JK e Obama

A visão do Brasil e do mundo, de JK, reconhecida ainda agora pelo presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, em sua recente passagem pelo Brasil, comprova, com toda clareza, que ele era um homem à frente do seu tempo



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Após passar a faixa a Jânio Quadros (1961), o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira voou de Brasília para Rio e daí para Lisboa. Jânio, após sua partida, pronunciou mais um discurso cheio de inventivas e ataques à JK, que o ouviu, estarrecido, pelo rádio do avião da extinta Panair do Brasil.

Tão violenta foi a peroração que imediatamente serviu como um divisor de águas - o pré-Jânio, chamado período negro, e o da real alvorada, sob a égide do novo presidente da República, que exerceu seu mandato de 31 de janeiro até 25 de agosto de 1961, quando renunciou.

Os ataques continuaram por largo período e passou-se a considerar JK um defunto político.

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Eu presidia o Centro Acadêmico 22 de Agosto da Pontifícia Universidade Católica, em São Paulo, e acabara de promover o Ciclo de Integração do Nordeste que resultaria, nas palavras do economista Celso Furtado, na aprovação do I Plano Diretor da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste).

Resolvi convidar JK por considerar uma injustiça a tentativa de aniquilá-lo com calúnias e difamações.

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Escrevi e por meio da intemerata deputada Conceição da Costa Neves a carta que lhe chegou às mãos. Passadas algumas semanas recebi sua resposta, aceitando participar de um simpósio organizado por mim, em São Paulo.

Pedia-me que fosse ao Rio de Janeiro no dia de sua volta ao Brasil para traçarmos o programa.

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Sua chegada foi triunfal.

Do Galeão ao Hotel Glória, foi ovacionado, mandando o povo assim a primeira mensagem de repúdio aos ataques de Jânio Quadros e de seus opositores.

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Acertada a visita, em sua casa, marcamos a data para a sua presença em São Paulo. Voamos juntos para a capital paulista.

O programa começava com uma missa na Catedral da Sé, oficiada pelo cardeal arcebispo dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta. À saída, a primeira surpresa que desestabilizou o Planalto e Jânio: a multidão o tomou nos braços e o carregou por mais de um quilômetro até a sede do Jockey Club, no centro.

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A repercussão foi nacional e o destaque nos jornais foi uma grande foto de Juscelino nos braços do povo.

Mantivemos daí, uma grande amizade e proximidade, e tive o privilégio de, como estudante, lançar a sua candidatura JK 65, no momento em que recebi em Vinhedo (SP), o título de cidadão honorário. Seria candidato à Presidência da República novamente, mas o regime militar o impediu.

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A visão do Brasil e do mundo, de JK, reconhecida ainda agora pelo presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, em sua recente passagem pelo Brasil, comprova, com toda clareza, que ele era um homem à frente do seu tempo.

Visionário. Otimista.

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Mas o que disse Obama de Juscelino nós já sabíamos na época.

O Brasil se desenvolveria se a indústria se instalasse e evoluísse. Tornar-se-ia pujante se se integrasse por meio de estradas e de comunicações fáceis, partindo de um ponto irradiador de poder em seu centro geográfico – Brasília, que ele soube fundar.

Para JK, o Brasil seria uma referência de poder político mundial, se olhasse além de suas fronteiras, projetando-se em todos os continentes. Seu projeto inicial foi a Operação Panamericana, lançada em 1958, para combater a miséria com desenvolvimento econômico.

E, com uma indústria forte, integrado pelas estradas e aeroportos e pelas telecomunicações, a agricultura seria a plataforma de consolidação econômico-político-financeira através do agronegócio.

Síntese de um projeto e de uma ação que se refletem hoje, com as descobertas de petróleo e minerais, a geração de energia limpa pelas hidrelétricas e pelo etanol, pela posição de sétima economia do mundo e, em cinco anos, sem dúvida, será a quinta maior. Se o sofrimento for o apanágio de um grande homem, meu professor de viver e aprender, estou certo que JK o recebeu com um sorriso nos lábios, vendo seus sonhos realizados com o Brasil de hoje.

Mario Garnero é empresário, presidente do Grupo Brasilinvest, do Fórum das Américas e da Associação das Nações Unidas-Brasil

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