Pocket show da resistência celebra democracia ao som de Noel
"Noel era impetuoso em lidar com os sentidos. Não se rendia a convenções. Furava blocos inteiros de clichês idiomáticos e fazia deles sua matéria-prima. Daí sua força", escreve Gustavo Conde, que apresenta mais um pocket show da reslstência
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Por Gustavo Conde – Noel era impetuoso em lidar com os sentidos. Não se rendia a convenções. Furava blocos inteiros de clichês idiomáticos e fazia deles sua matéria-prima. Daí sua força. Seu uso verbal – a dimensão das ações concretas ou psicológicas – é singular. Ele se apodera do regime semiótico e das cifras de extensão e duração dos elementos verbais e os re-molda à sua maneira: "Vou me defendendo", "sorrir de nostalgia". Trata o coloquialismo com extrema elegância e rigor poético, dando às canções sempre um verniz raro de apuro estético ao mesmo tempo em que as mergulha na dimensão popular.
O samba é o centro irradiador de todo o sentido de Noel. Se ele pudesse se transformar em outra coisa, ele se transformaria em samba. E não é o samba concreto apenas, é o samba no conceito. Da mesma maneira que Louis Armstrong entre que o jazz não é um "o quê", mas um "como", Noel concebe o samba. O samba, para Noel, é muito mais que um gênero. É uma paixão, um sentimento, uma filosofia, um norte, um país (a Vila é seu país).
Palpite infeliz: canção feita na polêmica com Wilson Batista que teria menosprezado a Vila Isabel. Vale para todo e qualquer sujeito que diz algo sem conhecimento de causa.
Feitio de oração: a origem do samba, o misto de tristeza e alegria. A paixão pela Vila.
Gago Apaixonado: a projeção de sua deformação para outro estereótipo social. Imensa precisão e inacreditável habilidade em metrificar a gagueira em tecido narrativo. É uma das obras-primas da canção popular mundial.
Tarzan, o filho do alfaiate: a obsessão pelo tema da vestimenta. E a simplicidade dos temas pouco ambiciosos que, ao final, tornam-se tratados sociológicos (pr lidar com tanta leveza e naturalidade com práticas sociais pouco valorizadas).
Três apitos: a admiração pela mulher trabahadora.
Conversa de botequim: um tratado do nosso escravagismo endêmico (de maneira crítica e muito inteligente).
Com que roupa: tema da vestimenta o corpo social que se veste para significar.
Último desejo: o drama da perda.
Feitiço da vila: o amor à Vila Isabel.
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