Spielberg, a magia do cinema e o horror da guerra

Em seu novo filme, Cavalo de Guerra, diretor constrói grandes imagens e comove (mesmo caindo na pieguice)



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Dono de uma das filmografias mais importantes da história do cinema, Steven Spielberg é o principal expoente de uma rara estirpe de diretores que consegue imprimir nuances do cinema de arte no cinema comercial. Dono de uma filmografia com diversos clássicos como: ET, Indiana Jones e Jurassic Park, Spielberg vinha explorando novos caminhos que o distanciavam do diretor de massas de outrora. Como no denso e corajoso Munique, que obteve êxito artístico apesar de ter fracassado nas bilheterias.

Em Cavalo de Guerra, Spielberg alia com maestria a sua técnica atrás das câmeras para contar da família Narracott e principalmente de Albert (O Insosso estreante Jeremy Irvine). Após um leilão de animais, onde o patriarca (Peter Mullan) em uma atitude imprudente arremata um cavalo sem sangue puro por um valor exorbitante em uma tentativa de confrontar o seu senhorio, Albert toma a responsabilidade de fazer Joey (nome dado ao cavalo) arar a terra castigada ou a família perderá o terreno.

A partir daí, começam os altos e baixos do roteiro escrito por Richard Curtis e Lee Hall. Albert passa a nutrir um afeto exagerado por Joey, aparentemente sem explicação. Melhor desenvolvida no livro, a relação acaba por soar forçada apenas para criar o ponto emotivo que ligará o resto da trama.

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Quando a 1ª guerra mundial explode e o patriarca é obrigado a vender Joey para as linhas de combate, e assim consegue o dinheiro para salvar sua fazenda, Albert entrega Joey aos cuidados do prestativo Capitão Nicholls (Tom Hiddleston), não sem antes fazer a promessa de que um dia trará seu grande amigo para casa novamente.

Começa aí a verdadeira epopéia de Joey pelos campos de batalha, e a partir daí o filme cresce e o seu realizador mostra porque tecnicamente é imbatível no cenário de Hollywood. Quando o destino do Capitão é selado, no que é a melhor cena do filme, onde o uso do close revelando o medo e a desolação no rosto de Tom Hiddleston seguido de um corte que dá sequência visual a cena anterior, Joey vai parar nas mãos do regimento alemão. E então, o cavalo, ser irracional por natureza, acaba por testemunhar a irracionalidade da guerra sob a ótica do americano, do alemão, do judeu, do trabalhador forçado e como mais uma vítima do horror da guerra.

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Com uma montagem eficiente e o realismo sempre esperado nas produções de Spielberg, as cenas nos campos são de uma construção fantástica e contribuem para o clima que se segue. A fotografia do filme evolui de acordo com o espírito da narrativa, variando dos tons claros da bucólica fazenda até o cinza morto dos campos de guerra e evocando o cinema clássico de John Ford e a atmosfera de "E O Vento Levou'' em uma clara referência visual. Mas a direção de Spielberg faz a diferença, e a sua aura de mágico é reforçada, como na espetacular cena do cavalo solto correndo pelas trincheiras. Um exemplo de controle de câmera e de efeitos digitais (desafio alguém a notar a transição entre Cavalo real e seu dublê digital).

Ainda que exagere em sua carga melodramática, como na cena do esperado reencontro entre Joey e Albert, que acaba criando uma expectativa no espectador para se revelar na forma mais anti-climática e piegas possível, Cavalo de Guerra é mais um bom exemplar de filme "de guerra" americano. Mas dessa vez com um protagonista tão irracional quanto ela.

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