Guido Mantega: modelo neoliberal será substituído com Lula

Ex-ministro afirma que PT implantou modelo social-desenvolvimentista, "que resistiu a duas crises mundiais importantes"

Guido Mantega
Guido Mantega (Foto: Fabio Pozzebom/Agência Brasil)


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Opera Mundi - No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta sexta-feira (28/01), o jornalista Breno Altman entrevistou Guido Mantega, que foi ministro da Fazenda durante os governos Lula e Dilma entre 2006 e 2014. Ele fez um balanço da era PT e ponderou sobre a política econômica de um possível governo Lula.

O ex-ministro e economista avaliou como positivos os governos petistas, que implementaram o que ele definiu como um modelo social-desenvolvimentista, no qual o Estado é o grande impulsionador do crescimento econômico, responsável por criar uma indústria nacional, fomentar investimentos e gerar emprego.

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“Diria que fomos vencedores, que implementamos um novo modelo que resistiu a duas crises mundiais importantes. Ele foi trocado por um modelo neoliberal com Temer e Bolsonaro, mas que voltará com Lula”, avaliou.

De forma detalhada, Mantega começou retomando o primeiro governo Lula, em 2003. Segundo ele, o país “estava quebrado, refém dos credores e do Fundo Monetário Internacional, com flutuação cambial forte”, resultado das políticas de elevação de juros e câmbio valorizado de Fernando Henrique Cardoso, “morais para a indústria”. Assim, foi difícil para o Lula dar ao Brasil a direção que queria. Tanto é que mesmo durante a campanha eleitoral acabou abandonando totalmente o discurso de transição ao socialismo, presente nos primeiros programas políticos do PT.

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“Naquela época tínhamos sonhos, não olhávamos para a correlação de forças. Aí quando chegamos no governo não tínhamos nem 20% da Câmara, não dava para aprovar nada, então tivemos que fazer alianças com o centro, diminuir as nossas pretensões. O grande objetivo era melhorar a vida dos trabalhadores brasileiros e havia muitos ingredientes de uma política diferente, de investimentos sociais e industriais. Lula conseguiu fazer concessões, mas sem abdicar dos seus planos”, ponderou.

Entretanto, o ex-ministro admitiu que houve uma “virada desenvolvimentista” em 2006, quando Lula quis fazer mais. Como resultado, o Brasil viu um crescimento maior da economia, distribuição de renda e elevação do padrão de vida do povo.

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“Tivemos um crescimento forte comandado pelo Estado, criamos empregos, que era a maior demanda dos trabalhadores, e programas sociais altamente eficientes, como o Bolsa Família. Fechamos 2010 com chave de ouro, enfrentando uma crise muito séria em 2008 que não derrubou o Brasil porque o Estado atuava. Continuamos essa política durante o governo Dilma, mas com mais dificuldade”, discorreu. 

Mesmo com o crescimento da economia, Mantega defendeu que não foi possível combater totalmente a desindustrialização, que se agravou com a desaceleração da economia mundial que seguiu a crise de 2008. “Fizemos política industrial, reduzindo custos tributários e barateando a compra de máquinas, mas não foi suficiente. Começaram a entrar produtos chineses, perdemos a nossa exportação de manufaturados. Mas mais do que nós fizemos não dava”, relembrou.

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Para ele, o defeito está no fato de que a infraestrutura brasileira ainda é muito atrasada. A industrialização é algo que leva tempo, além de exigir investimentos contínuos, o que não ocorreu sob os governo de Temer e Bolsonaro, “e agora estamos numa situação mais complicada do que a de 2002 e 2003”.

Governos Dilma

Muitos analistas também apontam a ex-presidente Dilma Rousseff como uma das culpadas desse processo, por ter se aliado a iniciativas neoliberais. Para o ex-ministro, há uma interpretação equivocada de que ela não apostou em investimentos, “foi quem mais apostou, mas em parceria com o setor privado, fazendo concessões”.

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Por outro lado, ele reconheceu que a ex-presidente cometeu uma série de falhas. A maior delas foi a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, substituindo Mantega. 

“Havia uma crise política em curso, uma grande articulação para derrubar a Dilma. Eu acho que ela não foi muito feliz na articulação com a nossa base aliada, foi se afastando, perdendo força na Câmara dos Deputados. Por fim, quando começou seu segundo mandato, deu um cavalo de pau na política econômica, virou neoliberal, colocou um neoliberal de carteirinha no Ministério da Fazenda”, criticou.

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Na avaliação do economista, essas medidas foram tomadas porque ela queria evitar perder o grau de investimento no Brasil, mas a escolha “foi um tiro no pé”, fez com que os preços subissem, aumentou a inflação, corroeu o poder de compra da população e desestimulou o crescimento.

“Mas o que teve uma contribuição muito grande para isso tudo também foi a Operação Lava Jato. Havia a impressão de que a gente tinha quebrado as contas públicas, o que não era verdade. A Operação ainda paralisou a maior empresa e maior investidora do país, a Petrobras. É verdade que o Brasil desacelerou, mas todos os países estavam desacelerando. Ela cometeu um erro de estratégia, a meu ver, e não foi por falta de avisos. Levy era uma armadilha. Combinou-se crise econômica com crise política, gerando a tempestade perfeita”, lamentou.

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Novo governo petista

Diante de todo o cenário que se criou após o golpe de 2016, com a financeirização da economia e desindustrialização do país, Mantega falou sobre estratégias a curto e a médio prazo de um futuro governo Lula.

“Ele não tem um programa mínimo nem máximo, não está pensando dessa forma. Está pensando nos problemas colocados e como solucioná-los. A curto prazo: a fome, a pobreza e a degradação econômica da família brasileira, que são questões emergenciais. No médio prazo, ele tem que criar um programa que recupere o crescimento e o emprego. Em parte, a população empobreceu porque está desempregada. Então, um programa de investimentos é fundamental”, citou.

Ele ponderou, porém, que esses programas vão demorar para dar resultados, pois “chegará ao governo em 2023 em uma situação muito precária”, com pouco orçamento e uma série de amarras. Uma delas, o teto de gastos. 

O ex-ministro afirmou que muito provavelmente não será possível revogá-lo, já que a esquerda dificilmente terá maioria no Congresso. Por isso, o objetivo deve ser flexibilizá-lo, “tirando os limites de investimentos”.

“Vai ser uma situação complicada, mas com a habilidade de Lula, vamos ajustando as regras, modificando do jeito que der, ao ponto de gerar uma grande discussão política. A população vai ter que participar, porque é o destino dela que está em jogo”, argumentou.

Ele ainda falou sobre a necessidade de renegociar a independência do Banco Central e de se discutir o atual regime fiscal.

“Temos recursos financeiros, mas precisamos de espaço fiscal. Também precisamos discutir a tributação, que é ineficiente, regressiva e prejudica os trabalhadores e consumidores. Por fim, vai ser fundamental revitalizar o BNDES, que compensa o excesso de juros da economia brasileira”, argumentou.

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