Muito barulho por nada
Rafinha Bastos, sempre ele, causou polêmica ao dizer que manteria relações sexuais com Wanessa Camargo e o filho que ela carrega no ventre. Piada de mau gosto, concordamos, mas, antes de tudo, piada ruim
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Talvez não fosse o caso de apelar para Shakespeare. O assunto não vale tanto assim, mas tem provocado tanto barulho que fui dar uma folheada no bardo para checar se sou só eu mesmo ou mais alguém acha que essa história de dar atenção demais a piadas sem graça é bobagem. Rafinha Bastos, sempre ele, causou polêmica de novo ao dizer que manteria relações sexuais com Wanessa Camargo e o filho que ela carrega no ventre. Piada de mau gosto, todos concordamos, mas, antes de tudo, piada ruim.
Não faz sentido afastar ou punir Rafinha por fazer aquilo que ele é pago para fazer. Seu humor é baseado no insulto e, quando bem feito, tem, sim, graça. Já ri de Rafinha, mas o cara não vai acertar sempre. Assim como o também stand-up Danilo Gentili, outro foco de discórdia permanente. Até o sit-down Lars von Trier, que se arriscou no stand-up outro dia em Cannes, acabou vítima de quem vem aproveitando escorregadas alheias para defender bandeiras políticas.
Banir um diretor do Festival de Cannes por uma piada mal feita é supervalorizar a besteira que ele disse – e admitiu ter dito. Eis aí o paradoxo: os movimentos políticos precisam de um contraponto a combater para sobreviver e, para isso, se nutrem de qualquer coisa, inclusive piadas despretensiosas amplificadas por eles mesmos. Em vez do desprezo que merece, a blague sobe no altar para ser apedrejada. Rafinha fazia a (também ruim) piada do estupro há cinco anos, mas só virou alvo potencial depois da fama e foi devidamente molestado pelo movimento feminista.
Na falta do que fazer, vamos nos importando com comentários despretensiosos como, digamos, quem une em matrimônio um casal impossível só para passar o tempo – na época do Shakespeare, aparentemente eles se divertiam assim. É a ditadura da banalidade, há séculos desviando o homem do que realmente importa. De tudo isso, contudo, fica uma lição para todos aqueles que, assim como eu, não vivem da piada, mas gostam de parecer engraçados:
Se você tem pretensões humorísticas ancoradas na infâmia, saiba que há piadas que só se faz entre amigos, outras que não devem ultrapassar o círculo familiar e ainda aquelas que devem ser reservadas a seu cúmplice mais íntimo – isso quando não devem, no máximo, ser pensadas e guardadas dentro do seu mais obscuro compartimento mental. A internet, com sua capacidade de amplificar sussurros, elevou a intimidade à décima potência, mas, para o seu próprio bem, ninguém precisa ficar sabendo exatamente quem você é.
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