Acordo da dívida nos EUA abala futuro de Obama

Enquanto predominar a lógica do mercado financeiro de adotar a receita do corte de gastos com prioridade ao salvamento dos bancos, serão os cidadãos e as nações que ficarão ao relento



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Após um período considerável de negociações, o governo dos EUA foi obrigado a aceitar nesta semana acordo para a ampliação do teto da dívida americana, evitando um inimaginável calote, mas se comprometendo com um cronograma de corte de gastos da ordem de US$ 3,3 trilhões.

O saldo do acordo ainda está em aberto, especialmente por conta das instabilidades econômicas na Europa a multiplicar as incertezas ao redor do mundo. Mas o que se viu nos primeiros dias após o anúncio do acordo foi a queda generalizada nas bolsas de valores.

Uma primeira constatação inescapável é que a situação americana é complexa e não haverá soluções fáceis. Mas, do ponto de vista político, há o efeito imediato de comprometer todo o plano do governo Barack Obama para retirar o país da situação de desaquecimento econômico e altos níveis de desemprego. Assim, o acordo se configura numa espécie de “sentença de morte política” de Obama, em um momento em que sua candidatura à reeleição em 2012 já está colocada.

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Tudo porque Obama aceitou imposições de setores da extrema direita do Partido Republicano, a chamada bancada do Tea Party, que significam anuência a cortes orçamentários sem aumento de impostos para os mais ricos. E essas medidas são contrárias ao programa pelo qual Obama foi eleito.

Assim, além de colocar em risco o reaquecimento da economia norte-americana, o acordo enterra os sonhos e, particularmente, submete a maior economia do mundo à mesma lógica que levou a Europa ao desastre atual, onde os cortes e a austeridade são para salvar os bancos.

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E esse é um ponto central na atual crise econômica internacional: enquanto predominar a lógica do mercado financeiro de adotar a receita do corte de gastos com prioridade ao salvamento dos bancos, serão os cidadãos e as nações que ficarão ao relento. O preço é alto demais para as sociedades pagarem, e o resultado é recessão e desemprego.

É preciso renovar as reflexões sobre como sair da crise, e o surgimento de novos movimentos, manifestações populares e partidos, ou mesmo a permanência dos atuais partidos desde que com renovação das lideranças, parece ser um alento nesse sentido. A esperança é que os movimentos de protesto e pressão por novas políticas possam resgatar os sonhos por um mundo melhor, porque os sonhos são os verdadeiros motores da marcha da história.

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Infelizmente, a perspectiva não é nada promissora —seja na Europa, seja nos EUA. Há muita incerteza e fragilidade a alimentar a fogueira da crise, aproximando o momento atual daquele vivido em 2008, quando a crise eclodiu. Um dos meios para superá-la é retomar o esforço conjunto de enfrentamento dos problemas, que perdeu força tão logo alguns pequenos sinais de recuperação econômica apareceram.

Nesse sentido, se não houver valorização dos fóruns multilaterais de negociação, com envolvimento e maior poder de decisão por parte das nações emergentes, não será possível equacionar os graves problemas econômicos mundiais. O mundo experimenta inflação internacional em curso, puxada pelas commodities, e guerras cambiais e comerciais intensas, reflexos da opção por agir separadamente, com cada país atuando para se defender e se proteger.

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É preciso, finalmente, reforçar os caminhos que possam mudar os eixos principais das políticas recessivas até agora utilizadas na Europa —e que se avizinham os EUA. O foco deve ser o crescimento, única saída para a recuperação econômica e geração de empregos. Do contrário, estaremos agravando ainda mais os problemas.

José Dirceu, 65, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT

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