Com pressão de Dilma ou não, BC acertou a mão

Ao derrubar taxa de juros em meio ponto porcentual, Banco Central comeou o dia sob ataque, mas o mercado entendeu que o crescimento voltou a ser o remdio brasileiro contra crise



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247 – O mercado calou hoje os analistas que classificaram como erro histórico a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir em meio ponto porcentual a taxa básica de juros da economia (Selic), fixando-a ontem, no final da tarde, em 12%. Após abrir em alta, contrariando as previsões que apontavam para um dia difícil, a Bolsa de Valores de São Paulo só fez acelerar, chegando, às 16h30, perto do fechamento do pregão, a uma elevação de 3,26%, aos 58.339 pontos. O aquecimento da bolsa reflete a percepção dos investidores de que, com juros mais baixos, as empresas encontrem melhores condições para crescer. O mercado parece ter entendido que a discussão sobre se o governo pressionou ou não o Banco Central a reduzir a taxa era uma discussão estéril diante dos efeitos práticos do corte na Selic. O movimento igualmente simbolizou um compromisso maior do governo com o crescimento do que com o controle da inflação.

A alta no Ibovespa, ainda mais significativa por se tratar da sexta elevação consecutiva, e no maior porcentual, se deu na contra-mão do desempenho dos mercados internacionais. As bolsas de Nova York e Frankfurt, no mesmo momento em que a bolsa brasileira disparava, caiam, respectivamente, 0,88% e 0,94%. A bolsa eletrônica Nasdaq igualmente declinava, em 1,09%. A exceção estava em Paris, mas apenas com ligeira alta de 0,28%.

O governo reagiu às acusações que teria pressionado o presidente do BC, Alexandre Tombini, a baixar a Selic em razão de conveniências políticas.

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O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse hoje que essas críticas subestimam o papel do Banco Central (BC). "Acho estranho que quando o Banco Central eleva os juros, nunca se fala em interferência do Palácio do Planalto. Então, essa crítica, agora, subestima o papel do Banco Central nos últimos anos. O que o Banco Central fez foi uma análise da crise internacional e uma observação das medidas do governo, como essa última relativa ao superávit", afirmou.

Apesar de negar a interferência, Carvalho admite que o governo gostou da decisão do BC. "O governo vê com bons olhos porque isso pode ajudar a retomada da economia, em um momento crítico", disse. Ele negou que o aumento do superávit primário, anunciado esta semana pelo governo, seja contraditório com a proposta de orçamento de 2012, que prevê um superávit menor. Segundo Carvalho, foi possível aumentar o esforço fiscal este ano porque a arrecadação está acima do previsto e o mesmo poderá ser feito em relação a 2012.

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O ex-presidente do Banco Central (BC) Gustavo Loyola afirmou hoje que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de ontem de reduzir o juro básico da economia de 12,50% ao ano para 12% ao ano foi "equivocada" e mostrou certa imprudência do colegiado do BC. "A grande dúvida hoje é saber se o Banco Central tem autonomia na política monetária", comentou, referindo-se a eventual capitulação do Copom a pressões políticas vindas do Palácio do Planalto e do Ministério da Fazenda para que fosse iniciado imediatamente um ciclo de redução da taxa Selic. "A credibilidade do BC está em xeque", afirmou.

Para Loyola, o sistema de metas de inflação puro, que persegue um objetivo central, aparentemente está abalado. "Ninguém sabe mais qual é a meta de inflação, se é 4,5% ou mais", afirmou. "Ela existe apenas no papel."

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Segundo ele, a Tendências Consultoria Integrada, da qual é sócio prevê que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegará a 6,6% este ano e a 5,4% em 2012, mas com a redução inesperada dos juros ele acredita que certamente a taxa subirá. "A inflação pode agora chegar a 6% em 2012", disse.

Para Loyola, o presidente do BC, Alexandre Tombini, seguramente tem uma visão privilegiada sobre o cenário de crise internacional, até porque participou do encontro de presidentes de BCs realizado na semana passada em Jackson Hole, EUA. Contudo ele ponderou que seria mais adequado que a autoridade monetária brasileira tivesse utilizado mecanismos de comunicação para informar aos agentes econômicos que uma recessão mundial é inevitável no curto prazo e isso gerará efeitos desinflacionários em nível global, que seriam incorporados no Brasil em breve.

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"O BC não convenceu. Não há evidências de que o mundo vai entrar em recessão tão rapidamente. Além disso, a inflação está acima da meta e as expectativas para o próximo ano apontam que ela também está distante dos 4,5%", afirmou Loyola.

"A decisão do BC foi precipitada. Muita gente poderá, a partir de agora, ficar com a avaliação segundo a qual fatores não objetivos e técnicos, ou forças ocultas, influenciaram a queda dos juros", afirmou.

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