Rock of Ages celebra o rock dos anos 80
Com Tom Cruise no papel de um astro do rock, filme relembra sucessos de bandas como Def Leppard, Journey e Twisted Sister
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SÃO PAULO (Reuters) - Para o cinema a década de 1980 jamais vai acabar. Fonte de lucro e culto, o período é revisto agora no musical "Rock of Ages - O Filme", que ressuscita mais músicas do que atitudes rock‘n'roll ao longo de duas horas de cantoria.
De Def Leppard a Twisted Sisters, de Journey a Foreigner -com direito a canções escritas na década de 1990-, a trilha sonora canibaliza o que ainda resta de memória daquela época em releituras que não seriam aplaudidas nem em karaokê.
A precariedade das interpretações poderia até passar batido não fosse esse musical um grande pastiche cômico mal resolvido, em cuja narrativa, em momento algum, qualquer personagem ou situação se compromete com a mais elementar veracidade em relação aos ícones a que se refere.
Os roqueiros daqui são limpinhos, não usam drogas, quando muito bebem. Tom Cruise encarna um exemplar dessa fauna, chamado Stacee Jaxx -músico à la Axl Rose que pretende começar uma carreira solo.
Como todo musical sobre o cenário musical, este parte do ponto de vista de novatos. Julianne Hough é Sherrie, garota que sai de uma cidadezinha rumo a Hollywood, onde espera fazer sucesso como cantora.
Por acaso, conhece Drew -interpretado por Diego Boneta, que entre 2005 e 2006 fez parte do elenco do televisivo mexicano "Rebelde". Ele a ajuda a conseguir um trabalho de garçonete no bar de Dennis (Alec Baldwin) -lugar icônico da não menos icônica Sunset Strip (no caso, uma reprodução cenográfica).
Drew e Sherrie seguem caminhos paralelos, mas em vias opostas: ambos, a seu modo, se prostituem, abrindo mão de seu sonho de cantar.
Ah, tem também a velha máxima hollywoodiana de ir atrás de seus sonhos porque sempre dá certo (vide o nome de uma das músicas do filme: "Don't Stop Believing").
Talvez por isso, poucos personagens apresentem alguma nota real com uma gota de humanismo -como Mary J. Blige, dona de uma boate de striptease.
A atriz não só traz verdade ao seu personagem, como parece ser a única pessoa realmente capaz de cantar no filme. Julianne, por sua vez, com sua voz anasalada, estaria mais confortável com as canções adocicadas de Britney Spears do que com o rock pesado que pede raiva nas veias.
"Rock of Ages" traz à mente outros musicais que recorreram a melodias já conhecidas para contar uma história. Mas está mais para "Mamma Mia" do que para "Across the Universe" -o que é paradoxal, se pensarmos que a trilha pop aqui teria mais a ver com os Beatles do que com o ABBA.
A direção de Adam Shankman é burocrática e serve apenas para o exibicionismo de Cruise -que vive uma espécie de versão sem graça do guru sexual que interpretou em "Magnólia" (1999).
Não se contentando com a cantoria, "Rock of Ages" levanta uma questão política. Catherine Zeta-Jones faz a mulher do prefeito, que toma as rédeas da campanha com o projeto de sanitizar Sunset Strip e "mandar o diabo de volta para o inferno", como ela mesma diz.
Não é preciso muito esforço para descobrir por que ela odeia tanto Stacee. O ideal dela parece tomar conta do filme que, em sua essência, é limpinho e sem gosto. Chega a parecer uma versão de "Glee", apenas mudando acordes.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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