Nelson Rodrigues faria 99 anos hoje

O afiado cronista do cotidiano e grande dramaturgo das tragdias humanas foi tambm um genial frasista. Relembre algumas provocaes do escritor brasileiro



✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

247 - Daqui a um ano o Brasil celebrará o centenário de nascimento do escritor, jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues. Nascido em Recife em 1912, ele viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde morreu em 1980. Os preparativos para a data já estão a pleno vapor e incluem um blog com textos inéditos do autor criado pela filha dele, Sonia, a reedição de sua obra e montagens teatrais. O blog integra o site nelsonrodrigues.com.br. que prepara-se para divulgar entre hoje e o centenário um amplo arquivo de textos, áudio e imagens acessível aos internautas. Além de seus livros, peças e artigos da coluna “A vida como ela é”, Nelson ficou famoso por suas falas inspiradas, muitas vezes preconceituosas e machistas.

Despertou a fúria de feministas – e das pessoas de bom senso – ao lançar a famosa “toda mulher gosta de apanhar, só as neuróticas reagem”. Apaixonado pelo Rio de Janeiro, não se intimidou em mandar esta sobre os moradores de São Paulo: “A companhia de um paulista é a pior forma de solidão”. Apaixonado por futebol, ele gostava de dizer que “O Fluminense é o único tricolor. Os outros são times de três cores”. Especialista em metáforas futebolísticas, Nelson soterrou o seu moralismo atávico dizendo: “Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos.”

Nossa ficção é cega para o cio nacional. Por exemplo: não há, na obra do Guimarães Rosa, uma só curra.

continua após o anúncio

Não reparem que eu misture os tratamentos de tu e você. Não acredito em brasileiro sem erro de concordância

Toda mulher bonita é um pouco a namorada lésbica de si mesma

continua após o anúncio

Só o inimigo não trai nunca.

Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém.

continua após o anúncio

Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe.

Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar.

continua após o anúncio

O marido não deve ser o último a saber. O marido não deve saber nunca

Não admito censura nem de Jesus Cristo

continua após o anúncio

Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral

Um Garrincha transcende todos os padrões de julgamento. Estou certo de que o próprio Juízo Final há de sentir-se incompetente para opinar sobre o nosso Mané.

continua após o anúncio

A dúvida é autora das insônias mais cruéis. Ao passo que, inversamente, uma boa e sólida certeza vale como um barbitúrico irresistível.

Toda coerência é, no mínimo, suspeita.

continua após o anúncio

A maioria das pessoas imagina que o importante, no diálogo, é a palavra. Engano, e repito: – o importante é a pausa. É na pausa que duas pessoas se entendem e entram em comunhão.

Toda a história humana ensina que só os profetas enxergam o óbvio.

Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível.

No Brasil, quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte.

A morte de um velho amigo é uma catástrofe na memória. Todas nossas relações com o passado ficam alteradas. 

Não ama seu marido? Pois ame alguém, e já. Não perca tempo, minha senhora!

A verdadeira grã-fina tem a aridez de três desertos.

No passado, a notícia e o fato eram simultâneos. O atropelado acabava de estrebuchar na página do jornal.

Um filho, numa mulher, é uma transformação. Até uma cretina, quando tem um filho, melhora.

Natal já foi festa, já foi um profundo gesto de amor. Hoje, o Natal é um orçamento.

Enquanto um sábio negro não puder ser nosso embaixador em Paris, nós seremos o pré-Brasil.

Se eu tivesse que dar um conselho, diria aos mais jovens: – não façam literatice. O brasileiro é fascinado pelo chocalho da palavra.

Quero crer que certas épocas são doentes mentais. Por exemplo: – a nossa.

Desconfio muito dos veementes. Via de regra, o sujeito que esbraveja está a um milímetro do erro e da obtusidade.

Falta ao virtuoso a feérica, a irisada, a multicolorida variedade do vigarista


 

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247