Lula diz que vai retomar obras do PAC e reafirma que só indicará cargos após as eleições: "pode acontecer a partir de domingo"

Ex-presidente afirmou que a geração imediata de empregos dará fôlego ao país para "a gente arrumar a casa, para fazer as mudanças no orçamento"

Luiz Inácio Lula da Silva
Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)


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247 - O ex-presidente Lula (PT) afirmou nesta terça-feira (25), em entrevista à Rádio Nova Brasil FM, que pretende retomar obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em diversos estados do país para gerar empregos o mais rápido possível.

Uma redução imediata na taxa de desemprego, segundo ele, dará fôlego ao país para que se eventual novo governo possa "arrumar a casa".  "Pretendo tomar logo de cara algumas decisões muito caras para nós, de fazer investimentos em infraestrutura. Nós temos muitos projetos que foram feitos pelo PAC e que ficaram paralisados. Essas obras estão prontas, algumas foram licitadas, os projetos estão prontos. Será muito mais fácil pactuar com os governadores de estado, pegar três ou quatro obras importantes em cada estado e a gente começar a fazer essas obras funcionarem rápido, para a gente gerar parte dos empregos que o Brasil precisa gerar, enquanto a gente vai arrumando a casa. Vai levar um tempo para a gente arrumar a casa, para a gente acertar com o Congresso Nacional, para a gente fazer as mudanças no orçamento e para que a gente possa inclusive começar a discutir uma política tributária que seja mais justa, que quem ganha mais pague mais e quem ganha menos pague menos".

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Ele reiterou a intenção de isentar do Imposto de Renda os cidadãos com salário de até R$ 5 mil.

Questionado sobre os nomes que integrarão sua equipe econômica, Lula afirmou que só passará a indicar seus economistas após a eleição, se vencer no domingo (30). "Se eu anunciar uma equipe econômica, se eu tiver dois economistas, eu vou perder dez, vou perder 15. Eu não quero perder votos. Eu já fui presidente e não indiquei ministérios antes. As pessoas pediam para indicar e eu não indiquei. Eu primeiro tenho que ganhar as eleições. Eu aprendi assim. Eu não vou sentar na cadeira antes de ganhar. Em 1985 o Fernando Henrique Cardoso sentou na cadeira do Jânio Quadros e perdeu as eleições. Eu não vou tomar nenhuma atitude como se eu já tivesse ganho as eleições. Só posso indicar nome para qualquer cargo depois que eu ganhar as eleições, e isso pode acontecer a partir de domingo (30)".

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Sobre o relacionado com o Congresso Nacional, que será ainda mais conservador a partir de 2023, o ex-presidente disse que conversará com todos.  "A gente vai conversar com todo mundo. O Centrão não é um partido político. O Centrão é um conjunto de forças políticas que se juntam em função de determinadas causas, determinados interesses. E eu vou conversar com cada partido político, com cada deputado eleito. Temos que encontrar uma saída para o Brasil, não é para um partido ou deputado, é para o Brasil. As pessoas precisam compreender que não é correto ter 31 milhões de pessoas passando fome nesse país".

Roberto Jefferson

Lula falou na entrevista sobre os acontecimentos dos últimos dias envolvendo o ex-deputado federal e agora ex-aliado de Jair Bolsonaro (PL) Roberto Jefferson (PTB), que xingou a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia e reagiu à prisão com tiros de fuzil e granada contra policiais federais.

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O petista mencionou o ex-parlamentar ao falar sobre o clima de violência que se instalou no país. "Você viu o discurso do [Roberto] Jefferson contra a ministra Cármen Lúcia. Aquilo não se fala. Para falar aquilo o cara deveria estar dopado. Na normalidade ninguém fala uma grosseria daquela. Eu estava em um restaurante em Belo Horizonte e um cara xingou a Marina com palavrões irresponsáveis. Precisamos baixar a bola".

"Na semana passada aconteceram três coisas que a gente não via na história do país. Primeiro um presidente a República tem uma atitude de pedofilia com uma menina de 14 anos. Ou seja, não é esse o papel de um presidente da República, fazer a brincadeira que ele fez com a menina, de que 'pintou um clima'. Isso é irresponsabilidade do presidente da República, e ele ficou tão mal que 1h da manhã acordou para fazer uma live, para tentar mentir outra vez. Nós tivemos o caso da ofensa do Roberto Jefferson à ministra da Suprema Corte, com palavrões que nem pensar a gente deve. E depois tivemos o caso em São Paulo de um humorista negro que foi entrar em um rpédio e foi provocado por uma mulher branca, e tivemos o caso do Seu jorge em Porto Alegre, que foi convidado para um show e fez um gesto, não sei se ele fez um 'L', e começou a ser chamado de 'macaco'. Esse país tem que voltar à normalidade. Essa é a minha tarefa, fazer com que esse país volte à normalidade", disse.

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Educação e Cultura

O ex-presidente garantiu que fará mais investimentos em educação, reorganizando o orçamento para abrir espaço aos novos aportes. Ele tratou o tema como questão de segurança nacional. "A educação será prioridade em nosso governo. Em 2003 também se dizia que não tinha dinheiro, que não tinha como fazer investimento em educação, que era gastar muito dinheiro, e eu decidi que a gente tem que fazer um esforço muito grande, fazer inclusive remanejamento de verba dentro do orçamento, para que a gente não deixe a educação de fora. A educação é a única coisa que pode garantir que esse país um dia seja competitivo com os países mais avançados, será a única coisa que vai garantir que um dia a gente vai deixar de exportar não apenas commodities, mas a gente vai exportar conhecimento. Vamos encontrar dinheiro, precisamos colocar dinheiro na educação. Quando fui presidente, a gente triplicou o dinheiro para educação, a gente fez mais universidades, mais escolas técnicas, a gente aumentou o ensino fundamental para nove anos. É possível a gente acreditar que o investimento em educação é uma necessidade nacional, é quase que um tema de segurança nacional".

Lula também defendeu a cultura, prometendo recriar o Ministério da Cultura e tratando a área como importante peça para a retomada econômica do país.  "O Ministério da Cultura vai voltar, nós vamos criar em cada capital desse país um comitê de cultura e a Lei Rouanet vai voltar a funcionar financiando a produção cultural nesse país. Somente alguém muito ignorante, muito grosseiro, somente alguém muito atrasado acha que o investimento em cultura é gasto. A gente pode transformar a cultura em uma indústria de geração de riqueza, de geração de empregos que pode trabalhar muito mais do que qualquer outro setor da economia. Então pode ficar certo de que vai voltar ao Ministério da Cultura, vai voltar com mais sede de fazer mais filme, mais peça de teatro, produzir mais livro, mais arte e financiada sim, por empresas públicas, privadas, porque esse país prescindir da cultura. A cultura, junto com a educação, são duas coisas que dão riqueza ao país, que dão consciência política ao país, e é isso que nós vamos querer fazer".

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Ressentimento

Perguntado sobre um eventual rancor que ainda possa ter em relação ao Ministério Pública, dada a perseguição que sofreu na Lava Jato, o ex-presidente garantiu que não voltará ao poder para 'ficar brigando'. "Eu seria irresponsável se estivesse concorrendo à Presidência da República, com muitas perspectivas de ganhar, e chegando ao cargo ficar pequeno e ficar brigando com alguém. Eu não vou voltar para brigar com alguém porque eu preciso voltar para governar o país. As pessoas que vão votar em mim vão votar na expectativa de que a gente consiga fazer um governo melhor do que aquele que eu fiz. Temos que voltar para fazer esse país andar. Eu não vou perder tempo com quem quer que seja. Vou perder tempo discutindo soluções para o povo brasileiro. Esse Lula é que vai voltar para presidir o país, senão seria melhor eu ficar em casa".

Geopolítica

Lula foi perguntado sobre como será o relacionamento do país com outras nações que tenham regimes supostamente autoritários, como a Rússia, por exemplo, que hoje está no centro de uma guerra com a Ucrânia.

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Ele afirmou que em seu eventual novo governo, o Brasil negociará com todos que atendam seus interesses.  "O Estado brasileiro tem que manter contato com todo mundo de acordo com seus interesses. O Brasil respeita a autodeterminação dos povos, não quer que ninguém se meta na nossa política, a gente não quer se meter na política de ninguém. O que a gente quer é defender os interesses do Brasil. Quando eu era presidente a gente tinha um superávit com a Venezuela de praticamente US$ 4 bilhões. Não era pouca coisa. Então com a Arábia Saudita a gente tem que fazer negócio, porque a gente tem petróleo, nós temos investimentos. Então o Brasil tem que manter. Qual é o interesse estratégico do Brasil com a Rússia? É de fertilizantes? É de outra coisa? Nós precisamos levar em conta os interesses do Brasil e, enquanto Estado soberano, negociar com as pessoas. Isso não é problema, embora você possa fazer crítica política, possa não concordar com o regime dentro daquele país. É um problema deles. Eu tenho que cuidar do meu, e o meu país será democrático, porque eu sou democrata. A minha história política é democrática desde que eu fui eleito presidente do sindicato em 1975. Há uma história de democracia nesse país, desde o movimento sindical até o exercício de dois mandatos. Isso eu quero retomar, e quero conviver com outras forças".

Sucessão

O ex-presidente também foi perguntado sobre quem será seu sucessor. Foi apontada na entrevista a fala de novas lideranças no campo progressista.

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Lula disse que trabalhará para viabilizar novos nomes, mas enfatizou que liderança não se inventa, 'nasce'. "Liderança a gente não escolhe. Você pode escolher um candidato a alguma coisa, mas liderança é outra coisa. A liderança você não cria... Está cheio de governador que não é liderança. Está cheio de prefeito que não é liderança. Liderança é uma coisa totalmente especial. Brizola era um líder, o [Carlos] Lupi não é, um governador não é. O Arraes era um líder, o Paulo Câmara não é. O Paulo Câmara é um governador. Então eu não vou dizer como é que eu vou criar um líder. Ele nasce. E as pessoas que quiserem ser líderes precisam saber que o líder trabalhar mais, anda mais, se esforça mais, briga mais e se faz ser respeitado pelos seus liderados. Eu sou presidente de um mandato só. Que os partidos políticos comecem a se preparar para indicar um sucessor. Eu vou tentar trabalhar para criar pessoas, mas um líder se faz na luta, na briga do dia a dia, no compromisso dele. Então não é fácil criar uma liderança. As pessoas estão livres para virarem líderes. É só querer".

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