Qual o problema com o popular?

Escritor tal é muito popular, o diretor tal é muito popular. Logo, eles não podem ser gênios, afinal de contas, se todos entenderam e gostaram das suas obras, algo está errado! Este é um dos pensamentos mais cretinos que já ouvi



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Ontem eu estava em um lugar com duas pessoas. Uma atriz e outro roteirista, além de mim. eles estavam conversando e, em algum momento, a atriz, falando sobre um texto do roteirista, falou: “Ah, não, ta muito popular isso. Não gostei”. Não entrei em detalhes na hora para evitar constrangimentos, e para não levantar suspeitas de que horas depois eu os usaria como personagens em um texto. Depois de muito matutar sobre isso, atinei para o fato de que este é um pensamento comum. De que o popular não é bom, ou de que, se é bom, não pode ser popular. Nada mais longe da verdade, caros amigos.

Os grandes gênios da humanidade tiveram suas obras eternizadas exatamente por serem populares. Até os gênios da música clássica, por exemplo, como Debussy ou Mozart, contribuíram para a popularização de um gênero até hoje tido como “de elite. Os gênios da literatura não foram os que escreveram os livros mais complicados e rebuscados, e sim os que venderam os livros que fizeram as pessoas terem vontade de ler. Afinal, não é esse o objetivo de um escritor: ser lido? Infelizmente, segundo senso comum, parece que não. A velha máxima rodriguiana de que no Brasil o sucesso é ofensa popular parece ser o slogan dessa cruzada contra o popular.

Escritor tal é muito popular, o diretor tal é muito popular. Logo, eles não podem ser gênios, afinal de contas, se todos entenderam e gostaram das suas obras, algo está errado! Este é um dos pensamentos mais cretinos que já ouvi. E na TV é pior ainda. Você mesmo deve conhecer dezenas de pessoas que se gabam de não assistir TV aberta. Mas pergunta quantos autores russos ela já leu? Pergunta se ela assiste a programas sobre física quântica ou cirurgia cerebral. NÃO. Esses “críticos” da TV aberta se gabam de assistir exatamente TEVÊ POPULAR, só que americana ou européia. Eles vivem às voltas com séries enlatadas norte-americanas ou programas humorísticos ingleses, que lá são programas populares, como aqui são as novelas. Mas o que importa é que não sejam populares aqui, afinal, os populares deles são menos populares que os nossos.

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Vocês já pararam pra pensar no trabalho hercúleo que deve dar escrever uma novela? Escrever uma trama que dura nove, dez meses, com capítulos de uma hora por dia, que arrastam milhões de pessoas TODOS OS SANTOS DIAS para a frente da TV, e que precisa, dias após dias, MANTER este espectador ali, na frente da TV? Pelo amor de Deus, não me venham menosprezar este trabalho e dizer que é mais difícil escrever um programa intelectualóide cheio de citações em francês ininteligíveis e planos-seqüência de catorze minutos e dar meio ponto de audiência. Isso seria o mesmo que um mosquito zombar de um tigre porque ele não consegue chupar sangue, logo ele é mais sanguinário. Juro que perdi o ponto da história onde fazer coisas notadamente forçadas e calculadamente ininteligíveis passou a ser sinônimo de sucesso. E sinceramente, espero não viver para ver um plano-sequência de catorze minutos no horário nobre da minha TV.

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