Ibovespa opera abaixo dos 100 mil pontos pela primeira vez desde julho de 2022

O desempenho veio após a decisão do Banco Central de manter a taxa Selic em 13,75%. Veja como os juros influenciam na Bolsa de Valores

Ibovespa
Ibovespa (Foto: REUTERS/Aly Song)


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Por Lara Rizério, Vitor Azevedo e Mitchel Diniz, InfoMoney - A sessão pós-Copom, cuja decisão de política monetária foi acompanhada de um comunicado bastante duro do Banco Central, marcou a perda de um importante patamar psicológico para o Ibovespa: os 100 mil pontos. Nesta quinta-feira (23), o índice chegou aos 98.541 pontos no intraday e ficou abaixo dos seis dígitos pela primeira vez desde 27 de julho de 2022, acumulando baixa no ano de quase 10%. Às 14h30 (horário de Brasília), a queda era de 1,63%, a 98.587 pontos.

O Ibovespa não fecha um pregão abaixo de 100 mil desde 26 de julho de 2022, quando encerrou o dia aos 99.771,69 pontos.

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Na véspera, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC manteve a Selic em 13,75% ao ano, reforçando que “irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional”, mostrando assim que há pouco espaço para corte de juros no curto prazo.

O BC não fez qualquer menção de reduzir a taxa e, pelo contrário, sinalizou mais adversidades que podem, inclusive, fazer com que a Selic possa voltar a subir. Com isso, o comunicado do BC reforçou a visão de grandes bancos de que reduções na Selic ficarão para o segundo semestre do ano, possivelmente só no final desse período.

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O que explica a queda do Ibovespa abaixo dos 100 mil pontos?

Os juros altos por mais tempo afetam negativamente a Bolsa por diferentes razões.

 Uma Selic mais baixa costuma impulsionar o consumo. Se as pessoas consomem mais, as empresas tendem a vender mais os seus produtos. Com resultados melhores, as ações dessas companhias tendem a distribuir mais dividendos e também a se valorizar. Já quando a Selic aumenta ou segue em patamares elevados, a atividade econômica em geral acaba arrefecendo, assim como os resultados das empresas.

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Ao mesmo tempo em que estimula o consumo, a Selic baixa também reduz o custo do crédito para as empresas. Isso facilita investimentos, por exemplo, na expansão das instalações ou outros projetos que as permitam crescer. Empresas que crescem tendem a apresentar melhores resultados, o que, novamente, beneficia suas ações. Se, por outro lado, a Selic fica em patamares elevados, todo esse movimento fica prejudicado.

Empresas do setor de varejo e tecnologias são as mais impactadas. Companhias de crescimento mantêm seus fluxos de caixa em períodos muito longos. Empresas de varejo estão associadas ao ciclo de crédito e à atividade econômica local. O impacto pode ser observado no início da tarde, com a maior queda do Ibovespa sendo o Magazine Luiza (MGLU3), recuando 10,58%, a R$ 3,16.

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Além disso, em linhas gerais, em períodos de Selic elevada os investimentos de renda fixa podem se tornar opções mais atraentes, enquanto em épocas de juros baixos a renda variável tende a oferecer melhores retornos.

Além desses fatores, o posicionamento da autoridade monetária corrobora receios sobre um acirramento da tensão entre governo e BC, uma vez que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem pressionando a instituição por conta do nível da Selic.

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“No mercado, há a percepção de que a temperatura entre o presidente Lula e o BC esquentará ainda mais, com potencialmente mais troca de farpas, pressão e críticas, o que pode contaminar o cenário”, disse à Reuters o superintendente da Necton/BTG Pactual, Marco Tulli. “As medidas recentes do governo vão contra o movimento feito pelo Copom, que na véspera foi mais duro do que o governo esperava”, acrescentou.

Isso pode ser observado no movimento do dólar, que avançava 0,70% no início da tarde, a R$ 5,273 na compra e R$ 5,274 na venda, mesmo com os sinais de juros altos por aqui e sinais de desaceleração da alta de juros pelo Federal Reserve podendo favorecer o real ante a divisa americana.

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A percepção de risco aumentou e levou a quedas ainda mais fortes do índice após Lula falar, na tarde desta quinta, que a “história julgará” as decisões do Banco Central de manter a taxa de juros em 13,75%. “Como presidente da República não posso ficar criticando cada relatório do Copom. Eles que paguem o preço do que estão fazendo. A história julgará cada um de nós”, apontou.

A equipe de estratégia da XP apontou que, com riscos fiscais e políticos no radar, as perspectivas daqui pra frente para o mercado seguem mais negativas, e indicam um posicionamento mais cauteloso em relação às ações.

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“Com uma trajetória de política fiscal ainda incerta, aguardando uma âncora fiscal crível e um caminho claro para a sustentabilidade fiscal, devemos continuar a ver volatilidade nos mercados, e, portanto, preferimos um posicionamento mais defensivo”, apontam Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig, que assinam o relatório da casa.

Os estrategistas também ressaltam que o debate entre governo e Banco Central alimentou ainda mais a deterioração da perspectiva política e colocou pressão adicional nas expectativas de inflação.

Além disso, após um recorde de entradas de capital estrangeiro no Brasil em 2022, com mais de R$ 100 bilhões entrando na Bolsa, no final do ano passado, após as eleições, os ativos brasileiros começaram a ter desempenho inferior em relação a seus pares globais devido a preocupações com o ruído político.

Como resultado, em fevereiro, começou a haver saídas de investidores estrangeiros. “Após fortes entradas de capital em janeiro, fevereiro registrou o primeiro fluxo negativo desde maio de 2022 – com saída de R$ 1,7 bilhão – e março se encaminha para o mesmo movimento. Este é um indicador-chave a seguir, já que os investidores estrangeiros têm sido o comprador final de ativos brasileiros, enquanto os investidores locais migraram para renda fixa”, avaliam.

A XP também destaca que o Lucro por Ação (LPA) para os próximos 12 meses projetado pelo mercado para o Ibovespa já caiu mais de 10% desde o pico recente. “Devido a essa combinação (lucros menores e taxas de juros mais altas), não vemos mais o Ibovespa tão atrativo quanto estava alguns meses atrás. Ou seja, a Bolsa brasileira ficou menos atrativa em relação às taxas de juros atuais”, ressaltam os especialistas.

Guilherme Abbud, gestor da Persevera Asset Management, por sua vez, acredita ser difícil a Bolsa cair mais por conta de questões internas. “A Bolsa já precifica hoje crescimento mais fraco, as inseguranças com política econômica e já está muito descontada”, afirma Abud.

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