André Esteves, o banqueiro mais arrojado do mundo
Dono do BTG Pactual e de uma fortuna de U$S 3 bilhes o primeiro empreendedor retratado na srie Made in Brasil
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Por Marco Damiani
- Aqui não tem ninguém bonzinho!
Disparada por um dos sócios do BTG Pactual, a frase é fundamental para explicar a personalidade do banqueiro André Esteves, o chefe da turma de 1.100 funcionários que circulam dentro de um banco que vale US$ 10 bilhões. Não que Esteves, como é chamado por seus sócios – e eles são mais de 50 --, seja mal, mas é melhor não disputar com ele uma moedinha reluzente no chão: você pode levar um chega para lá. O mais bem sucedido banqueiro brasileiro da nova geração, que supera em arrojo seu mestre Jorge Paulo Lemann, simplesmente adora ganhar dinheiro. E topa as paradas mais arriscadas para fazer sua piscina de moedas cada vez mais profunda e cheia.
- De quanto é o ‘deal’?, costuma perguntar Esteves, quando seu telefone celular toca, ainda que esteja num almoço ou em meio a outro negócio.
- Duzentos milhões? Estou indo ai, completou, no dia em que dividimos a mesma mesa, encerrando profissionalmente a conversa para correr para a Bovespa. De táxi, por ser mais rápido.
Àquela altura, Esteves já liderava o Pactual e deixara na poeira a lembrança do carismático fundador Luiz Cezar Fernandes. Ainda rejeitava ser fotografado e reclamava de perguntas mais diretas. Parecia um rapagão mimado.
- Eu não sabia que haveria esse tipo de questionamento, rebatia, quando a interrogação do repórter tinha a ver com o estágio da venda do banco para os americanos do Goldman Sachs. Ora! Corria o final do ano de 2005 e não se falava em outro assunto nos meios financeiros. O Pactual que nascera no Rio de Janeiro, crescera sob o comando de Fernandes e avançava pelos novos rumos estabelecidos por Esteves e seus sócios – especialmente no assessoramento à abertura de capital das companhias brasileiras -- estava quase sendo vendido, em parte, ao Goldman. As negociações se arrastavam pelos últimos meses. Do lado brasileiro, havia reclamações sobre o estilo dos compradores, que chegavam em grandes delegações, olhavam a todos por cima dos óculos, mais pareciam inspetores de qualidade do que futuros parceiros. Mas, fazer o que, os americanos é quem estavam com o capital necessário para o banco crescer...
No board do Pactual, então formado por apenas quatro sócios-executivos, a Esteves, o mais jovem e que já tinha mais ações que os outros, coube a tarefa de liderar o processo de venda. Era mais que compreensível que negaceasse diante de perguntas inquisitórias. Vivia um momento de tensão. Puxa daqui, estica dali, nos dias posteriores ao almoço frugal a oferta do Goldman se consolidou e, quando tudo parecia certo para a entrada dos americanos em 49% do capital do Pactual, eles pisaram no calo de Esteves. À undécima hora, exigiram uma cadeira a mais no conselho de comando: quatro contra três. Falou mais alto, então, o tino presente apenas nos homens de negócios talhados para vencer – e com aquela dose de sorte que os diferencia. Depois de rápida consulta aos três sócios-diretores, Esteves disse não ao Goldman. Mandou reunir todos os funcionários em vídeo conferência (ele ainda mantinha o Rio de Janeiro, na torre de escritórios do shopping Rio Sul., como base pessoal) e avisou que o negócio estava desfeito. “Acabou”, resumiu. Nascia ali, ainda que não soubesse, o maior banqueiro do mundo da nova geração – e não apenas do Brasil.
Enquanto seu pessoal no Pactual mergulhava no trabalho do dia a dia, com entusiasmo redobrado pela frustração sobre o longo processo não concretizado, Esteves recebeu os sinais de um novo interessado na posse do banco. Trabalhou em silêncio, com absoluto segredo. Ninguém soube de nada, fora de alguns poucos dentro da instituição, até o dia do anúncio, em maio de 2006: por US$ 3,1 bilhões, os suíços do UBS compravam o Pactual. Vitorioso, com a conta corrente forrada, lá se foi Esteves para Londres, com filhos matriculados em nova escola e ele próprio no cargo de gerente global do UBS para a área de renda fixa. Ali, não se sentiu bem (renda fixa?!?) e, irriquieto, fez por onde se atrever a, no ano seguinte, fazer uma proposta para comprar as operações do próprio UBS para a América Latina. Pareceu desfeita as suíços, que tentaram colocar Esteves na geladeira - e ele saiu. Com a crise financeira global atingindo duramente os resultados do banco suiço, o UBS achou melhor, mais tarde, revender o Pactual para Esteves e seus sócios, reunidos na sigla BTG (Back to The Game, como passou a ser conhecida)– e com Persio Arida entre eles – por US$ 2,6 bilhões. Ou US$ 500 milhões menos do que fora vendido dois anos antes.
- Quando recompramos o banco, estávamos no meio de uma recessão, havia muita incerteza, respondeu Esteves ao jornalista David Friedlander, de O Estado de S. Paulo, em dezembro do ano passado. "O preço foi justo".
Daí em diante, com as rédeas novamente nas mãos, Esteves tocou a espora. Internamente, voltaram a prevalecer seus mandamentos principais, que tem a meritocracia como pano de fundo:
I – Dividir é ganhar - o que justifica a cessão ou venda de ações para atrair novos sócios;
II – Alinhamento de interesses – manutenção no mesmo plano dos investimentos dos banqueiros e seus clientes;
III – Todos são iguais – explicação para o fato de Esteves não ter sala, mas sim uma mesa como os demais;
IV – Uma empresa fala pelos sinais - sobre o padrão confortável sem luxo excessivo das instalações do banco;
V – Não tenha medo dos subordinados – incentivo ao crescimento de quem está no fim da fila.
Conhecedor dos meandros do poderoso UBS, Esteves carregou de lá os melhores quadros para o renovado BTG Pactual. Montou uma poderosa sucursal em Nova York, outra em Londres, mais uma em Hong Kong, passou a adquirir empresas nacionais com grande fluxo de caixa, como redes de postos de gasolina, de farmárcias, de eletrodomésticos, de hospitais, contratou mais mentes brilhantes e até, de quebra, ficou com o Banco Panamericano, ex-Silvio Santos, para procurar atuar no varejo do qual sempre se afastou. Nesse caminho, segundo a lista dos mais ricos da Forbes amealhou uma fortuna pessoal estimada, em 2010, em US$ 3 bilhões – US$ 10 bi a menos que seu mestre Lemann, o que lhe serve de estímulo. O negócio de maior impacto, porém, parece mesmo ter sido a recente venda de 18% do BTG Pactual, por US$ 1,8 bilhão, para os fundos soberanos da China, Cingapura e Abu Dabi, além das famílias Lord Rothschild, da Inglaterra, Agnelli, da Itália, o Fundo de Pensão dos Professores de Ontário, do Canadá, a J.C. Flowers & Co., a RIT Capital Partners, o Grupo Santo Domingo, da Colômbia, e a Inversiones Bahia, holding da família Motta, da Espanha. Uma costura e tanto, feita pessoalmente por ele e Arida, que cortam os céus à bordo de um Legacy agitando as finanças globais. E, convenhamos, não é para qualquer um fazer dos bicentenários Rothschild sócios minoritários...num banco!
Técnico de computadores, que entrou no Pactual como estagiário, André Esteves realizou todos esses feitos em pouco mais de quinze anos de atuação. Pode-se achá-lo um tanto mimado, pode-se dizer que ele gosta muito de dinheiro. Mas não dá para não dizer que este banqueiro legitimamente Made in Brasil tornou-se uma referência global que tem na sua base uma característica que o diferencia de seus pares de outras plagas: ter nascido aqui. Em qual outra parte, em tão pouco tempo, poderia ter feito o mesmo?
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