O karaokê da Êmitevê
Reconhecido que é nos palcos, nas telas do cinema e da tevê, Wagner Moura não estava no tributo à Legião Urbana para provar nada para ninguém
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E deu o que falar a presença do ator Wagner Moura cantando no "Tributo Legião Urbana", transmitido ao vivo pela MTV na noite desta terça-feira 29. Bom, pelo menos no Twitter. Logo após o término do show, pouco depois da meia-noite desta quarta 30, os TTs líderes no Brasil eram #wagnermoura e #tributolegiaourbana. E, na grande maioria deles, o sarrafo caía na cabeça do incauto Wagner que, sem medo de ser feliz, subiu ao palco e soltou o gogó.
Show com jeitão de karaokê, falta de afinação da voz, falta de estilo na interpretação, falta de respeito para com a memória da banda, falta de não sei mais o quê. Estas foram algumas das principais críticas dos internautas ao talentoso ator baiano na execução das músicas da Legião. Com todo o respeito, mas acredito que Wagner deva estar, agora, como cavalo em desfile de Sete de Setembro. E com toda a razão.
É preciso ter muito estofo pra peitar uma empreitada dessas. Reconhecido que é nos palcos, nas telas do cinema e da tevê, Wagner Moura não estava ali para provar nada para ninguém. E vamos parar com a ingenuidade. Não é necessário lembrar que ele é, por ofício, um ator – talentosíssimo, por sinal. Imaginar que ali pudesse estar um legítimo cantor, com todo o controle de timbres e vibratos, é cravar o sorvetão na testa.
Aposto que o próprio Wagner não se via ali como um legítimo intérprete da Legião. Vimos ali um fã incondicional, cantando junto à plateia com veias saltando do pescoço, sem medo de não estar tão afinado quanto um Milton Nascimento. A própria plateia, que cantou "Será" sozinha, no intervalo para o primeiro bis, também não se importou. Queriam mesmo era partilhar de um momento – que muitos ali, beirando os vinte, vinte cinco anos – nunca puderam presenciar.
Para muitos, laborar tais críticas, tão profundas quanto às desculpas de Demóstenes Torres no Cachoeiragate, pode ser divertido. Preferimos continuar na segurança de nossas poltronas, com os dedos na mediocridade das opiniões chulas, e nos refestelarmos.
Alguns podem ter torcido o nariz. Outros, aplaudido de pé. Mas, na noite de ontem, Wagner Moura, Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos foram a Legião Urbana.
E a Legião, como sempre, foi muito rock n´ roll.
Matheus Souza é estudante de Jornalismo da Universidade Metodista de Piracicaba
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