Velocidade, tempo e paciência
Se a velocidade atropela o tempo, não houve paciência, e o ritmo desanda. Assim como é na música e na dança, é também na vida
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A velocidade do mundo me espanta. Lembro, há alguns anos, que antes de iniciar uma partida de futebol, a emissora anunciava, solenemente: “atenção para o top de 8 segundos”. Tempos depois, o top passou a ser de 5 segundos. Hoje, isso nem mais existe. É que as pessoas não têm paciência para perder tempo.
Por outro lado, essas mesmas pessoas têm tempo de sobra para perder a paciência, com coisas banais, por exemplo. No trânsito é onde se constata isso claramente. Basta alguém demorar dois segundos para arrancar o carro quando o semáforo fica verde que já surgem diversas buzinas, mãos nervosas, a disparar uma metralhadora sonora contra o ‘molenga’. E os “apressados” encontram tempo para perder a paciência em cada cruzamento.
No campo da comunicação, o exemplo clássico desta velocidade do mundo se traduz em ser compacto. Já reparou em comerciais de televisão e rádio, principalmente de remédios e automóveis, que no último segundo, quando você pensa que não há mais tempo, aparece um narrador de “100 metros rasos de palavras”, que atropela a frase e diz, num instante impossível: “essemedicamentoécontraindicadoemcasodesuspeitadedengue” ou então, “apersistiremossintomasomédicodeveráserconsultado”, ou ainda, “cintodesegurançasalvavidas’.
Já no Twitter, a velocidade se expressa em 140 caracteres. Não há espaço para textos longos, divagações infindáveis ou digressões filosóficas. As pessoas não têm paciência para ler. Os 140 caracteres do Twitter mataram a verborragia e os pensamentos imperfeitos. Por um lado, isso é positivo. Deveria até ser estendido aos políticos. Imagine discursos políticos tendo que ser elaborados para caber em 140 caracteres? Seriam muito menos enfadonhos e o horário gratuito eleitoral seria bem menor.
Em resumo, velocidade, tempo e paciência nada mais são do que elementos do ritmo. Se a velocidade atropela o tempo, não houve paciência, e o ritmo desanda. Ao contrário, se a velocidade e o tempo estão perfeitamente alinhados e são executados com a paciência necessária, a coisa funciona.
Assim como é na música e na dança, é também na vida.
Se você teve paciência e tempo para ler este texto, na velocidade necessária, já terá sido um bom começo.
Luciano Gil é advogado formado pela Faculdade Mineira de Direito da PUC-Minas
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