Eike, o jogador

É possível falar sobre um bilionário de modo que não soe apenas como inveja? Minha resposta é sim, e aqui vai uma tentativa



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Como falar sobre um bilionário de modo que não soe apenas como inveja? Ou melhor: é possível falar sobre um homem rico sem parecer ressentido pelo fato de que ele tem mais dinheiro que você? Minha resposta é sim, e aí vai uma fórmula: antes de tudo, é preciso dizê-lo. Isto aqui não é fruto de inveja ou ressentimento. Depois, é imperativo prová-lo, e é essa a intenção disto aqui.

Eike Batista é o oitavo homem mais rico do mundo e o fato de eu estar escrevendo sobre ele, e não ele sobre mim, dá uma ideia do abismo que nos separa. Homens como ele são essenciais para que o mundo continue funcionando. Empreendedores e cheios de dinheiro no bolso, esses caras mantêm a máquina girando, geram empregos que nos permitem sobreviver e promovem o avanço científico e essas outras coisas muito importantes.

Dito isso, eu estava pronto para acrescentar que tenho pena do megaempresário, mas a modéstia e o senso de ridículo me aconselharam a substituir o termo por compaixão. Eike me lembra o Aleksei Ivánovitch do Dostoiévski. Um jogador. E dos bons, diga-se. A única diferença entre o empresário e o apostador compulsivo de Dostoiévski é que o brasileiro tem dinheiro. Sempre teve. E isso é condição mínima para se manter no jogo.

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Está na recém-lançada biografia do homem X: seu primeiro grande desafio foi a asma, aos 12 anos, que ele curou, instruído pela mãe, numa piscina aquecida, mas dramaticamente descoberta. Não, eu não acho que ninguém deva se envergonhar por acumular dinheiro, mas, talvez, por ter compulsão por isso, como qualquer pervertido tem, lá no fundo, vergonha de seus impulsos.

Por que alguém acumula muito mais reservas do que precisa? Porque pensa no futuro e quer garantir segurança ou simplesmente porque essas são as regras do jogo? A distância mínima entre as duas opções deve ser calculada em milhões. E, quando a conta passa daí, não é mais você quem manda, mas o dinheiro.

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É, o dinheiro manda em você quando é pouco, mas também quando é muito. Ou lhe parece confortável ser apenas o oitavo homem mais rico do mundo? Você estaria satisfeito?

Quando comecei a sacar essa história de dinheiro, veio a epifania: ganhe o bastante para que ele não atrapalhe e o suficiente para que ele não domine. O que eu quero dizer é que o dinheiro não vale para mim o mesmo que vale para Eike Batista. Ou seja, o pouco que eu tenho é muito, e, por mais que ele tenha muito, será sempre pouco.

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A consolação da filosofia, certo, Boécio? Pode ser, mas vai dizer que não faz sentido? Eu tava lendo um Goethe outro dia e ele dizia que a classe média é condição para o gênio se manifestar. Vou ficar por aqui mesmo.

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