O Brasil ainda é uma economia emergente?

A questão pode parecer inusitada, mas foi levantada por Madeleine Albright, ex-secretária de Estado dos EUA



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O Brasil ainda é uma economia emergente? A questão pode parecer inusitada, mas foi levantada por Madeleine Albright, ex-secretária de Estado dos EUA, de forma indireta em evento com os presidentes das principais empresas brasileiras. A frase de Madeleine —“alguns até já dizem que o Brasil deixou de ser uma economia emergente, pois já emergiu”— alimenta um debate fundamental para o mundo hoje: a reforma dos organismos internacionais de decisão.

De acordo com a ex-secretária, a avaliação sobre o Brasil mudou por conta do desempenho da economia brasileira, que registra taxas de crescimento e avanços de investimentos surpreendentes nos últimos anos. Nós, brasileiros, sabemos que é preciso avançar para deixarmos a condição de emergente e nos tornarmos uma nação desenvolvida. Mas esse processo passa por ampliarmos ainda mais nossa participação no cenário internacional.

Talvez com a defesa que a ex-secretária norte-americana fez de uma presença mais relevante de nações como Brasil, Índia e Turquia nas instituições internacionais, a oposição tupiniquim resolva apoiar nossa reivindicação de um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas —afinal, a oposição está acostumada a seguir a orientação que vem de fora.

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De todo modo, há razões políticas e diplomáticas para sustentar a reforma de organismos como a ONU e o FMI (Fundo Monetário Internacional), razões que se somam às de cunho econômico. Talvez a principal seja a transformação da ordem mundial, que saiu de uma organização bipolar na Guerra Fria, passou para unipolar (EUA) com nações de importância ascendentes e influência regional no imediato momento pós-Queda do Muro de Berlim e hoje se redesenha num contexto de multipolaridade.

Em verdade, a evolução dos emergentes e o potencial de crescimento que têm já os colocaram em condições de assumir um papel mais ativo. Trata-se de um processo inevitável, em um mundo cada vez mais interdependente. Nesse sentido, como a presidenta, Dilma Rousseff, corroborou “a composição, a direção e a participação no FMI dizem respeito a uma realidade pós-Segunda Mundial”. O mesmo vale para a ONU.

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O maior obstáculo à reforma dos organismos internacionais está nas nações desenvolvidas, que não querem perder espaço de decisão. Mas como pensar nos dias de hoje na exclusão de Brasil, Rússia, Índia, África do Sul, Coréia do Sul e Turquia, para citar apenas alguns, das tomadas de decisões de impacto internacional?

Defender o acesso do Brasil aos centros do poder da ONU e FMI é reconhecer que somos um país de importância crescente no mundo. O fato de sermos um dos centros com vulnerabilidade menor à crise econômica permitiu modificarmos nossa relação com as nações desenvolvidas. Hoje, o Brasil tem, sim, muito a ensinar e não mais aceitará que a imposição de exigências que antes nos eram feitas.

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Ao ressaltar a importância da reforma do FMI e da posição dos países emergentes no organismo e o ingresso do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, de forma permanente, Dilma revela que não se omitirá nesse debate crucial para o futuro do país.

O que se propõe é dinamizar os órgãos internacionais na esteira do que foi feito com o G-8, na prática, substituído pelo G-20. Não podemos nos esquecer que de nada adianta aumentar o capital do FMI sem mudar suas políticas com o oxigênio novo que representa a participação dos emergentes. Isso só será possível com uma nova composição e redistribuição do poder, seja por meio dos BRICs, seja por meio do conjunto dos países emergentes.

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O mesmo vale para a ONU, que ampliará sua capacidade de interlocução diplomática se absorver as nações emergentes em seu núcleo decisório, já que são países de influência regional.

A escolha, portanto, é mais uma questão de saber em que tempo e de que forma realizaremos as reformas nos organismos internacionais. Até lá, nosso papel é seguir nos mobilizando em torno desse objetivo. Em defesa do interesse brasileiro, mas também em defesa de um mundo mais justo.

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José Dirceu, 65, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT

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