Economia solidária pode ajudar a reindustrializar o país, diz Renato Dagnino

Especialista defendeu sistemas de autogestão e propriedades coletivas como medidas reformistas de diminuição das desigualdades; veja video na íntegra

(Foto: Reprodução)


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Opera Mundi - No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta sexta-feira (29/04), o jornalista Breno Altman entrevistou o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Renato Dagnino sobre economia solidária, sua especialidade.

"A economia capitalista não está funcionando, então se propõe num arranjo econômico-produtivo cuja base não é a empresa. A economia solidária é um conjunto de ‘empreendimentos’ solidários baseados na propriedade coletiva dos meios de produção. Ela não tem dono, nem salário. Os participantes pegam o que foi arrecadado e o dividem da forma como o coletivo decidir”, explicou.

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Segundo ele, essa modalidade é interessante, não só para driblar a exploração que ocorre nos arranjos de produção e consumo tradicionais (privados), mas também para empregar cerca de 80 milhões de pessoas com capacidade de trabalhar e gerar riqueza “que nunca tiveram, nem nunca terão emprego”.

Além disso, Dagnino enxerga a economia solidária “como a alternativa para a reindustrialização do país”. O professor explicou que não se pode reativar a economia mantendo o “mito de que a indústria é sinônimo de empresa privada”.

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“Se a gente for implementar uma estratégia de industrialização empresarial, como fizemos 20 anos atrás, pouca coisa será feita para beneficiar a classe trabalhadora; e muita coisa poderá ser desfeita. Agora podemos recomeçar um ciclo de crescimento econômico mais virtuoso se uma parte do recurso público for alocada para a economia solidária. O Bolsa Família gastou só 0,5% do PIB, dinheiro de pinga, e tirou mais de trinta milhões da pobreza extrema. Imagina o que poderíamos fazer com um pouco do que o Estado compra da empresa pública, que é 18% do PIB!. É possível fazer uma revolução no país reconstruindo o país, como temos que fazer, com economia solidária”, defendeu.

O professor se mostrou otimista de que a reindustrialização solidária possa vir a ser uma estratégia de um futuro governo de esquerda. E destacou que ela deverá contar com um subsídio do Estado análogo ao que recebe a empresa. “Não há como convencer uma organização empresarial em apostar na economia solidária”, diz ele. É essencial que os movimentos sociais pressionem para disputar o apoio do Estado para poder atender as demandas das famílias e a compra estatal.

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“Isso exigira uma modificação em toda a lei de compras estatais, por exemplo permitindo que uma parte do pagamento das encomendas para a economia solidária ocorresse antes da entrega do produto. A economia solidária teria a capacidade de atender muitos segmentos da área de construção civil, saneamento, têxtil”, listou.

Luta social e reformismo

A economia solidária se constitui a partir dos movimentos sociais e não dos que têm carteira assinada, dos trabalhadores sindicalizados, dos sindicatos. Segundo Dagnino, é importante entender que “o futuro não está para os sindicatos. Eles estão perdendo força, temos que conversar para mostrar que o sindicato precisa se reinventar, contemplar a demanda por direitos dos trabalhadores não sindicalizados, perceber a importância da economia solidária como fato portador de futuro”.

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Outro desafio será interligar os empreendimentos solidários entre eles, “um não compra do outra, não ocorre com a intensidade necessária a formação de redes”. Há que adensar e prolongar as cadeias de produção e consumo solidários.

E, tudo isso tem que ser feito dentro do sistema capitalista. O professor reconheceu que o projeto seria um de “ir comendo pelas bordas”. Por isso, ele diz que a economia solidária é uma proposta criticada até mesmo dentro da esquerda: “somos chamados por alguns companheiros de colaboracionistas e quase que acusados de distrair a classe trabalhadora da sua luta contra o capital”.

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“A gente aceita essas críticas, claro que somos reformistas. Mas sabemos que não teremos uma revolução socialista tão cedo e o que aparece como alternativa é uma opção melhor do que a do socialismo real, que se tentou construir a partir da tecnociência capitalista (e não da tecnociência solidária), da propriedade estatal e da heterogestão. nós sabemos que economia solidária terá que se consolidar nas brechas do capitalismo”, enfatizou.

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