Mais um passageiro?

O que o ex e o atual ministros do Turismo têm em comum? Os dois são deputados federais do PMDB-MA e apresentaram emendas ao Orçamento beneficiando redutos eleitorais; a farra continua em Brasília



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Tão previsíveis quanto desprovidas de qualquer novidade, as mais recentes traquinagens do octagenário deputado Pedro Novais (PMDB-MA), o recém-defenestrado ministro do Turismo, apenas confirmam o que a sabedoria popular não cansa de afirmar: o pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto. Pelo que se depreende de sua trajetória, o ex-ministro se notabilizou por fazer da vida pública uma extensão da privada (mil desculpas pelo infame trocadilho) e nunca enganou a ninguém. Basta lembrar alguns dos pecadilhos a ele atribuídos e que só vieram à tona quando seu nome passou a ser cogitado para integrar o primeiro escalão do governo Dilma Rousseff.

Bom, teve a mal contada história da festinha no Motel Caribe, em São Luís-MA, no ano passado, que custou a bagatela de R$ 2.156,00 e teria sido paga com dinheiro da Câmara. Ah, mas Sua Excelência disse que, sequer, sabia onde ficava o tal motel. Certamente, algum assessor teria abusado de sua confiança e apresentado uma nota fiscal do estabelecimento à Secretaria Geral da Mesa da Casa para um indevido ressarcimento. Tudo, obviamente, sem o conhecimento dele, o que é muito comum em Brasília - não faz muito tempo, um carismático ex-presidente brasileiro também não confessou desconhecer a profusão de escândalos que brotavam ao seu redor?... Mas, pior mesmo que a inocência do nosso ex-ministro, só algumas iniciativas em seu favor, durante a prosaica operação abafa que se seguiu à divulgação da farra. Teve até quem tentasse explicar o inexplicável com uma saída do tipo: o fato de alguém dormir num motel nem sempre significa que está fazendo amor. Sem comentários.

Não ficam aí os percalços na trajetória pública do deputado Novais. Em dezembro, a Folha de São Paulo denunciou um “telefonema suspeito” interceptado pela Polícia Federal em que ele teria pedido a um empresário maranhense – acertou quem pensou em alguém do clã Sarney! - que usasse de prestígio pessoal para beneficiar na Justiça Federal um aliado político. Teve também o caso dos recursos (R$ 1 milhão) destinados a uma suposta empresa de fachada para construir uma ponte na inexpressiva Barra Corda-MA, liberados mediante apresentação de uma emenda sua ao orçamento da União, em 2010, quando ele exercia o mandato. Localizado a 450 km de São Luís, o município é desprovido de qualquer atrativo turístico que justificasse tal investimento.

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Filho pródigo à Casa volta

E o que realmente surpreende em toda essa história? É que, apesar dos antecedentes pouco elogiáveis, Novais foi guindado ao cargo de ministro do atual governo. Ao que parece, alguém acreditava que ele tomaria jeito. E nem vamos falar da Operação Voucher, aquela em que figurões do ministério do Turismo foram presos sob suspeita de corrupção: blindado por sua tropa de choque, o ainda titular da pasta passou incólume, embora seja pouco crível que nada soubesse dos malfeitos dos subordinados. Na corda bamba, balançou, balançou... mas permaneceu no cargo, escorado por correligionários de inquestionável força como o vice-presidente da República e o presidente do Senado. Ora, mas como todo o que balança cai, o ministro acabou escorregando na sujeira que tentava jogar para debaixo do tapete: o pagamento de empregados domésticos (um motorista e uma governanta), travestidos de funcionários do Legislativo. Ou seja, misturando a vida pública com a privada!

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E que ninguém se engane quanto ao futuro do nosso ex-ministro. Ao retornar à Câmara, ele terá que explicar aos pares as estrepolias que lhe são atribuídas, algumas das quais em flagrante desacordo com o decoro parlamentar. Ah, mas, na Casa, ele estará literalmente em casa. Depois de passar a mão na cabeça de uma colega filmada recebendo propina, que moral Suas Excelências terão para cobrar do filho pródigo um ou outro tropeço cometido aqui e ali?

Aguardemos, pois, as próximas etapas da suposta faxina que se opera em Brasília. E não esperemos surpresas. O substituto de Novais, também deputado federal do PMDB, assume a cadeira de ministro trazendo na bagagem um incômodos que pode se transformar em dor de cabeça: no exercício do mandato, no final de 2010, priorizou quatro pequenas cidades maranhenses com emendas ao Orçamento para infraestrutura turística. Os municípios - São João dos Patos, Araioses, São Bento e Loreto - foram beneficiados por uma emenda de R$ 2,5 milhões no Orçamento de 2011. Por coincidência, nessas localidades, o atual ministro do Turismo foi o candidato a deputado mais votado. Ou seja, a viagem continua...

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