O lucro apaga tudo
Petrobras ajudou o Governo a esconder a alta da inflação e o resultado de R$ 11 bilhões pode jogar esse problema no lixo do esquecimento
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
A Petrobras deu uma cacetada de R$ 11 bilhões no primeiro trimestre. É dinheiro pacas para o bolso da empresa e dos investidores. Mas resultados assim costumam apagar da memória qualquer problema recente de uma companhia. Como a conquista de um título no futebol. É preciso lembrar que a Petrobras tem ajudado o Governo Federal nesses últimos meses a esconder a alta da inflação. Sim, embora a inflação já esteja acumulada em 6,51% em 12 meses e, portanto, acima do teto estabelecido pela equipe econômica, ela estaria muito maior não fosse a preciosa colaboração da Petro. E de uma maneira muito simples: não repassar o aumento do custo dos combustíveis para o consumidor.
Você e eu não ficaríamos nada felizes em ter que pagar mais pela gasolina. Mas é difícil aceitar manipulações de preços como essa, um tanto grosseiras, que tentam esconder debaixo do tapete um dos problemas econômicos mais sérios do país. A inflação é uma triste memória, mas se ela está de volta temos que lidar com ela com inteligência. Há alguns dias, o professor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de InfraEstrutura, um dos maiores críticos da nossa política energética, mostrou em “O Globo” que a Petrobras teria engolido um prejuízo de R$ 1,65 bilhão de janeiro a abril para segurar os preços. Ele acrescentou que, em certo período, o déficit chegou a 27% do preço na bomba para o preço real. É como se a Petrobras tivesse patrocinado a boa a imagem do Brasil sem inflação para o Governo. E onde está a comprovação para o público em geral? Agora, no próprio balanço da companhia divulgado sexta-feira 13. O segmento de abastecimento perdeu R$ 95 milhões nos três primeiros meses do ano. O normal é essa área render mais de R$ 1 bilhão, como ocorreu em três dos quatro trimestres de em 2010.
O interesse em segurar o preço do combustível é efeito dominó que ele pode provocar. Como vivemos em um país rodoviário, é pelas estradas e rodovias que o Brasil começa. O diesel mais caro obriga o caminhoneiro a gastar mais para levar sua carga. E essa cobrança vai ser repassada até chegar ao bolso do consumidor. O estrago é como os impostos, em cascata. Mas os meios não justificam os fins. Brecar o caminho natural da inflação com ordens a uma empresa de capital misto é apagar a luz da transparência. O prejuízo é de todos. Dos investidores, que poderiam ter visto um lucro muito maior e, consequentemente, embolsado um dividendo mais gordo, até a população, que já sente no dia a dia o aumento dos preços, mas tem que acreditar nas manobras do Governo.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247