O prejuízo é vosso
Na dependência da matriz energética do petróleo, continuamos atrasados em relação ao primeiro mundo
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O petróleo é nosso e o prejuízo é vosso, esse parece ser o tradicional lema que a petrolífera Petrobrás, a partir da decantada operação do pré-sal, impôs altíssimo custo de capitalização, perdendo a concorrência em relação ao setor, desestimulando seus investidores.
Concretamente, a joia da coroa reinou por anos a fio e, na última década, apesar de incríveis descobertas, de poços explorados e da riqueza incalculável do pré-sal, par de alianças no ramo petroquímico e de etanol, sob o prisma financeiro e de mercado, não deslanchou.
Recente notícia dando conta sobre a queda do lucro em comparação ao ano de 2010 provocou colapso nas bolsas e a queda de quase 7,5 % num só dia do papel, tanto em relação às ações ordinárias quanto preferenciais.
Cumpre ao governo se convencer, ainda que tardiamente, que a administração deve ser encarada de forma séria e transparente, e os fundos estatais, por melhor que sejam, não podem empunhar a bandeira da privatização, criando desconforto enorme entre o mercado e os seus investidores.
Na verdade, a partir da descoberta do pré-sal, forçoso se torna reconhecer que o governo adotou política equivocada e míope em relação à capitalização, querendo descortinar, mesmo antes do investimento, partículas de dividendos, as quais não foram comprovadas por dados estatísticos ou de mercado.
Em suma, discute-se se o papel do Estado pode abranger empresas estatais, retirando-as do caminho normal e do leito natural de suas projeções.
Não se pretende aqui rebater ou defender o limite da privatização ou a sua real função, mas sim de demonstrar que, se nos tornamos autossuficientes na exploração e refino do petróleo, nos fizemos dependentes dos recursos catalisados pela empresa.
Há poucos anos, o papel dava pulos e saltos, atingindo valor superior a R$ 40,00 na ação preferencial, com a crise e a forma destemperada de se encarar e enfrentar o pré-sal, o mercado não digeriu o comando e houve um recuo, menor do que R$ 20,00 a própria ação referencial.
Bastou ser anunciado o resultado operacional da empresa, muito distante das perspectivas, com paciência enorme dos investidores e acionistas, para que, num só dia, recuasse tudo aquilo que nos últimos meses tentou recuperar do seu enorme prejuízo.
A leitura que pode ser tirada dessa lição significa, emblematicamente, um sinal no sentido de que o mercado, investidores e acionistas, recusarão qualquer indefinição, mudança de estratégia, ou desacerto gerencial-administrativo, cujo governo, na troca de cadeiras, procura fugir do assunto e minimizar o impacto, verdadeiro terremoto provocado no mercado acionário.
Conclusivamente, podemos avaliar que a lição foi passada à estatal e, fundamentalmente, ao governo, no sentido de reanalisar e reavaliar o potencial técnico de gestão e as formas de capitalização destinadas às riquezas do pré-sal.
Na dependência da matriz energética do petróleo, embora a maioria dos carros produzidos apresente biocombustível, continuamos atrasados em relação ao primeiro mundo, que já fabrica carros elétricos, a gás e baterias solares, além de energia eólica.
A repercussão do prejuízo é vosso não permite, por meio do petróleo é nosso, socializar as perdas para a sociedade e potencializar os lucros eleitorais para o governo.
Carlos Henrique Abrão é desembargador no Tribunal de Justiça de São Paulo
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