Reverência ao Samba de Roda

“O samba é a vida, é a alma, é a alegria da gente (...) quando toca o pinicado do samba eu acho que eu fico boa, eu sambo, pareço uma menina de 15 anos.” - Dalva Damiana de Freitas, Cachoeira/BA



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No último dia 16 de novembro assisti, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional de Brasília, a uma belíssima apresentação de flamenco em comemoração ao primeiro ano da proclamação do ritmo mais tradicional da Espanha como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Os ingressos, gratuitos, foram distribuídos mediante doação de alimentos não perecíveis para a Associação dos Catadores de Lixo do Distrito Federal.

Brasília e outras quatro cidades do mundo ganharam esse presente do Instituto Cervantes e do Instituto Andaluz do Flamenco. Foram cinco espetáculos de flamenco em cinco continentes! Nós recebemos o virtuoso violonista (em espanhol fala-se “guitarrista”) David Carmona, acompanhado do percussionista Agustin Diassera, da “cantaora” Carmen Molina e da magnífica “bailaora” Patricia Guerrero, que participa da última película de Carlos Saura, “Flamenco, Flamenco”.

Se o motivo deste artigo é o samba de roda, por que estou falando de flamenco? Explico. Impressiona-me (positivamente) a forma como a Espanha tem promovido seu mais novo Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Além dos belos espetáculos por todos os cantos do planeta, patrocinados por instituições e associações comunitárias daquele país, há uma mobilização fabulosa nas redes sociais pela difusão da maior jóia da Andaluzia (região espanhola que é berço do flamenco).

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Se o mundo inteiro já reconhece o flamenco como uma riqueza comum, são poucos os brasileiros que sabem que o samba de roda do Recôncavo Baiano também é Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade... desde 2005! Em 25 de novembro completaram-se seis anos de inclusão dessa que é uma das mais fortes e belas expressões de brasilidade no rol das obras-primas intangíveis do gênio humano.

O Patrimônio Cultural Imaterial (ou Intangível) da Humanidade, também chamado Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade, é uma distinção criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para a proteção dos saberes, tradições, celebrações, músicas, danças – entre outras formas de expressão - que um grupo de indivíduos preserva para as gerações futuras em reverência a sua ancestralidade. Os bens imateriais são eleitos a partir da análise das candidaturas apresentadas pelos países signatários da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial.

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O samba de roda é a representação da pureza, da espontaneidade e da beleza da cultura do Recôncavo Baiano, além de ser uma das matrizes do samba carioca, símbolo incontestável da identidade brasileira. Música, dança e poesia que permeiam as atividades sociais, econômicas, religiosas e lúdicas das cidades da região do Recôncavo (faixa de terra que contorna a Baía de Todos os Santos). De herança africana, com traços da cultura portuguesa e algumas referências recentes, é uma manifestação perpetuada, sobretudo, pela população afro-descendente.

Presente nas festas de devoção, como o samba da Boa Morte na cidade de Cachoeira em agosto, o samba de São Cosme e São Damião em setembro e o samba em “toques” para caboclos em terreiros de Candomblé, também acontece espontaneamente, pelo prazer de celebrar, basta que alguém puxe as palmas, os pandeiros, a voz e a viola. Pronto, está formada a roda! Entre as inúmeras variantes do ritmo destacam-se o “samba chula” de Santo Amaro (cujo similar, em Cachoeira, chama-se “barravento”) e o samba “corrido”, cada qual com suas particularidades. Na coreografia, o movimento mais típico é o “miudinho”, o balanço de quadris feito de um quase imperceptível deslizar dos pés (quase sempre descalços) para a frente e para trás. Não há quem resista!

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Esse e muitos outros tesouros esperam ser (re)descobertos pelos brasileiros e brasileiras de agora e pelos que vem aí. Está na hora de Governo e sociedade caminharem juntos, apoiando e difundindo as ricas manifestações de nossa diversidade cultural. Louvo as iniciativas de fomento e valorização das nossas expressões locais dentro da grande teia da identidade nacional, mas nossos passos ainda são tímidos. Defendo que essa temática esteja mais presente na formação de estudantes e professores e que sejam exploradas as poderosas ferramentas da modernidade – mídias e redes sociais - na divulgação e afirmação de nossa cultura perante o Brasil e o mundo.

Em tempo, congratulo-me com portugueses e mexicanos que tiveram seu fado e sua cultura mariachi, respectivamente, declarados Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade neste 28 de novembro. É absolutamente certo que há uma infinidade de pontos de tangência entre as expressões e representações de todos os povos. Oxalá um dia o impulso ancestral comum de celebrar, cantar, dançar e poetizar a vida nos encaminhe para a paz!

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Salve o samba de roda do Recôncavo!

P.S. Para quem quiser saber um pouco mais sobre o assunto, recomendo a leitura do dossiê preparado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para fundamentar a candidatura do samba de roda à III Proclamação das Obras-Primas do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade, título que foi outorgado pela UNESCO em 2005.

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(*) Arlete Sampaio é Secretária de Estado de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda do Distrito Federal, Deputada Distrital Licenciada e membro da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores. É autora da Lei Distrital nº 3.977/2007, que “institui o registro de bens culturais de natureza imaterial que constituem patrimônio artístico, cultural e histórico do Distrito Federal”.

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