Com combustíveis em alta, governo terá presidente 'tampão' e menos força na Petrobrás

Petrobrás terá mais investidores no conselho de administração

Sede da Petrobras no Centro do Rio.
Sede da Petrobras no Centro do Rio. (Foto: © Fernando Frazão/Agência Brasil)


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Brasil de Fato - A ideia do presidente Jair Bolsonaro (PL) de mudar a direção da Petrobrás para demonstrar força e preocupação com a alta dos combustíveis durante o ano eleitoral fracassou. Um mês após a estatal anunciar um mega-aumento da gasolina e do diesel, o governo conseguiu apenas que sua segunda indicação –a do químico José Mauro Ferreira Coelho– tomasse posse na presidência da companhia. Também viu aumentar o poder de investidores interessados em preços altos no conselho de administração da empresa.

Até a assembleia de acionistas da Petrobrás, na quarta-feira (13), esses investidores tinham três cadeiras das 11 do conselho. O governo tinha sete.

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Mas na quarta, a assembleia elegeu para o conselho quatro representantes de investidores. Isso reduziu para seis a representação do governo.

A 11ª vaga é de um representante de funcionários da Petrobrás.

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O conselho de administração é a principal instância decisória da Petrobrás. É quem aprova planos estratégicos e maiores negócios.

Com menos representantes no foro, o governo perdeu força sobre a companhia. Apesar de ainda controlar a maioria dos votos, esse número já foi maior, assim como o poder do Estado brasileiro sobre a estatal.

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“Foi uma derrota para o governo”, afirmou Rosângela Buzanelli, integrante do conselho de administração da Petrobrás eleita pelos funcionários. “Além de perder uma cadeira no conselho, o governo não conseguiu que seu primeiro indicado assumisse a presidência.”

O primeiro indicado era o consultor Adriano Pires. Ele foi apontado à presidência da Petrobrás pelo Ministério de Minas e Energia após a demissão do general da reserva Joaquim Silva e Luna. A relação de Pires com petroleiras privadas, entretanto, levantou questionamentos sobre eventuais conflitos de interesse. Ele desistiu do cargo.

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José Mauro Coelho, então, foi indicado. Ele tomou posse como presidente na quinta-feira (14). Em discurso, agradeceu ao presidente Bolsonaro. Prometeu avançar em projetos de vendas de refinarias e outras partes da Petrobrás, assim como manter a política de preços da companhia, responsável pelo aumento generalizado de combustíveis no país.

Interesses privados

As vendas e a política de preços fazem parte do plano estratégico da Petrobrás anunciado em 2016, após o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), com o objetivo de aumentar a lucratividade estatal e, consequentemente, o ganho de acionistas.

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Em 2021, a Petrobrás obteve lucro recorde de R$ 106 bilhões –1.400% a mais do que em 2020. Disso, R$ 100 bilhões serão distribuídos a investidores em forma de dividendos.

A União, dona de quase 37% da empresa, receberá mais de R$ 37 bilhões. Já os acionistas privados ficam com o restante, quase R$ 63 bilhões.

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Atualmente, somente 18% dos acionistas privados da Petrobrás são brasileiros. Os outros 45% são estrangeiros.

Segundo Buzanelli, a participação privada no capital social da Petrobrás vem crescendo. O crescimento ocorre porque o governo está se desfazendo das ações que possuía. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo, tinha cerca de 15% das ações da Petrobras em 2017. Hoje, tem menos de 8%.

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Com mais ações, investidores também ganharam poder de decisão sobre a Petrobrás. O aumento da participação deles no conselho, explicou a conselheira, tem a ver com esse processo.

"Está muito crítica a situação da Petrobrás. É uma empresa que tem 63% do meu capital social nas mãos de investidores privados", afirmou.

Capital e governo

A representante dos funcionários disse que, neste momento, governo e investidores trabalham em conjunto pois têm interesses em comum. Para ela, apesar de Bolsonaro dar declarações públicas criticando a alta da gasolina, seus indicados à Petrobrás defendem a atual política de preços da companhia e aumentam o ganho de acionistas com isso.

Buzanelli ressaltou que o novo conselho de administração da Petrobrás tem membros com mandato até 2023. Isso significa que, mesmo em uma eventual mudança de governo, os investidores ainda vão manter representatividade e criar entraves para que a estatal adote uma gestão diferente da atual.

Na última assembleia de acionistas, inclusive, seria votada uma mudança no estatuto da Petrobrás para reduzir a possibilidade do governo intervir na empresa. A proposta tinha apoio dos investidores, mas acabou saindo da pauta a pedido do governo.

Segundo fontes ouvidas pelo Brasil de Fato, o governo solicitou a retirada da proposta da pauta por ora, mas não é contrário a ela. Para eles, Bolsonaro quer “blindar” a Petrobrás para caso perca as eleições –o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera todas as pesquisas.

A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e a Associação Nacional dos Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobrás (Anapetro) se manifestaram contra a proposta.

“Somos contrários às alterações estatutárias pois elas retiram o poder do acionista controlador, que é o Estado brasileiro, e este tem como dever constitucional atender o interesse público e não os interesses do acionista especulativo”, disse Mario Dal Zot, presidente da Anapetro.

“A mudança estatutária colocaria a Petrobrás sob o crivo e controle absoluto de seus acionistas privados, diminuindo sua capacidade de responder aos chamados da União”, acrescentou Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP.

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