Efeito globalização

A decisão de rebaixar a nota dos EUA desencadeia a queda da confiança dos investidores e consumidores, o que agrava ainda mais o risco de recessão global



✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Numa decisão histórica e controversa, uma agência de classificação de risco chinesa (Dagong Global Credit Rating CO., LTD.) rebaixou a nota dos Estados Unidos da América de “A+” para “A”. A decisão da agência chinesa foi reforçada pela agência norte-americana S&P apenas quatro dias após, e decidiu rebaixar a nota dos EUA para “AA+”, perdendo seu “porto seguro AAA” – melhor nota que um país pode atingir.

A decisão da agência norte-americana foi (e está sendo) amplamente questionada pelos governos soberanos, tanto pelos EUA como pela Europa e o Brasil, pois se argumenta que não houve qualquer mudança estrutural na economia dos EUA ao longo dos últimos 24 meses que pudesse mudar sua trajetória de longo prazo e que ratificasse o atual rebaixamento.

Em tempo, vale lembrar que a própria S&P já havia ameaçado rebaixar a nota do Brasil em maio deste ano, enquanto outras duas também importantes agências internacionais decidiram elevar a nota do país como forma de reconhecer que a economia nacional melhorou seus fundamentos, mesmo que ainda de forma comedida.

continua após o anúncio

É importante reiterar que toda e qualquer decisão sobre alteração de nota de crédito de um país, em um mundo financeiramente globalizado, deve ser tomada com a mais ampla certeza possível, pois os efeitos colaterais, em geral, são potencializados, seja para o bem ou para o mal, como é o caso do Brasil que está a cada dia mais globalizado, vis-à-vis a recente alteração no IOF para derivativos cambiais.

Por exemplo, o Brasil recebeu pela primeira vez em sua história uma classificação de “Grau de Investimento” em 2008. A partir dessa ação, o país passou a receber um maior volume de recursos estrangeiros que não eram aportados no Brasil em virtude de sua classificação de “Grau Especulativo” não permitir em alguns casos, como, por exemplo, fundos de pensão. A partir do recebimento da classificação de Grau de Investimento, em 2008, o volume de investimentos estrangeiro direto (IED) subiu consideravelmente e passou de US$ 34,6 bilhões em 2007 para US$ 45,1 bilhões em 2008 e deve superar a marca de US$ 55 bilhões em 2011.

continua após o anúncio

Na economia global, o atual rebaixamento da nota dos EUA tem efeitos muito negativos. Em primeiro lugar, há um desencadeamento de queda da confiança dos investidores e consumidores, fato que agrava ainda mais a condição de risco de recessão global, mesmo que ainda tenha poucas chances desse cenário se materializar.

Em segundo lugar, os efeitos sobre as economias periféricas são ainda mais devastadores, como quedas bruscas e consecutivas nos ativos financeiros, por exemplo, bolsa de valores, bem como desvalorização da moeda e aumento do risco de transferência de custos no atacado para o varejo, fomentando um processo inflacionário.

continua após o anúncio

Em terceiro lugar, e talvez o mais crítico, os canais de financiamentos externos para as empresas nacionais tendem a se estreitar, e até secar em alguns casos, resultando na elevação do custo do capital no mercado local que, em geral, já mantém custos de financiamentos muito elevados, além de interromperem ou reduzir os investimentos no setor produtivo.

Em 2008, logo após a eclosão da crise financeira global, os canais de financiamentos externos ao Brasil foram praticamente fechados e as empresas e consumidores tiveram que amargar custos maiores por algum tempo, até que a situação fosse relativamente normalizada no cenário externo, mesmo que internamente o Brasil estivesse vivendo uma condição econômica estável.

continua após o anúncio

Por fim, o mais agravante dessa situação macroeconômica é que os efeitos negativos já passam do terreno financeiro e econômico, este último mais restrito às economias desenvolvidas, e entra no terreno psicológico que é a confiança dos agentes econômicos, em especial os investidores e consumidores. Pois, não serão medidas governamentais, como estímulo fiscal ou monetário, que farão esses agentes mudarem seus pensamentos em relação ao futuro e ficarem mais confiantes. É um cenário de difícil trato!

(*) Alex Agostini é economista-chefe da Austin Rating, coordenador da área de projetos e estudos especiais, responsável pela área de rating de entes públicos e professor universitário.

continua após o anúncio
continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247