Oxímoro, a nova droga

Ganhar dinheiro falando mal do dinheiro, e montar mídia falando mal da mídia, são bons negócios de ocasião



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A pior droga do planeta, tecnicamente falando, não é o crack ou a metanfetamina: é o poder do oxímoro. Vejamos: o Pink Floyd fez fortuna com uma música que falava mal do capitalismo: a famosa “Money”. Bispos fazem fortunas tentando dar ao povo o mais indisponível dos bens: Deus. Donc: se ganha muito dinheiro falando mal do dinheiro. Não espanta que boa parte das operações da Polícia Federal dita republicana, sob a octaetéride de Lula, tenha sido apoiada pela parcela do PT que ganha dinheiro igualmente falando mal de “capitalistas selvagens”. É a parcela capitaneada pelos camaradas Rosa, Gushiken e Berzoini. A química poderosa que é misturar o sindicalismo liberticida com o credo no igualitarismo, seja o groucho-marxista, ou o do reino dos céus, funciona muito bem em países de capitalismo tardio, como o Brasil.

Karl Marx esperava que a revolução comunista ocorresse, primeiramente, nos países com grande tradição sindical, como Alemanha e Inglaterra. Mas o marxo-liberticismo vingou foi mesmo nos países cristãos e católicos, sobretudo. Afinal de contas, aquele homem preconizado por Marx, que trabalhava pouco, que “poderia pescar à tardinha”, e que poderia trocar o reino da necessidade pelo reino da liberdade, encontrou discurso liberticida semelhante no Sermão da Montanha de Jesus Cristo – que, de resto, preconiza a vinda de tempos melhores, o congelamento do Tempo, o congelamento da História, sob a égide de um Messias, (de maneira bem igualzinha ao Manifesto do Partido Comunista). O nosso padre de passeata é um subproduto da mistura do Sermão da Montanha com o Manifesto. Não interessa saber de variantes, como o fato de Marx, pouco antes que Darwin morresse, bateu à porta de sua casa em Londres ofertando-lhe alguns escritos em que preconizava, na sua teoria, o surgimento do chamado social-darwinismo.

A História é basicamente fricção, notou Benedeto Croce. Mas você pode ganhar muito dinheiro atacando o dinheiro, atacando a fricção que é o viver, e prometendo um reino igualitário, sem problemas, e com a paz dos túmulos em plena vida. Pegue todos esses ingredientes. E pare para pensar nas revoltas anticapitalismo que estão ocorrendo hoje mundo afora. Colocando os números em perspectiva: os protestos ocorridos em Seattle em 1999 contra a World Trade Organisation só tinham um motivo: empobrecer os países de capitalismo emergente, como o Brasil, pela defesa do protecionismo de mercado. Em 1999, jovens, igualmente liberticidas, brandiram a bandeira da liberdade, num discurso que emasculava os interesses ideológicos de então: a defesa de uma suposta liberdade, que na verdade era uma defesa do mercado americano contra as nações do Terceiro Mundo (é óbvio que jovens nacionalistas brasileiros descabeçados apoiaram tudo aquilo sem saber que eram protestos inclusive contra o Brasil...) Ok, dirão: o mar não está pra peixe. Afinal, na América, 17,1% daqueles abaixo dos 25 anos estão desempregados, na União Europeia a taxa de desemprego entre jovens é de 20,9% - e na Espanha nessa semana a taxa bateu a casa dos 46,2% de desempregados. Só na Alemanha, na Holanda e na Áustria tais taxas têm apenas um dígito.

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Mas no meio desse melange liberticida surge novamente a poderosa droga do oximoro, que é ganhar dinheiro falando mal do capital e do capitalismo. Aderem à droga do oximoro, é óbvio, pastores que montam cartéis da fé, e cartéis da mídia falando mal daquilo que eles apontam como sendo os cartéis da mídia. Na última quinta-feira, dia de aniversário do presidente Lula, o ex-comandante e chefe confessou aos seus pares estar muito magoado com a mídia. A maioria dos puxa-sacos de Lula, que são os blogueiros de aluguel ou funcionários do Alto Commitern da TV Record, mimosearam o ex-presidente com um regalito: requentaram uma notícia antiga do Wikileaks, que apontava funcionários da Folha de S.Paulo, da revista Época e da TV Globo, como informantes do governo dos EUA. A notícia foi repicada cegamente por vários portais, inclusive por esse 247. Caíram todos no conto do bispo.

Por que jornalistas que trabalham em grandes redações ainda continuam donos dos maiores índices de credibilidade do mercado, ao contrário do que ocorre com os blogueiros de aluguel? Por uma simples razão: se Al Capone tivesse um jornal por aqui, ele iria a ser obrigado a falar a verdade, sob pena de ter o seu negócio afundado. Afinal de contas, o jornalista é aquele a quem cabe dar hierarquia, nexo, dimensão, profundidade, aos relatos apurados. O relato é a pedra bruta do jornalista. Esse é o problema do Wikileaks: o sistema trabalha com a divulgação cega de relatos produzidos por embaixadores e cônsules, que por dever de ofício, por preguiça ,ou mesmo incapacidade, não se vêem na iminência de lapidar tais relatos. Pegue uma capivara, coloque no pescoço dela um gravador, solte-a pelos gabinetes de Brasília, e no final do dia publique tudo que estava gravado. Esse é o papel análogo ao dos embaixadores que anotam tudo o que escutam, descabeçadamente, remetem aos serviços de inteligência de seus países – e esse material bruto é o que tem sido vazado pelo Wikileaks.

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No jornalismo, conversar com uma fonte é basicamente o toma-lá-dá-cá do estado de direito. Jornalistas levam a seus editores o que ouviram, e cônsules e embaixadores levam aos seus países o que escutaram. A diferença é que o jornalista ainda tem que enfrentar o processo de lapidação, de precisão, acurácea e aprofundamento, coisas jamais desenvolvidas pelos cônsules que fazem relatos.

Quando a imprensa surgiu, no pré-capitalismo, ela justamente se compunha de breves relatos sem nenhum compromisso além de se anotar o que se ouvia. Embaixadores e cônsules tecnicamente estão inseridos ainda nesse pré-capitalismo. “Cobri a área diplomática em Brasília por cerca de nove anos. É muito comum jornalistas e diplomatas trocarem informações. Estranho seria se não conversassem. Se um jornalista usou uma informação para fazer uma notícia ou se um diplomata usou o que ouviu para fazer um relatório não há nada de errado. Desde o começo o material do Wikileaks foi supervalorizado. Relatórios de embaixadas são basicamente copiados de notícias de jornais. Se alguém se der ao trabalho de conferir as notícias do dia de cada relatório vai confirmar isso”, avalia o jornalista Marcio Chaer, diretor do site Consultor Jurídico. É necessário também lembrar algo: o antigo Serviço Nacional de Informações, o SNI, gostava de copiar o jornal O Estado de S. Paulo, e não a Folha. O SNI não dava expediente de segunda-feira, e o finado bruxo do SNI, general Golbery do Couto e Silva gostava de dizer que “o SNI não funciona de segunda-feira porque de segunda-feira não tem jornal” – justamente porque naquela época o Estado de S. Paulo não rodava às segundas.

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A melhor obra do mundo sobre informantes continua “A Segunda Mais Antiga Profissão do Mundo”, do bruxo Philip Knightley, que você compra por menos de dez dólares pela Amazon. Veja algo sobre o livro aqui: http://www.ihr.org/jhr/v08/v08p359_Martin.html

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