate às elevações de preço decorrentes de pressão de demanda, o que não é o nosso caso. Nossa situação é exatamente inversa. Há claros sinais de estagflação: inflação em alta, retração industrial crônica, elevada ociosidade da capacidade produtiva, desemprego expressivo e queda na renda”

O aumento dos juros não é neutro, provocando efeitos deletérios, no encarecimento do crédito e financiamento privados e na elevação do custo de rolagem da dívida pública. Isso aprofundará a queda de demanda, afetando negativamente os demais aspectos, com o agravante que dificultará a situação fiscal do País, assim como das famílias e empresas endividadas. Também favorece as aplicações financeiras em detrimento do investimento produtivo, o contrário do que precisamos!

Por fim, o atual governo já falou várias vezes em “retomada” e “recuperação em V”. O senhor vê sinais disso no horizonte?

Infelizmente, não. Todos os fatores já apontados denotam um cenário de estagflação.

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