As dores de cabeça do varejo farmacêutico

Aquisio da paraense Big Ben pela holding BTG Pactual e a fora cada vez maior das farmcias ligadas a redes de super e hipermercados amplia o temor de micro e pequenos empresrios quanto ao fim das chamadas farmcias de bairros

As dores de cabeça do varejo farmacêutico
As dores de cabeça do varejo farmacêutico (Foto: Shutterstock)


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Tércio Amaral_ PE247 – “As farmácias de bairro estão com os dias contados”, diz o comerciante e funcionário público Luiz Cavalcanti, que comanda ao lado de seu pai, o empresário Luiz Prestes, de 80 anos, a Farmácia Confiança. O estabelecimento funciona desde 1971, na Rua do Espinheiro, no bairro de mesmo nome. Durante este tempo, os dois chegaram a possuir, inclusive, uma filial na vizinha Encruzilhada, que fechou as portas por conta das dificuldades de acesso, como falta de estacionamento e trânsito intenso. A afirmação pessimista do negociante faz parte do novo “perfil” e reorganização do mercado de farmácias no Estado, que está sendo invadido pelas grandes redes do setor.

A concentração de diversas farmácias e drogarias em torno de um único grupo é uma nova tendência do setor varejista de medicamentos no País. Recentemente, em Pernambuco, os pequenos empresários do segmento sofreram um “duro golpe”. Isso porque a Brazil Pharma, holding das farmácias BTG Pactual que já controla no Estado as Farmácias Guararapes, comprou o Grupo paraense Big Ben por R$ 453,6 milhões. A negociação, realizada no início de novembro, coloca nas mãos da Brazil Pharma mais 146 lojas nas regiões Norte e  Nordeste, distribuídas pelos Estados do Pará, Amapá, Maranhão, Piauí, Paraíba e Pernambuco.

“Este tipo de negociação acaba com o pequeno dono de farmácia. Por ter um forte poder de compra, eles negociam preços bem menores com os fabricantes. Para você ter ideia, num remédio de prescrição médica, o preço deles é, em média, 10% menor que o nosso. Já nos medicamentos populares, como vitaminas, este percentual chega a 30%”, diz Luiz Cavalcanti, frisando que os pequenos vêm sobrevivendo graças ao bom atendimento e fidelização dos clientes. “Muitos dos meus clientes foram criados no bairro, moravam por aqui, perguntam pelo meu pai. A gente tenta negociar um bom preço sempre, mas às vezes é difícil”, reclama.

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A reportagem do PE247 entrou em contato com executivos das redes Big Ben e Guararapes para saber se os planos de expansão das duas marcas ainda estão mantidos em Pernambuco. A Big Ben, por exemplo, chegou a anunciar um plano de 40 novas lojas no Estado até 2013. Já a Guararapes, que já havia adquiridos 23 pontos da tradicional Farmácia dos Pobres, pretendia fechar 2011 com 90 lojas em Pernambuco. “Desde o começo de dezembro que não podemos falar sem a autorização do departamento de comunicação em São Paulo. Nossa companhia (Brazil Pharma) está presente em 15 Estados e é preciso uma uniformidade do discurso”, garantiu o presidente da Guararapes, Gilberto Portela. Já a responsável pela Big Ben em Pernambuco, Renata Milfont, pediu para a reportagem retornar a ligação no final de janeiro do ano que vem, quando “as coisas estiverem mais certas”.

Comerciantes sem saída

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Além das grandes redes que estão concentrando as vendas no mercado, os micro e pequenos empresários do setor farmacûtico ganharam um forte concorrente nos últimos anos: as farmácias instaladas em supermercados. O grupo norte-americano Wal Wart, que controla no Brasil as marcas Bompreço e Hiperbompreço, está de olho no potencial deste mercado. Em Pernambuco já estão instaladas 24 Farmácias Bompreço nos supermercados, sendo 14 delas na cidade do Recife. “As pessoas vão comprar comida e terminam levando um remédio”, aponta Luiz.

O aparecimento das farmácias com este perfil “multi-funcional” também não vem agradando o Sindicato de Farmácias de Pernambuco (Sincofarma-PE). O presidente da instituição, o empresário Ozeas Gomes, acredita que as farmácias estão perdendo o sentido social, cuja essência é vender remédios. “Hoje, você compra celulares, produtos, chocolates e até bebidas. Não existe uma fiscalização séria para inibir este tipo de comercialização”, argumenta.

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Segundo ele, o Sincofarma tentou implantar no Estado uma lei que garantisse um raio mínimo de distâncias entre farmácias. “Não quiseram a proposta, pois afirmaram que o Brasil é um mercado livre, ninguém pode interferir na economia. Mas e esta concentração, quem controla?”, questiona. Segundo ele, o aparecimento destas redes deve comprometer, no futuro, a permanência dos pequenos empresários do setor.

“No Paraná e no Sul do Brasil é muito comum a existência de cooperativas. Infelizmente, esta poderá ser a única saída da gente no futuro. Pois, só assim teremos um poder de compra para competir nos preços adotados no mercado”, completou, enfatizando que este é um problema de mentalidade do empresariado estadual. “Ninguém pensa nisso aqui, mas vai ter o momento que ou se funda uma cooperativa, ou se fecha as portas. É uma questão de sobrevivência”.

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