Loucos pelo fim do mundo

O que um clássico do cinema tem a ensinar aos cosmofóbicos ou como parei de me preocupar com a apocalipsemania e passei a amar os meteoros



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Vivemos tempos estranhos em que loucos cometem chacinas e atrocidades, mas em que a "loucura" como conceito está com tudo. Os torcedores de um time se autoproclamam "um bando de loucos." Um popular apresentador de televisão usa o bordão: "Loucura, loucura, loucura." E outro completa: "Ô, louco!"

Infelizmente, nem sempre é clara a linha que separa o maluco beleza do maluco perigoso, e nem todos os livros do Michel Foucalt podem produzir relativismo o bastante pra assimilar um trauma muito violento, como a chacina de crianças por nenhum motivo.

Se é impossível descobrir onde e quando vai surgir mais um maluco perigoso, pelo menos podemos constatar a loucura se alastrando como um vírus na imprensa e nos veículos de entretenimento. Por exemplo, pessoas que se mutilam, se agridem, e violam os corpos uns dos outros. Tudo vendido como "humor", veja isso.

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Por outro lado, empresas supostamente sérias como o Discovery Channel fazem documentários alarmistas sobre o fim do mundo, e aterrorizam as crianças, que não têm senso crítico pra assimilar aquilo. Muitas ficam com medo e fustigam seus pais e professores com os piores temores: "É verdade que vai acabar o mundo?" Com a saúde mental delas, ninguém parece se preocupar muito.

A Guerra Fria estava pegando fogo quando o cineasta Stanley Kubrick lançou Dr. Fantástico (1964), com o subtítulo: "Como aprendi a parar de me preocupar e passei a amar a bomba." O filme tirava sarro dos temores que cercavam a bomba atômica, e cinicamente concluía: se o homem é mesmo capaz disso (lançar a bomba e começar a sessão de retaliações que levaria ao fim do mundo), quero estar no epicentro de tudo, em arrematada loucura, brandindo um chapéu de cowboy e cantando.

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Kubrick sabia que não estava a seu alcance impedir um general louco de soltar a bomba, por isso parou de se preocupar e passou a amá-la, pronto. Se o mundo explodisse, que fosse com pirotecnia, fogos de artifício e explosões simultâneas de milhares de bombas de hidrogênio, pra que acabasse bem acabado, e não restasse um só humano pra começar tudo de novo.

A atitude filosófica de Kubrick podia inspirar os atuais "cosmofóbicos", aqueles que acompanham com apreensão as notícias sobre os perigos que vem do espaço, como meteoros, tempestades solares e buracos negros, ou que vem do planeta mesmo, como tsunamis, terremotos ou curtos-circuitos eletromagnéticos.

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Podia inspirar também os editores e pauteiros dos nossos veículos, que lucram em cima do medo generalizado e botam ainda mais minhoca no inconsciente coletivo, mais paranoia no Zeitgeist do nosso tempo, tão depauperado. Temores apocalípticos existem desde que o mundo é mundo, e a cada nova falsa profecia que não se realiza, renovam-se os temores milenaristas e escatológicos, tudo sob a chancela de falsos gurus, pseudocientistas, charlatães e aproveitadores. Eis aí um tipo de loucura que não parece muito saudável.

Por isso, o melhor é venerar o sol, os oceanos e as grandes rochas que vagam no espaço, como faziam os antigos. Não há razão pra temê-los. Ironicamente, no caso de um eventual choque com um meteoro, a única coisa capaz de salvar o mundo seria a bomba atômica, que Kubrick nos exortou a amar há quase cinquenta anos.

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