Sim, há vagas para artistas em Brasília!

Malabaristas, engolidores de fogo, bailarinos, estátuas vivas, equilibristas, palhaços, músicos e tantos outros nos lembram que a arte de rua é possível



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Pessoas de várias partes do mundo não tropical vêem um simples céu azul como garantia de felicidade matinal. Se essa regra fosse universalmente aceita, em Brasília teríamos razão de sobra para sorrir quase todo o ano. Se ver flores traz alegria, aqui, centenas de espécies de árvores floridas em cascata, umas após as outras a cada estação, deixam nossos olhos enxergar o vermelho, o roxo, o rosa, o amarelo, em profusão.

Para um olhar atento... o que há de mais belo, num mês de agosto, que uma alameda inteira de ipês amarelos forrada por tapetes de pétalas? Mas, nem sempre temos todo o tempo do mundo para apreciar. Metrópole é metrópole. Compromissos. Correria. Trânsito. Esquecemos-nos, muitas vezes, até do ato de respirar. Fazemos isso mal, automaticamente. Deslocar a atenção dos problemas diários para uma beleza qualquer faz bem a alma. É como uma lufada de vento frio em nossas cabeças quentes.

Tenho reparado que Brasília, a cada dia mais, nos oferece isso. Não só pelo azul do céu ou o colorido das árvores do Cerrado, mas também por um crescente número de artistas de todas as espécies, que para nossa felicidade, se exibem nas praças e sinais de trânsito da cidade. Não previstos pelo projeto original do Plano Piloto, os sinais de trânsito são hoje vistos pelo brasiliense como um mal necessário. E os artistas, no meu entender, como um bem, porque nos dão a oportunidade de, por alguns minutos, espairecer e sorrir.

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Esses malabaristas, engolidores de fogo, bailarinos, estátuas vivas, equilibristas, palhaços, músicos, e tantos outros, nos lembram a cada esquina, que a arte de rua existe, é possível, deve ser respeitada e, mais que isso, nos ensina: temos o dever de incentivar sua prática.

Andei pensando numa maneira de incentivá-los. Talvez possamos fazer mais do que apenas olhar. Podemos admirar, reconhecer seu esforço, refletir no por que estão ali. Talvez por falta de alternativa de trabalho. Muitos, com certeza, por opção; simples amor pela arte, por gostar de entreter pessoas. Podemos também nos alegrar, oferecer dinheiro, porque afinal estão ali a trabalho e querem dali tirar seu sustento.

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O passar do chapéu adquire na rua um valor simbólico, como um exercício de troca, de afeto entre iguais em um determinado instante. Afeto que se materializa não somente em dinheiro, mas em sorrisos, apertos de mão, partes daquele instante que concretiza a presença do expectador enquanto parte viva e ativa do espetáculo e não apenas enquanto simples pagante. Podemos dizer palavras bonitas. Gostei de seu trabalho; obrigada por fazer meu dia mais feliz. Parece piegas? Pode ser, mas pra quem fala é bom, pra quem ouve também.

Às vezes me imagino na pele de uma daquelas estátuas vivas, personagem criada num corpo totalmente pintado, branco, azul ou prateado, fechado e inerte numa só posição, ao qual não é permitido um piscar de olhos sequer, até que um transeunte entre em seu mundo, se emocione, jogue uma moeda e o seu tilintar na bacia o liberte para a próxima postura. Ele está lá em busca de nos emocionar pela arte. A continuidade desta arte que é dele e nossa, depende também de nós. Da nossa emoção.

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Temos ou não o dever de ajudá-lo a fazer este mundo mais leve, mais bonito? Ou vamos nos ater as ideologias burguesas que estabeleceram regras a respeito de uma suposta arte verdadeira e preconceituosamente pouca importância dão aos mais diferentes tipos de manifestação de arte nas ruas?

Criatividade não tem limites e não deve constituir privilégio de poucos. Em metrópoles de diversos continentes do planeta, artistas de rua mostram sua arte, através das mais variadas formas de expressão e são reconhecidos pelo público. Ao incentivar nosso artista a manifestar-se estamos contribuindo para que ele se reconheça e adquira auto-estima. Para que o nosso artista de rua tenha uma vida digna.

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É ou não é esta uma troca honesta? Aqueles segundos cronometrados entre o vermelho e o verde podem significar para nós uma alegria inesperada, uma volta pra casa mais leve ou um início de trabalho mais tranqüilo. Para eles, reconhecimento e coragem para continuar.

Além de admirar e incentivar que mais poderíamos fazer, me pergunto? Quem socorrerá um cospe fogo se por inadvertência se queimar ou se intoxicar ? e se cair o equilibrista daquele fio improvisado amarrado ao poste? terão eles apoio para se aperfeiçoar diminuindo suas chances de acidentes e aprendendo a usar o produto correto para não se intoxicar ? receberão eles algum incentivo do governo para se aprimorar ? Por que não criar um fundo para bolsas de estudos em escolas de circo, malabaristas etc, onde os artistas em atuação na cidade pudessem se aperfeiçoar, com o compromisso assumido de mais tarde darem aulas para outros iniciantes?

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Tomar essa posição significa dizer que apoiamos o artista de rua e sabemos que seu intuito maior não é migrar para as salas e ambientes tradicionais das artes cênicas, mas sim, manter pilares em sua origem que é levar a arte onde ela normalmente não chega, nas ruas.

Podemos ainda criar em Brasília o movimento "Eu apoio os artistas de rua". Essa iniciativa ajudará a coibir atos de vandalismo contra os artistas por parte de membros da comunidade e do governo, o que vem acorrendo em algumas capitais brasileiras, quando ações montadas com o objetivo de reprimir o comércio ilegal nas ruas, acabam por impedir artistas e artesãos de desenvolver seu trabalho.

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Dois vídeos sobre o tema, mostrando o desrespeito a artistas de rua, a destruição de seu artesanato e a indignação de pessoas da comunidade que presenciaram as ações policiais contra os artistas, estão fazendo imenso sucesso na internet com centenas de acessos nos famosos sites Youtube e Vimeo.

Um deles, "A Criminalizarão do Artista - como se fabricam marginais em nosso país", mostra que os artesãos têm consciência de seus direitos e de sua arte, se consideram artistas e se diferenciam dos vendedores ambulantes de produtos chineses ou camisetas de futebol.

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O vídeo é triste mas ao mesmo tempo lindo. Além de inúmeras denúncias, traz belas imagens, canções que falam do bem e da solidariedade e depoimentos sobre a crença deles em um mundo melhor.

Vendo nossos artistas de rua, aqui e ali, do Plano Piloto à Ceilândia, cidade onde sempre morei desde minha chegada a Brasília, passei a admirar esses homens e mulheres que nos alegram inesperadamente no meio do dia ou da noite, sem que tenhamos solicitado, e a pensar numa maneira de multiplicá-los transformando o Distrito Federal numa capital vanguardista de arte de rua.

Temos espaço, temos gente de um Brasil inteiro que aqui chegou trazendo suas raízes culturais, apreciamos a arte, somos solidários. Vamos nos dar as mãos e começar esta festa. Amar os artistas de rua. Estou certo de que ainda existem vagas para artistas no coração do brasiliense.

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