Masp veta fotos e documentos do MST e cancela parte da exposição 'Histórias brasileiras'

Núcleo "Retomadas" foi cancelado da exposição prevista para julho deste ano, a maior de 2022 no museu em SP

(Foto: ABr)


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247 - Parte da exposição do Masp "Histórias Brasileiras", prevista para julho deste ano, foi cancelada após o museu vetar um conjunto de documentos e fotos do Movimento Sem Terra, o MST, e de fotografias dos artistas João Zinclar, André Vilaron e Edgar Kanaykõ. Esta é a maior exposição do Masp neste ano.

Artistas e outros envolvidos no núcleo denominado "Retomadas" foram informados da decisão das organizadoras dessa parte da mostra, Sandra Benites e Clarissa Diniz, curadora adjunta e curadora convidada da instituição, respectivamente, em e-mail assinado por ambas.

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Segundo as organizadoras, o museu alegou que o conjunto de documentos e fotografias não poderia integrar a mostra porque foram requisitados após o prazo estipulado pelo museu para empréstimo das obras. Elas afirmam, no entanto, que não foram informadas dessa data máxima definida pela instituição.

Em nota, o MST manifestou "indignação" com a direção do Masp. Leia a íntegra do texto abaixo:

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Viemos, através desta declaração, manifestar nossa indignação com a atitude da direção do MASP que levou a impossibilidade de realização do Núcleo “Retomadas”, como parte da mostra Histórias Brasileiras.

Como informa e-mail recebido das curadoras no dia 03/05/2022, sob alegações de cunho burocrático e legalista que não se sustentam na efetiva realização do projeto, o MASP inviabilizou a inserção de imagens do Acervo do MST, do Acervo João Zinclar e de outros acervos que documentam a trajetória do MST e da luta pela Reforma Agrária no Brasil.

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Somos testemunhas da forma ética e profissional com que as curadoras e os acervos parceiros se empenharam na produção do projeto, em todas etapas e em acordo com as demandas da instituição. Afirmamos nosso respeito e apoio às curadoras Sandra Benites e Clarissa Diniz, responsáveis pelo Núcleo “Retomadas”, que diante da atitude do MASP decidiram não participar da mostra, pois, como declaram: "Aceitar a exclusão das imagens das retomadas em nome da permanência do núcleo nos levaria a ser desleais com os sujeitos e movimentos envolvidos na nossa curadoria – contradição que não estamos dispostas a negociar por não concordar com tamanha irresponsabilidade."

Como afirmam as curadoras: "O Retomadas é sobre a urgência de revermos as éticas e políticas coloniais de nossos territórios, línguas, corpos, representações e museus. Do nosso ponto de vista, mantê-lo à revelia da representação das próprias retomadas que lhe dão título, argumento e sentido social nos levaria a ser anti-éticas em nome da ética, excludentes em nome da inclusão, não-representativas em nome da representatividade, expropriadoras em nome da não-apropriação, silenciadoras em nome da voz. Nos levaria, por fim, a praticar a colonialidade contra a qual o núcleo se insurge".

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O material selecionado pelas curadoras - imagens fotográficas, cartazes, cartilhas e jornais impressos - são testemunhos da capacidade da classe trabalhadora de se apresentar firme e altiva como sujeito de sua história, em todos os sentidos. Destacamos que ao inviabilizar a inserção da totalidade desses documentos o que de fato se efetiva é a exclusão de um dos maiores movimentos sociais da história contemporânea brasileira e latino-americana.

Decisão que aponta para uma construção de conhecimento histórico distorcido e comprometido com uma cultura deturpadora da real complexidade da história política brasileira. Atitude que, no mínimo, está em desacordo com a função social de uma instituição museológica que se apresenta em seu site com a seguinte missão: “O MASP, Museu diverso, inclusivo e plural, tem a missão de estabelecer, de maneira crítica e criativa, diálogos entre passado e presente, culturas e territórios, a partir das artes visuais. Para tanto, deve ampliar, preservar, pesquisar e difundir seu acervo, bem como promover o encontro entre públicos e arte por meio de experiências transformadoras e acolhedoras.”

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Portanto, questionamos a atitude excludente da direção do MASP, apontamos a gravidade deste tipo de construção de conhecimento que invisibiliza a luta da classe trabalhadora e chamamos toda a comunidade cultural e entidades que representam as lutas do povo brasileiro para este debate, que se reveste da urgência de não ceder à censura e ao apagamento de nosso maior patrimônio: nossa capacidade de luta organizada para construir um outro modelo de sociedade.

Pátria Livre, Venceremos!

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Acervo João Zinclar

Coletivo de Arquivo e Memória do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

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Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

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