Vargas Llosa celebra os 50 anos do lançamento de seu primeiro livro

"A cidade e os cachorros"  ganhou uma edição comemorativa; escritor, que ganhou o prêmio Nobel de Literatura de 2010, teme que livros sejam extintos por formas digitais

Vargas Llosa celebra os 50 anos do lançamento de seu primeiro livro
Vargas Llosa celebra os 50 anos do lançamento de seu primeiro livro


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Opera Mundi - O escritor peruano Mario Vargas Llosa comemorou em Nova York o 50ª aniversário de A cidade e os cachorros, seu primeiro romance, que ganhou uma edição comemorativa e com o qual o prêmio Nobel começou na literatura, um "mistério" que ainda o "apaixona".

"Escrever é apaixonante. Sinto a mesma ilusão e dificuldades que tive quando escrevi meus primeiros contos. Não tenho facilidade para escrever, mas as dificuldades não tiram nada da fascinação, da exaltação e do entusiasmo", disse Vargas Llosa sobre seu ofício em um encontro no Instituto Cervantes de Nova York.

O escritor se referiu à sensação "extraordinária" que sente quando "a história começa a ter vida própria, algo que sempre é misterioso", e que experimentou diante de cada nova obra de sua carreira, que começou com a publicação de A cidade e os cachorros, em 1962.

"Aprendi muito com este romance, sobre a construção da história, os pontos de vista, a linguagem, adquiri certa técnica que depois repetiria e aperfeiçoaria em outros romances, e forjei uma forma de escrever que tinha a ver com minha personalidade, com minhas simpatias e diferenças no mundo literário", descreveu o autor.

O escritor peruano, que nasceu em Arequipa, em 1936, afirmou que "quase nenhum escritor começa sabendo que tipo de escritor vai ser, já que isso é algo que se descobre com a prática, e por isso as primeiras obras são decisivas".

Além disso, Vargas Llosa lembrou as dificuldades que enfrentou na estreia de seu primeiro romance devido à censura que imperava na Espanha. Segundo ele, a obra só foi publicada graças ao "esforço sobre-humano" de seu editor, Carlos Barral, quem manteve um ano de árduas negociações para que o livro fosse lançado.

"Ele falou com o ministro da Informação, com intelectuais bem-vistos pelo regime (franquista), como José María Valverde, para que falassem bem da obra. E eu também tive que viajar para Madri para manter uma conversa com o chefe da censura", afirmou o escritor.

Vargas Llosa lembrou de momentos de sua entrevista com o censor, que tinha reservas ao uso de frases como a que dizia que um coronel "era gordo, com o ventre de uma baleia", já que a interpretou como uma ironia aos militares. No entanto, o censor concordou em conservar a frase mudando a palavra "baleia" por "cetáceo".

"No final, só tive que tirar oito frases, que eram absurdas e disparatadas, e mesmo assim Barral as restituiu na segunda edição", explicou.

O prêmio Nobel de Literatura de 2010, que brincou dizendo que a condecoração é "uma semana de conto de fadas e um ano de pesadelo", retornou do passado para tratar de temas atuais, como o futuro do livro, "um objeto emblemático da civilização" que enfrenta uma "grande incerteza".

"Minha esperança é que o livro digital coexista com o de papel, e meu temor é que o livro escrito expressamente para as telas, não o transferido, seja muito diferente do tradicional, e que as telas façam o que a televisão fez com seus conteúdos: tornaram eles rápidos, leves e inclusive frívolos", questionou. 

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247