O cinema francês entra, enfim, no circuito comercial

Michel Hazanavicius e Jean Dujardin ousaram em usar a nostalgia de Hollywood para desbancar a genialidade de veteranos como Scorsese e Spielberg. Com uma fórmula brilhante, muda e em preto e branco, esnobaram quem os esnobou



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Plateias do mundo inteiro se apaixonaram pelo olhar sedutor de George Valentin e pelo forte carisma de seu inseparável cachorrinho. "O Artista", produção franco-belga muda em preto e branco, vencedora de cinco prêmios no Oscar de 2012, tirou o ator Jean Dujardin e o diretor Michel Hazanavicius do anonimato. O que muitos não sabem é que a dupla é há muito tempo sinônimo de sucesso na França.

Hazanavicius ficou famoso com suas paródias do agente secreto francês OSS 117, onde a parceria com o ator Jean Dujardin começou. Adaptado para os cinemas pela primeira vez por Jean Sacha em 1956, poucos sabem que Hubert Bonisseur de La Bath, o OSS 117, não tem nada a ver com James Bond, de Ian Flemming. Inclusive começou anos antes do 007.

O mais irônico é que Dujardin deveria ser uma celebridade no Brasil desde 2009, pois um de seus melhores fimes – “Rio ne répond plus” – se passa no Rio de Janeiro, mas nem assim conseguiu entrar no circuito comercial.

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Todo esse barulho midiático em torno de um pequeno filme, que não ultrapassou os 10 milhões de euros no custo de produção, é anedótico para o público francês. Muitos atribuem o sucesso do filme ao fato de que sua etiqueta "Made in France" se mantém praticamente oculta: a história se passa na Hollywood dos anos 20 e o sotaque francês é abafado pela falta de diálogo no filme mudo. A revista francesa Nouvel Observateur acha até que o sucesso de "O Artista" no Oscar se deve ao fato de que os americanos não sabem se quer que se trata de um um filme francês. Nesse sentido, o New York Times refere-se a ele como uma "fascinação de Hollywood por si mesmo".

O americanismo do filme explica então a paixão dos americanos. Em Cannes, Uma Thurman não escondeu seu entusiasmo pela encarnação urbana dessa fábola. "Este é o último filme da década de 20, produzido em 2011". Benicio Del Toro, que vive em Los Angeles, caiu também no feitiço da ressurreição da cidade antiga. "É a Los Angeles de 'Sunset Boulevard' e 'Cantando na Chuva ". Para os cinéfilos, é igualmente uma viagem através da história do cinema mudo americano.

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Na era da globalização, "O Artista" é quase um cinema local, um produto do regionalismo no passaporte californiano: "Um filme como Hollywood sabia como fazer, um filme como Hollywood sabe como fazer novamente", proclama um anúncio publicitário.

Mas quem o fez, e de forma brilhante, foi a dupla francesa Dujardin e Hazanavicius. Eles trouxeram ao público uma simples fórmula para esnobar que os esnobou. Os dois ousaram em usar a nostalgia de Hollywood para desbancar a genialidade de veteranos como Martin Scorsese e Steven Spielberg. Com o sucesso de "O Artista", a era da alta tecnologia e do 3D foi momentaneamente derrotada pelo passado do cinema mudo.

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A nova geração do cinema francês, que nada tem a ver com Godard e Truffaut, afineta o circuito comercial com sua incontestável inteligência, mas hoje de uma forma mais sutil e divertida. A França, finalmente, conquistou seu lugar na América.

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