Os 20 anos de Achtung Baby
Parece que foi ontem, mas Achtung Baby, um dos melhores e mais importantes discos do U2, completa 20 anos de estrada
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Lançado no mesmo ano que o impactante Nevermind, do Nirvana, o álbum, assim como o trabalho dos meninos de Seatlle, teve um quê de revolucionário, porque daria uma guinada de 360º graus na carreira dos irlandeses. Na época, tomei um susto ao ouvir o registro, apesar de me apaixonar pela baladona One à primeira ouvida.
A capa era poluída e moderna demais, as músicas com sonoridade suja e o flerte com firulas techo, dance de estúdios incômodo. E ainda tinha aquele título boboca anglo-alemão, mas poderia ser pior, porque eles iam colocar 68 and I'II Owe You One (68 e Fico te Devendo Uma). Tudo bem, as letras cristãs e existencialistas de Bono Vox ainda estavam lá, mas de resto era tudo diferente e estranho, como aquele beijo da garota sem nome numa balada "easy ride".
A resistência à Atchung Baby tinha razão de ser em minha cabeça, porque o trabalho anterior, o cru e quase barroco Rattle and Hum, era sensacional. Pelo menos eu achava e chorava toda vez que ele reverenciava o anjo negro do Harlem, Billie Holliday.
Mas o tempo, o senhor de todas as justiças, me colocou nos trilhos do bom senso e hoje posso dizer de boca cheia que Achtung Baby não é apenas um dos trabalhos mais criativos dos meninos de Dublin, mas um dos melhores da década também.
Pode apostar. Com Achtung Baby, eles se reiventaram, virando uma página importante na trajetória da banda, que tem mais de 30 anos de estrada. Antenados, cosmopolitas e descolados, sob a batuta dos mestres Brian Eno e Daniel Lanois, os integrantes da banda desembarcaram na Berlim da pós-restruturação política com a queda do Muro e absorveram todo aquele clima de passado nebuloso e presente eufórico. "Parecia haver uma nuvem negra sobre as nossas cabeças durante toda a nossa sessão", recordaria, anos mais tarde, um dos engenheiros de som.
Sob a influência do cinema moderno de Win Wenders, os fantasmas do camaleão do rock David Bowie – que gravaria e produziria por ali, nos anos 70, discos antólogicos - conflitos pessoais e familiares, o dilema entre fé cristã e a indústria da música, além da recente e conturbada paisagem política da região, escreveram pequenos e intricados contos da alma. "Você é perigosa porque é honesta/Você é perigosa porque não sabe o que quer/Bem, você deixou meu coração vazio como um terreno baldio/Para qualquer espírito assombrar", cantam na implacável Who's Gonna Ride Your Wild Horses. "Quem vai montar seus cavalos selvagens?/Quem vai cair aos teus pés", indagam.
Com título roubado de um dos filmes de Wenders, a quem a faixa é dedicada, Until the End of the World, sugere um díalogo entre Cristo e seu traidor e desculpa para Bono desenterrar uma de suas várias personas mefistofélicas criadas para a megalomaníaca Zoo TV Tour.
Com sonoridade radical, The Fly, nas palavras de Bono é "um telefonema direto do inferno". "Um homem vai implorar/Um homem vai rastejar/Na face pura do amor/Como uma mosca na parede/Não é nenhum segredo afinal", desespera o vocalista. "Amor, nós brilhamos como uma estrela em chamas/Nós estamos caindo do céu... Esta noite", afaga The Edge.
Desafio qualquer ser humano emotivo, de alma sensível e coração sincero, que não se arrepie com a introdução kraftwartiana de Mysterious Ways e não queira se enterrar debaixo de alguma coisa ao som de One.
Bem, o disco do U2 que eu levaria para a Lua numa cápsula do tempo seria The Joshua Tree, mas levaria Achtung Baby se fizesse um pit stop em Marte ou no inferno. Acho que sairia bem mais barato do que compar a edição de luxo dos 20 anos do álbum.
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