Mais vagas, menos profissionais
Diferentes setores enfrentam a falta de mo de obra qualificada no Brasil. Para muitas empresas, contratar bons profissionais virou leilo
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Lu Miranda_247 - “A situação é crítica. Está muito difícil fazer uma contratação”. O lamento vem de uma profissional de recursos humanos da uma importante empresa brasileira de tecnologia, a AOC, com mais de 2 mil funcionários nas unidades de Jundiaí, no interior paulista e de Manaus, no Amazonas. Silvania Vidal Ribolli é responsável pelo RH da companhia onde a qualificação é a palavra de ordem. “Os profissionais sabem que a mão de obra está escassa e a negociação do salário virou leilão. Se o salário referente ao cargo é de R$ 3 mil, o candidato à vaga pede mais de R$ 5 mil.”, reclama Silvania.
Na unidade de Manaus, a situação é ainda pior. “Desde setembro do ano passado não encontramos profissionais para vagas estratégicas”, afirma Silvania.
A alternativa encontrada pela AOC foi investir na capacitação dos funcionários já contratados. Duas vezes por ano, a empresa oferece um curso com duração de 4 meses para o treinamento em máquinas SMT, que inserem componentes nos eletroeletrônicos. Cerca de 50 funcionários passam pelo treinamento a cada semestre e o custo para a empresa é de R$45 mil.
O problema enfrentado pela AOC é cada vez mais comum em diferentes setores da indústria no Brasil. De acordo com pesquisa da CNI, a Confederação Nacional da Indústria, divulgada esta semana, sete em cada dez empresas não conseguem encontrar mão de obra qualificada para suas atividades. Foram ouvidas 1.616 companhias em todo o país. 69% delas têm dificuldades de contratar funcionários capacitados. 78% investem na capacitação dos funcionários.
Um dos segmentos que mais sentem o chamado “apagão de mão de obra” é a construção civil. Sinval Ruiz de Carvalho, dono de uma pequena construtora na capital paulista, diz que os jovens não se interessam como antes em trabalhar ou se especializar na área. “Antes, a mão de obra vinha do nordeste e agora não conseguimos profissionais. A gente coloca anúncio no jornal e não tem retorno.”, reclama Sinval. A saída para o problema encontrada pelo empresário é “segurar”, a todo custo, os profissionais já contratados. “Além do salário previsto pelo sindicato, a gente paga uma premiação por metro quadrado de trabalho executado para garantir a permanência do trabalhador na obra e a agilidade do serviço.”
Um dos motivos apontados para a falta de pessoas para trabalhar na construção civil é o crescimento do setor nos últimos anos, de acordo com o vice-presidente para relação do capital e trabalho do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo. Haruo Ishikawa chama a atenção para os números levantados em pesquisa do sindicato com a Fundação Getúlio Vargas. Em 2008, a construção civil cresceu 1,73%, no ano seguinte 3,44% e em 2010 explodiu para uma alta de 13,45%. Superou e muito a soma de todas as riquezas produzidas no país, o PIB (Produto Interno Bruto), que ficou em 7,5% no ano passado. A projeção de crescimento da construção civil para 2011 é de 5% e deve continuar maior na comparação com o PIB, com crescimento previsto de 4,06% na última projeção de mercado divulgada pelo Banco Central.
De acordo com Ishikawa, os profissionais qualificados por escolas técnicas, geralmente, viram autônomos para ter uma fonte de renda maior. Resta aos empresários de construtoras maiores a contratação de operários apenas para erguer a estrutura dos prédios. O acabamento é todo terceirizado, o que eleva o custo da obra. “Montamos um jogo de Lego na construção civil”, brinca Ishikawa.
No Brasil, a contratação de ajudantes de pedreiro representa 40% do total. Eles levam de 6 a 12 meses para aprender o serviço, o que gera atrasos e encarece ainda mais o projeto. Em São Paulo, a proporção deste tipo de contratação de mão de obra pouco qualificada cai para 35%. “Quando um setor cresce muito e o país não está preparado acontece este tipo de problema. O crescimento não funciona se o governo não tiver uma política educacional.”, critica Ishikawa.
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