Joice Zau: o slam reaproxima as culturas de Brasil e Angola

Pandemia levou engenheira eletromecânica nascida em Kabinda a vencer batalhas de palavra falada na América Latina e a conhecer o racismo brasileiro; veja vídeo na íntegra

Engenheira eletromecânica Joice Zau
Engenheira eletromecânica Joice Zau (Foto: Facebook/Joice Zau)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Opera Mundi - A distância geográfica e cultural entre Brasil e Angola diminuiu para a engenheira eletromecânica Joice Zau, nascida em Kabinda e radicada em Luanda, a partir da pandemia de coronavírus, quando ela passou a acompanhar via internet festas de poesia falada realizados do outro lado do Oceano Atlântico. 

Os chamados slams, originados nos Estados Unidos e trazidos ao Brasil em 2008, têm funcionado como veículos de popularização da poesia e, sobretudo, de conscientização racial, protesto e espaço de resistência para populações periféricas e minorias sociais ao redor do planeta. 

continua após o anúncio

Zau contou ao jornalista Haroldo Ceravolo Sereza, no programa SUB40 desta quinta-feira (17/11), que acompanhava os saraus de Angola desde 2018: “eu nunca tinha sido apresentada à poesia revolucionária. O que via era aquela poesia de amor, cheia de calmaria, mas nunca antes tinha ouvido poemas que reivindicavam, protestavam, falavam de desigualdades sociais, de colorismo, das ditaduras que os povos africanos vivem, da neocolonização”.

Os slams levaram a engenheira, hoje com 25 anos, à elaboração de poesias próprias, ao ativismo e à celebridade no país natal. Segundo Zau, seu interesse por letras é anterior ao encontro circunstancial com a engenharia. 

continua após o anúncio

“Kabinda produz muito petróleo, e várias empresas mundiais exploram petróleo em Angola. Apareceu uma empresa petrolífera que queria conceder bolsas de estudos, eu não queria ir porque não queria ser engenheira. Mas fiz o curso em refinação de petróleo, e acabei por me apaixonar”, relata. Ela ainda trabalha na área, como técnica de eletricidade, mas, desde 2020, cursa faculdade de letras em Luanda.

Segunda colocada no Slam São Paulo, classificou-se para o Slam Brasil, onde também terminou vencedora. Em 2021, veio ao Brasil para participar da Copa América de Slam e conheceu São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. 

continua após o anúncio

Mais uma vez segunda colocada, chegou à Copa do Mundo de Slam, como representante do Brasil. "Nunca imaginei que essa arte me levasse tão longe. Conheci poetas de vários países da Ásia, da Europa, na América do Norte e do Sul e de outros países africanos", disse.

Zau descreve diferenças resultantes da escravização africana no Brasil e da colonização europeia na África. “Aqui, depois da colonização, os povos africanos mergulharam em guerras civis, e depois mergulhamos em regimes ditatoriais. Por outro lado, muitos jovens são mortos na periferia do Brasil, e aqui não temos esses casos”, compara as duas experiências.

continua após o anúncio

Ela sentiu o choque cultural no contato com o Brasil: “vejo que o povo negro daí tem a tendência de romantizar um pouco a África. Se apegam ao passado e se esquecem de estudar aspectos atuais do povo africano, às vezes não percebem que a escravidão também deixou resquícios aqui de que há muitos resquícios da colonização aqui. Ou seja, apesar de estarmos em África, ainda estamos no processo de aprender a ser africanos”. 

Sua percepção é de que os negros brasileiros e os africanos se encontram num caminho semelhante de busca de emancipação cultural, ao mesmo tempo que festeja esses intercâmbios como importantes para quebrar barreiras históricas entre o presente e o passado nos dois lados do Atlântico.

continua após o anúncio

Zau relata, por fim, seus sentimentos ao se deparar com a experiência negra brasileira traduzida na linguagem da poesia periférica: “fico com dor, muito triste, quando ouço slams da comunidade negra daí. Penso que eles podiam voltar para casa, me dá vontade de buscar e trazer para cá, mas depois me lembro que a casa não é a mesma, que não dá”. 

A arte, conclui, é ferramenta forte de aproximação, para beber das experiências de uns e de outros, replicar exemplos e compartilhar dores.

continua após o anúncio

Assista:

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247