“O ECAD é um buraco negro”

Fernando Anitelli defende a msica livre, fala sobre novo lbum d'O Teatro Mgico e afirma que preciso ter mais dilogo entre artistas



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Camila Vieira, Bahia 247_ Fernando Anitelli, ator, músico, compositor e responsável pela criação do projeto O Teatro Mágico conversou com o Bahia 247 – afiliado do Brasil 247 – durante o evento Desafio das Bandas, que aconteceu neste domingo, 10, no Bahia Café Hall, em Salvador. Bastante receptivo, Anitelli falou sobre política, cultura, direito autoral, música livre, jornalismo, internet e ainda brincou com o comportamento do público baiano: "Todo mundo fica louco, gritando, é calor, calor . Parece uma final de campeonato, mas com todo mundo torcendo para o mesmo time".

O primeiro CD do Teatro Mágico foi gravado em 2003 na casa de um amigo de Anitelli, em Osasco, e todo divulgado na internet. Os fãs foram também responsáveis pelo compartilhamento do trabalho da trupe que raramente toca em rádio e aparece na televisão. "Para uma banda tocar no rádio, para aparecer em alguns veículos, você tem que fazer alguns acordos. Se você não fizer acordo, você não tem nem a chance de existir". Mas, para o Teatro Mágico, isso nunca foi empecilho. Abraçaram a internet e a potencialidade dessa ferramenta, licenciando todo o trabalho pelo Creative Commons (CC), em que o autor permite o compartilhamento e cópia da obra contanto que resguarde o uso comercial.

Os shows lotam por todo o país, com fãs de todas as faixas etárias. Enquanto conversávamos, antes de ir ao camarim do grupo, um rapaz chegou com o celular dizendo que a cunhada dele de 12 anos queria falar com o artista. "Menina, por que você não veio ao show do Teatro Mágico? Na próxima vez você tem vir conhecer o show".

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Anitelli é assim: carinhoso, alegre e consciente. Defensor da música livre – seu primeiro trabalho solo, As claves da gaveta, também com licença Creative Commons – criticou o ECAD e a ministra da Cultura, Ana de Hollanda. "Nenhum artista quer proteger a sua obra e impedir as pessoas de conhecê-la, impedir de tocar". Para ele, o Creative Commons surge como uma nova maneira de autogerir a obra, além de fortalecer a cultural musical e potencializar o número de ouvintes.

Arte livre

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- Isso é fundamental, porque o artista passa a ter noção do que está acontecendo, quem está consumindo a sua música, da onde está ouvindo. Ele passa a ter muito mais pé no chão. Tira essa visão romântica de que o artista recebe uma inspiração, grava, aparece num programa dominical e no outro dia está com sucesso para o resto da sua vida. Nada a ver. A gente tem mais é que conversar, dialogar, debater, não somente com quem trabalha com produção cultural, mas com o público para o público entender "por que a banda que eu gosto não toca no rádio?" Porque existe um mercado. Essa questão da economia da cultura livre... Hoje para você tocar no rádio para aparecer em alguns veículos, você tem que fazer alguns acordos para aparecer. Se você não fizer acordo, você não tem nem a chance de existir. Ninguém vai te ouvir, cara. E, assim, você ganha direito autoral em cima da reprodução tanto em grandes mídias e em shows. (...) Não é que nós somos uma banda alternativa. A nossa única alternativa é criar uma outra possibilidade e fazer as músicas chegarem às pessoas e isso você não está perdendo.

ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, responsável pelos direitos autorais)

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- A primeira coisa que me vem na cabeça é... um buraco negro. Ninguém entende como é que funciona o ECAD realmente, nem as pessoas que trabalham no ECAD conseguem explicar como funciona a coisa. Quem tá fora entende o papel deles, mas não entende a maneira como eles trabalham. Eles recolhem de tudo que é lugar, recolhem grana do Youtube... Eu, pelo menos, não recebi um centavo pelas minhas músicas que estão no Youtube. O ECAD recolhe de todo mundo: do elevador que está com o som ligado, da sala dos dentistas, daquela tiazinha que está com o rádio ligado no cabeleireiro, ele quer cobrar de todo mundo. Só que ele repassa para um determinado número de músicas, que são as mais tocadas. Quais são as músicas? São as músicas que estão sendo colocadas todo dia dentro das mesmas programações, através de acordo não tão explícitos, não tão claros.

Incentivo

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- A música precisa cada vez mais de pessoas envolvidas produzindo, ouvindo, mas debatendo, dialogando a música, trazendo soluções. Se a gente deixar na mão do acaso, nada vai se modificar. O que a gente vai ver é uma porção de gente se encontrando, tentando fazer alguma coisa funcionar. Quem deveria estar ajudando a gente é quem trabalha com música, as produções, a mídia e tal. mas não cumprem esse papel.

Cadeia produtiva

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- Você passa a existir com essa ferramenta fabulosa que é a internet. Faz você conhecer a cadeia produtiva, faz você ter uma noção de tudo, você valorizar cada notinha que você faz ali. (...) Quando você tem um contato mais próximo com a cadeia produtiva – que é compor ensaiar, divulgar, a montagem, transporte, alimentação, a parte da burocracia, composição, os arranjos –, você deixa de fazer aquela imagem romântica: "deixa eu ficar muito louco, para subir no palco agora"... nunca! Você tem que estar no horário, tem que ter responsabilidade, tem que ser atleta, cara. São duas horas de fôlego, som, olhando para um público... se você ficar duas horas na frente do microfone para falar nada, só para entreter... poxa, isso eu não quero fazer. Eu acho que o artista tem uma responsabilidade social. 

Ana de Hollanda

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- É um retrocesso absurdo com a ministra Ana de Hollanda. Ela retirou o Creative Commons do site, os pontos de cultura, uma coisa que acontece, vinha da gestão passada... É um equívoco a visão dela sobre os direitos autorais. Nenhum artista quer proteger a sua obra e impedir as pessoas de conhecê-las, de tocar. 

Política no Brasil 

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- Tem coisa que funciona, tem coisa que não funciona. Eu sou de esquerda, sempre estive envolvido com movimentos... feminista, LGBT, movimento negro. A política tá acontecendo dentro dos movimentos e não pelas pessoas engravatadas.

Jornalismo

- Tem que saber como distribuir a informação, tem que acompanhar a tecnologia e brigar pela democracia da informação.

E vem novidade por aí. Anitelli afirmou que daqui a dois meses O Teatro Mágico vai lançar o terceiro CD e que ele pretende tocar novos projetos. Confira o vídeo abaixo.

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