O quinto Beatle

Por trs do sucesso da banda Beatles Forever, na Virada Cultural, est Marcus Rampazzo, multi-instrumentista que impressionou o prprio George Harrison com seus impecveis covers



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Por Claudio Julio Tognolli - Cena 1: em algum período dos anos 80, a cantora dos Eurithymics, Annie Lennox, está em sua casa em Los Angeles conversando da vida com o beatle George Harrison. Recebem a visita de Marco Antonio Mallagoli, do fã-clube Beatles Forever, de São Paulo. O brasileiro estende a George uma fita em que um paulistano da Mooca interpreta uma dezena de faixas compostas pelo beatle. George Harrison fica atônito. Acha que é ele mesmo tocando. Mallagoli diz que não: tudo é obra de um brasileiro. Harrison, maravilhado, grava uma mensagem para expressar seu encantamento com a precisão técnica e timbrística das execuções.

Cena 2: na Virada Cultural de São Paulo, há uma semana, quem roubou a cena, preenchendo a maior parte do tempo e do espaço na mídia não foram os artistas que executaram as próprias obras: mas a banda cover Beatles Forever. Eles já estavam no livro Guinness dos Recordes por terem executado 16 horas contínuas da obra dos Beatles. Mas na semana passada se esmeraram. Foram 24 horas sem parar. E os instrumentos empregados foram raras guitarras “vintage” confeccionadas no mesmo ano em que foram produzidas as dos Beatles.

O que nivela as duas cenas? Seu nome é Marcus Ricardo Rampazzo. Multiinstrumentista, nascido na Mooca há 56 anos, pai de duas filhas (duas moram em Londres por influência direta, é óbvio, do pai), Rampazzo é tido como o maior colecionador de instrumentos “vintage” da América Latina. São pianos, violinos, guitarras, baixos, órgãos, sintetizadores, harpas, enfim, um acervo só encontrado, debaixo do mesmo teto, no Brasil.

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“Marcus é com certeza o guitarrista mais refinado que conheci em 40 anos lidando com música”, afirma Roy Cicala. Morando no Brasil há 7 anos, Roy Cicala é o engenheiro de som mais famoso do mundo. Gravou os trezentos maiores álbuns da história da música: amigo pessoal de John Lennon, registrou pessoalmente toda a sua obra-solo em seu estúdio Record Plant, em Nova York. Miles Davis, Elton John, AC/DC, Elvis Presley, Frank Sinatra, Fleetwood Mac, Aerosmith, entre outros levam em seus discos a assinatura de Roy. Roy também acaba de produzir a caixa com quatro CDs recém-lançada pelo cantor e compositor Lobão.

Marcus Rampazzo foi professor de algumas grifes da música brasileira, como de André Cristhovam, do titã Marcelo Fromer, e daqueles apontados como hoje os maiores produtores musicais do Brasil Dudu Maroti e Apollo 9. “Não tive infância: só pensava em música. Não empinei pipa, não joguei bola, nunca tive carrinho de rolimã, fui apenas um dia numa piscina em toda a minha juventude. A guitarra me conquistou. A música clássica naquela época me trazia muita melancolia. Os Beatles e a música pop foram, digamos, a minha salvação. Sempre desenhei muito bem, mas o desenho não emociona. O que sempre me emocionou foi a música”. O atalho inevitável pelo qual Rampazzo conheceu os Beatles foi, obviamente, a influência deles lastreada no Brasil por Roberto Carlos. “Como gostei muito de design também, eu enlouquecia com o tipo de guitarra que o George Harrison usava. Não demorou muito para eu descobrir que tudo que a Jovem Guarda nos trazia vinha dos Beatles. Daí pra frente não parei mais”.

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O sucesso dos Beatles Forever é uma trama desenhada desde 1976, quando Marcus pela primeira vez se juntou com amigos para fazer a banda. É óbvio que, para ter sido elogiado em pessoa pelo ex-beatle George, Rampazzo apostou a sua vida em dissecar milímetro por milímetro, segundo a segundo, tudo que os Beatles geraram. E acredite: Rampazzo tem os Beatles em sua vida, em proporções tão maiúsculas, que todos os instrumentos que os Beatles tiveram, em todas as fases, Rampazzo tem. Não é para menos que já consertou as cítaras de Lobão e do ex-mutante Serginho Dias. Aliás, Marcus Rampazzo além da formação inequívoca de maestro, é engenheiro de som e entende como ninguém da engenharia de guitarras e teclados raros. Portanto, o que o público paulista assistiu por 24 horas contínuas, na semana passada, é de um esmero a envolver tenacidade de monge, paciência de charreteiro e o pontilhismo de colecionador de borboletas.

Se você perguntar para Marcus porque os Beatles fizeram tanto sucesso, ele vai te dar duas respostas: a longa, em que vai te mostrar faixa a faixa a genialidade das composições, e a curta, em que ele reproduz uma frase de George Harrison: “os Beatles estavam na hora certa, no lugar certo, com as pessoas certas e com tudo conspirando a seu favor”. Mas Marcus Rampazzo diz que mesmo nas harmonias mais simples os Beatles transcenderam as cadências harmônicas com modulações simples e geniais (para Marcus, a genialidade dos Beatles está na simplicidade retumbante com que fazem suas canções serem melhores do que a da maioria dos mortais). “Se você ouvir Elvis Presley, vê que ele é datado. Mas se você ouvir os Beatles de 1963, por exemplo, verá que eles estão frescos, como se tivessem gravado hoje. Ali foram escolhidos os equipamentos que também os fazem transcender. Microfones alemães Neumann, as mesas dos estúdios EMI, a escolha dos amplificadores ingleses Vox que não se sobrepõem ao som original de cada guitarra”.

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E sobre música brasileira? Marcus Rampazzo diz que lhe agradam apenas “aquela música do Lulu Santos ‘Como uma onda no mar’ e uma meia dúzia de músicas do Roberto Carlos”. “Estive no show que o Lobão fez no lançamento de sua biografia e fiquei impressionado com os timbres de guitarra que ele tirou da sua Rickenbaker ligada nos amplificadores Vox”. Volta e meia, os mineiros do Jota Quest, ou Wilson Sideral, e o pessoal do Skank recorrem a Rampazzo para que lhes aponte a melhor guitarra a ser comprada. Porque Marcus Rampazzo é muito além de Beatles. Toca piano muito bem, violino, compõe música clássica na partitura, é um mestre do Blues, foi professor de country music de Ronaldo Paschoal, ex-guitarrista de Rita Lee. E em todo esse universo, Marcus tem umas trezentas músicas compostas e a menina dos seus olhos é o CD instrumental “Reborn”, que ele pretende lançar nos EUA com a ajuda de Roy Cicala.

Hoje, Marcus Rampazzo acalenta um sonho: montar o Museu do Rock com todos os instrumentos raros de que dispõe, e com auxílio da Lei Rouanet. Se você perguntar para Rampazzo se ele gostaria de encontrar Paul McCartney, ele responde: “claro que sim, mas quem poderia me dar respostas e alguma luz sobre as indagações harmônicas que ainda tenho é o George Harrison, e o George já se foi”.

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e-mail do Marcus: marcusrampazzo@hotmail.com

site da banda: http://www.beatles4ever.com.br/home.htm

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