Triste Bahia

Como Salvador ficou fora do circuito das grandes atrações internacionais



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Existem histórias sobre baianos que são difundidas de diversas maneiras. Governo, população local, mídia e mercado musical fazem emergir certa identidade na Bahia que gira em torno do axé. Apropriaram-se dessa identidade como atrativo turístico, o que pode explicar por que a Bahia está fora da rota dos grandes artistas internacionais. Pode explicar, mas não responde satisfatoriamente. Por isso, criam-se os porquês. O primeiro sustenta que "baiano só gosta de axé, pagode e arrocha". Consequência da anterior, outra afirmação garante que "baiano só ouve lixo", a qual leva a terceira, contradizendo – diga-se de passagem –, as já citadas: baiano não valoriza a cultura local, prefere "o que vem de fora" e, portanto, "é alienado". Nessa linha de pensamento, os forasteiros gostam mais da música local do que os nativos.

Um parêntese, por favor: Uma bela noite, passando em frente a uma casa de shows, reparei num gringo que perguntava sobre o que estava tocando lá dentro. Outro cara, educadamente, respondeu: é balada de música brasileira. O gringo ouviu a resposta e subitamente disse: "Brazilian music is sucks". Nem precisava ouvir aquelas palavras para saber que o cenário musical baiano saiu do tom e do mapa. Onde estão os grandes shows? Cadê o Paul McCartney, o Guns and Roses, o AC/DC, cadê a Madonna, a Lady Gaga?

No calor das emoções e frustrações por conta da falta de grandes nomes da música mundial no cenário baiano, surge de tudo um pouco, até mesmo inimizades, desavenças e preconceitos para com si mesmos. Enquanto os pagodeiros querem ralar os "lá eles" no asfalto, os axezeiros continuam querendo sair do chão. O mínimo a se dizer sobre esse embate é que, literalmente, trata-se de uma briga feia. Para os pseudo-defensores dos artistas locais vale o exemplo de Recife, que valoriza o que é deles, mas não abre mão de estar na rota dos grandes shows internacionais. Somente este ano, Black Eyed Peas, The Cranberries, Iron Maiden, A-Ha, Scorpions, Cyndi Lauper e alguns outros, desembarcaram em terras pernambucanas. Enquanto isso, Salvador ficou com o grupo feminino The Iron Maidens (cover do Iron). Parece piada, mas não é.

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Será falta de capacidade para promover grandes shows? Carência de espaços, incentivos públicos ou patrocinadores? Ou o jeitinho baiano de ser temporariamente estudante? Opa! Essa ultima pergunta vale mais algumas linhas. Afinal de contas, quase toda a Bahia tem alguma carteira de meia-entrada. Luisão Pereira, produtor cultural que recentemente trouxe pra cá o cantor e compositor Marcelo Camelo (ex-Los Hermanos), não tem dúvida que essa orgia de carteirinhas inviabiliza a realização de muitos shows nacionais, quem dirá os internacionais. Ele é enfático: "É uma coisa que assusta, a Bahia é o único lugar no Nordeste em que isso existe". Há uns dois anos, ele participou da ida da banda Radiohead ao Rio de Janeiro e disse que tentaram trazer os ingleses para cá, mas os patrocinadores perceberam que seria muito arriscado. Quem daria o primeiro passo por uma experiência que envolve milhões, talvez bilhões de reais?

Triste Bahia que fica fora do circuito enquanto outras capitais soltam o som. O principal destino das estrelas internacionais ainda é o eixo Rio-São. Mas os famosos passam também por Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte. Depois, elas sobrevoam a Bahia e chegam a Recife e Fortaleza. Tudo bem, ano passado trouxeram para Salvador Beyoncé e Black Eyed Peas, mas o prejuízo foi tão grande que nem Jesus escapou da rebordosa. Motivos? Todos acima, ou nenhum deles. Vai saber.

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Segundo semestre chegando e, em outubro, o Eric Clapton vai se apresentar em palcos brazucas - Porto Alegre (dia 6), Rio (dia 9) e São Paulo (dia 12). Não é preciso lembrar que para Salvador: não vai rolar a festa, não vai rolar...

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