Sobre a irrelevância dos prêmios

Se você é artista e ainda não tem seu bonequinho, relaxe! Em geral, prêmios não são critérios para nada



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Forrest Gump (1994) é sobre um sujeito meio idiota, mas toma o espectador por um completo. No roteiro mágico de Erich Roth qualquer idéia engendrada pela mente aérea do protagonista dá certo, qualquer pessoa é passível de estupefação perante tão curiosa criatura. A certa altura do campeonato ele resolve sair correndo sem direção; passa "três anos, dois meses, quatorze dias e dezesseis horas" fazendo isso: correndo. E o que fazem os jornalistas curiosos e os devotos acachapados? Correm atrás dele.

No mesmo ano foi lançado um filme autoral e curioso, repleto de situações bizarras e histórias descontínuas. Pulp Fiction competiu com Forrest Gump na categoria "melhor filme" no Oscar de 1995. Quem você acha que levou o bonequinho pra casa?

Sobre a irrelevância do Oscar, assim disse o pessoal do quadro Qualquer Cinema, que costumava passar na Revista 100,9 da rádio Cultura FM: "Seios protuberantes, bocas carnudas, ternos Armani e birita liberada. Apesar do cheiro de armação pairando no ar, a máquina hollywoodiana e seu complexo de jornalistas, críticos e editores subornados se farta nos grandes festivas. (Em OFF: bebem horrores, fazem sexo sem o menor critério ou discernimento, ou seja, estão todos ali com pouca roupa, embriagados, os reflexos lentos, ninguém está levando nada a sério). O alpiste para paparazzi que movimenta um complexo bilionário de entretenimento não passa de um mero recurso para o lucro fácil. O investimento multimilionário em divulgação e o palpite de produtores seduzidos pelo Oscar parece funcionar. Titanic (1997) e O Retorno do Rei (2003), ambos com injeções publicitárias maiores que o PIB de alguns países, descolaram onze estatuetas cada. Discutir o mérito artístico e autoral de cada uma dessas bombas não vem ao caso, mas Avatar (2009), por exemplo, provou que cada centavo investido pra satisfazer os anseios da Academia tem efeito garantido."

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Além dos laureados pelo Oscar, muita gente ergue o seu bonequinho como se fosse grande coisa, chora e brande sua Palma, Urso, Leão, Kikito ou Candango como se fosse menos mortal que os outros. Dado o nível das premiações a que chegamos, receber certas homenagens pode até ser motivo de constrangimento. Se até o Nobel volta e meia é injusto – Jorge Luis Borges nunca recebeu, Philip Roth está até hoje esperando o dele – o que dizer de certos prêmios bolados por certos veículos? Segundo o Multishow, por exemplo, a banda Restart foi responsável pelo "melhor disco do ano." Uma das lindezas da democracia é a pluralidade de opiniões, por isso faço questão de expressar a minha: esse canal de televisão escarrou na cara da sociedade brasileira e escarneceu com requintes de vileza dos pobres músicos que passam horas labutando no instrumento ou compondo frases minimamente inteligentes.

Claro que os prêmios ocasionalmente podem ser justos, mas ao fim e ao cabo a história mostra quem "deixou sua impressão digital no mundo" (expressão de Raul Seixas se referindo a figuras como Nero, Schopenhauer, Calígula e Jesus Cristo). 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick, levou um mísero Oscar de efeitos especiais, mas nem por isso deixa de levar o espectador além do infinito, depois da última lua de Júpiter. Também são insondáveis os motivos que levaram o filme Hoje (2011), de Tata Amaral, a ser escolhido o vencedor do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Em meio a tanta avaliação subjetiva, convém lembrar o truísmo de que se um idiota sai correndo, você não precisa necessariamente ir junto.

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