Jana Sá comenta filme O Pastor e o Guerrilheiro: "lembrar para jamais esquecer"

Produzido por Nilson Rodrigues e com o roteiro de Josefina Trotta, o filme é inspirado em uma história real de Glenio Sá

Jana Sá em entrevista à TV 247
Jana Sá em entrevista à TV 247


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Por Sara Goes (247) - A jornalista e documentarista potiguar Jana Sá comentou em entrevista à TV 247 a emoção de ver parte da história de seu pai, o guerrilheiro Glenio Sá nas telas do cinema em O Pastor e o Guerrilheiro. 

Produzido por Nilson Rodrigues e com o roteiro de Josefina Trotta, o filme é inspirado em uma história real de Glenio Sá. A produção foi rodada no estado do Tocantins, às margens do Rio Araguaia, e em Brasília. Com produção executiva de Caetano Curi,  a obra tem direção de fotografia de Bárbara Alvarez, direção de arte de Ana Paula Cardoso, direção de produção de Larissa Rolin, música de Sascha Kratzer e figurino de Diana Brandão.

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“Esse filme chega num momento muito importante da história do Brasil. Eu sempre fui da opinião de que adaptações cinematográficas de livros reúnem o melhor dos dois mundos: as narrativas fantásticas da literatura e os recursos audiovisuais da sétima arte. E são nelas que diversos personagens queridos ganham rosto, universo inteiros vão construindo uma forma, histórias ganham cada vez mais alcance. Agora imagina o que é você vê a história que você cresceu ouvindo na sua casa! Mais do que isso: acho que o poder ganhar um alcance inimaginável a partir do olhar de milhares de pessoas que estão tendo acesso ao filme. Então é, na prática, mais um passo na luta que a minha família faz desde sempre”, contou. 

O filme

O encontro que norteia a narrativa do filme é uma experiência vivenciada por Glenio Sá, contada por ele no livro Araguaia - Relato de um Guerrilheiro, da editora Anita Garibaldi. No entanto, o protagonista é uma personagem criada através da junção entre Glenio e José Genoíno, seu parceiro de guerrilha. 

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Jana Sá denunciou um possível boicote ao filme na capital do seu estado. “É um boicote ao cinema brasileiro, um boicote à história do meu pai. É um boicote à exibição de um importante filme que trata do passado e do presente do nosso Brasil”, disse Jana Sá.  

Amor nascido na luta

O caráter destemido de Jana não é apenas herança de seu pai, com quem conviveu apenas até os 6 anos de idade. Em 1990 um acidente de carro  levou o guerrilheiro. Ela não tem mais recordações de seu pai e lamentou que após um assalto à casa da família conseguiu reaver apenas uma fotografia onde é visível parte de sua silhueta.

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Em 26 de julho de 1990, o fusca de Glenio Sá bateu de frente com um Opala de placa adulterada. O motorista do Opala fugiu sem prestar socorro e nunca foi encontrado. Os passageiros retornavam para Natal depois de uma atividade de campanha no interior do Rio Grande do Norte. Morreram Glenio Sá e Alírio Guerra, dois dos principais dirigentes do PCdoB no estado e que, naquele ano, disputariam uma vaga no Senado e na Câmara dos Deputados, respectivamente.

Os sobreviventes do acidente não têm lembranças do evento e, por isso, não são capazes de contribuir com a investigação que Jana faz de forma independente. A jornalista passou então a tentar em vão o acesso à documentações de cidades próximas ao local onde seu pai faleceu, na estrada entre os  municípios de Jaçanã (160Km de Natal) e Coronel Ezequiel (150km de Natal). 

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A investigação em torno do evento que vitimou seu pai tem uma motivação que vai além da nostalgia familiar. “Ao longo de duas décadas eu juntei e analisei documentos, ouvi testemunhas, li depoimentos. Voltei ao passado e eu percebi que ao buscar esclarecer as circunstâncias desse emblemático caso da morte do meu pai na verdade iniciava um processo de reflexão sobre o esquecimento como produtor de sintomas sociais da atualidade.”

O material reunido na pesquisa de Jana Sá se transformou em um documentário intitulado Não foi acidente, mataram meu pai, e ela explica: “Porque o caso do meu pai se soma um processo de elucidação de assassinatos políticos que não estão contabilizados e que ocorreram após o período da redemocratização. A sociedade brasileira precisa entender que não acabou e que o aparato repressor continuou a agir, pra gente poder ligar o passado ao presente do que a gente está vivenciando”

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Lembrar para jamais esquecer

A documentarista considera que a produção audiovisual de materiais que contam histórias como a de seu pai é necessária para os dias de hoje justamente para que o distanciamento não gere impunidade.  

“Trazer o debate sobre a Guerrilha do Araguaia, sobre os horrores da Ditadura é tratar do futuro do país. É mostrar à sociedade a importância de se reinterpretar a Lei de Anistia de 1979 para que a gente não continue a conviver com a impunidade que tem levado a repetição no Brasil. Precisamos punir os agentes de Estado que cometeram crime de lesa-humanidade porque eles são imprescritíveis. Precisamos contar a inteira verdadeira e o cinema é um instrumento muito potente para essa discussão.”

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