Ó do Borogodó, reduto do samba em SP, está prestes a fechar as portas

Poderá ser o fim do principal reduto da boa música da capital paulista. O local está fechado para atividade presencial desde o início da pandemia

(Foto: Reprodução)


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Carta Capital - O bar Ó do Borogodó anunciou pela rede social, no domingo 7, que sofreu ação de despejo. Não se trata apenas de mais uma notícia triste entre tantas ocorridas nos últimos tempos. Poderá ser o fim do principal reduto da boa música da capital paulista. O local está fechado para atividade presencial desde o início da pandemia.

“A gente foi citado e agora temos 15 dias úteis para pagar a dívida ou deixar o imóvel. A gente deve cerca de 120 mil reais de aluguel”, afirma a proprietária Stefania Gola.

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“A gente ficou impressionado com a repercussão da notícia (do despejo). É claro que bate no coração uma vontade de reverter a situação. Não dá pra negar que isso mexe com a gente profundamente. Não é uma coisa fácil. Mas a gente espera alguém que queira ajudar”.

O bar nasceu em 2001, localizado numa pequena rua em Pinheiros, atrás de um cemitério, numa edificação térrea que ficou isolada, com mais dois comércios, depois de resistir à demolição para ocupação de prédios, que foram construídos ao lado.

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Fabiana Cozza se firmou na música a partir de suas regulares apresentações no Ó do Borogodó, até tornar-se uma diva. Por lá passou semanalmente Dona Inah, que lançou seu primeiro álbum tardiamente, aos 69 anos, e fez sucesso – hoje está afastada da música por problemas de saúde.

A potente voz de Adriana Moreira também esteve naquele apertado palco, assim como a do sambista histórico paulista João Borba, já falecido.

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Mas o time de instrumentistas da casa sempre foi invejável: violonistas Alessandro Penezzi, Zé Barbeiro e Gian Correa, o bandolinista Henrique Araújo, o flautista João Poleto, o percussionista Douglas Alonso. Kiko Dinucci e Douglas Germano foram outros grandes músicos da casa.

O lugar tinha boa música porque compunham a sua programação instrumentistas dedicados totalmente ao ofício e trabalhavam para grandes artistas da MPB ou desenvolviam sólida carreira solo. Quando não, eram grupos com forte ligação com o resgate e as tradições culturais, como o Inimigos do Batente.

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Uma penca de músicos de passagem por São Paulo, depois de shows, ou mesmo morando na cidade, costumava terminar a noite no Ó do Borogodó, que mantinha música ao vivo todos os dias e fechava na alta madrugada. O brilhante Yamandu Costa era um deles.

Amantes do samba e do choro eram os principais frequentadores da casa, já que o local tinha programação basicamente voltado ao gênero, mas já teve noite de forró pé de serra no espaço. Vários sambistas fizeram show na casa.

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Bar pequeno, com poucas mesas, atendimento um tanto caótico, sobrepunha tudo isso com música de primeira linha. Era um microcosmo de São Paulo porque preservava a manifestação da música na sua execução mais admirável dentro do samba e do choro, fruto do empenho de seus donos que lutavam para manter esse perfil no espaço todos os dias, sem concessão.

A proximidade do palco com o público – na verdade, a separação era feita pelas caixas de retorno dos músicos, porque nem tablado havia para a banda – criava um clima quase catártico, em dia de casa cheia. A interação era imediata, naquele espaço apertado.

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O bar Ó do Borogodó expressava ao pé da letra a tão propalada aglomeração. Quando ia às ruas com seu bloco no período de carnaval, trazendo seus escolados músicos, garantia-se um desfile inesquecível – e sempre era.

O bar antes mesmo da pandemia já vinha enfrentando dificuldades para sobreviver, com a crise econômica e o público se afastando cada vez mais de lugares com cobrança de entrada, ainda que o Ó do Borogodó não fosse um local de música ao vivo caro. Fechando, São Paulo perde seu principal enclave musical.

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