Ivald Granato a Solnik: Lava Jato parou tudo
Depois de passar, nos anos 60, mais tempo jogando coquetéis molotov do telhado do que frequentando aulas na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro e de fugir para a Bolívia, onde foi saudado nas ruas como um suposto sucessor de Che Guevara, Ivald Granato construiu uma sólida carreira nas artes plásticas, com inúmeros prêmios no exterior e aquisições por museus e colecionadores nacionais e internacionais; em entrevista ao jornalista Alex Solnik, ele se disse perplexo com o cenário político e econômico e afirmou, ainda, que desde a eclosão da Lava Jato vigora um clima de paralisia em todo o país, que repercute na sua área; “Muita gente roubando... muita gente ficou rica... a sociedade ficou ladra”; confira a íntegra
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Por Alex Solnik
Depois de passar, nos anos 60, mais tempo jogando coquetéis molotov do telhado do que frequentando aulas na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro e de fugir para a Bolívia, onde foi saudado nas ruas como um suposto sucessor de Che Guevara, Ivald Granato construiu uma sólida carreira nas artes plásticas, com inúmeros prêmios no exterior e aquisições por museus e colecionadores nacionais e internacionais. Também ficou conhecido por performances ousadas, nas quais posava nu ao lado de belas garotas também nuas e por sua agitada vida social, com destaque para sua amizade íntima com uma das figuras mais efervescentes do jet set internacional, a princesa alemã Gloria de Thurn und Taxis. Ele recebeu 247 em sua casa assinada pelo arquiteto Rubens Viana, no Alto de Pinheiros, em São Paulo, onde mora com a mulher, Laís, e trabalha e nos fins-de-semana recebe filhos e netos, quando não viaja ao Guarujá, tal como faz a maioria das famílias paulistanas da classe média alta. Perplexo com o cenário político e econômico, Ivald disse que desde a eclosão da Lava Jato vigora um clima de paralisia em todo o país, que repercute na sua área. “Muita gente roubando... muita gente ficou rica... a sociedade ficou ladra”... Disse também que “a cultura está muito chata” e sente falta do tempo em que era comum “todo mundo comer todo mundo e transar em várias pessoas juntas”, do clima amistoso que predominava no Brasil e das bacanais dos anos 80, regadas a muito pó - “quem não cheirava estava por fora” - e mulheres bonitas, que compara às do filme “O Lobo de Wall Street”, onde a cocaína e o sexo são as estrelas principais.
O que você está achando disso tudo?
Eu não tenho nem o que achar, porque a situação está parecendo uma coisa sobre a qual não dá para ter opinião mais. É uma coisa muito confusa. Você não pode nem saber o que você pode pensar. Todos estão muito confusos, muita loucura e eu acho que está muito esquisito. A cultura está muito chata! Muita gente roubando, muita gente ficou rica, a mentira virou uma verdade...as verdades são estranhas... então, sei lá eu como lidar com isso, porque é dificílimo. A Dilma está enrolada até o pescoço! E ela fala de uma maneira... hoje eu ouvi no almoço ela falar alguma coisa tipo “ah, não posso falar isso ainda, na quarta-feira vocês vão ver”! Ah, “os que querem o pior, os que querem o melhor”... ela só sabe falar isso. O Brasil precisa de alguém que chegue lá e diga: tira isso... põe isso... vamos fazer isso... tá na cara que é isso! Eles estão só se defendendo, é uma coisa! O Executivo está só se defendendo. O papel dele é executar.
Um governo que provoca a crise vai tirar o país da crise?
Não vai, não. Eles foram muito burros. Roubaram demais. E virou todo mundo ladrão. Você nota que a sociedade ficou ladra. Eu não sei o que vai acontecer, mas que vai dar confusão, vai.
Não sei se você reparou... desde a Lava Jato o governo não consegue mais maioria na Câmara. Por que será?
Tá na cara. Desde que começou a Lava Jato parou tudo. A arte também ficou uma coisa. Você não vê notícia mais nas revistas tipo “feira vende não sei quantos milhões”! Eu vejo o pessoal reclamar... mas eu trabalho com o osso da cultura. Não muda muito para mim. Mas não é aquela coisa de que falavam. “Vendemos 20 milhões”! Agora não está rolando mais. Eu pelo menos não tenho visto notícias. Tem seda, não?
Claro! Uso a vermelha. Smoking.
Eu tenho bastante seda.
De qual você gosta mais?
Não, eu tenho bastante seda. Tanto faz. E você, o que está achando?
Tem dia que eu nem quero abrir o jornal!
(Ri)
Não consigo mais ler as notícias dos milhões que um roubou, que outro vai devolver, delator para lá, delator para cá.
E depois você tem que ver a coluna social com aquelas mulheres horrorosas, deformadas... não dá, né?
Quais mulheres horrorosas?
Porque não se vê mais gente bonita, gostosa, legal. São descalabros. Na arte não tem uma mulher bonita, só tem mulher feia.
Aqui em casa eu vejo mulher bonita.
Ah, na sua casa você está bem... graças a Deus! Mas você nota que o clima está pesado. Você escreve para as pessoas e elas levam dois dias para retornar o e-mail. Eu até falei para a Laís: nessas horas a gente tem que contar pela idade. Não é 65 anos a aposentadoria? Faz de conta que eu me aposentei hoje. Foda-se!
E as festas? Não tem mais aquelas festas?
A minha turma parou bem. Muitos amigos, quase noventa por cento ficou mal. Tem muitos doentes...
Por causa de fumo, pó, essas coisas?
Não, nada disso! Câncer mesmo. Eu não acredito muito nesse negócio que bebida mata... a não ser quando o cara bebe pra lascar o cano... a maioria das pessoas que eu conheço pararam de beber na hora que pararam de beber. Pararam de cheirar na hora que pararam de cheirar. Dá dor de cabeça, essas coisas. Hoje mesmo eu estava fumando um cigarrinho – eu parei de fumar há uns dois anos...
Cigarro tabaco você quer dizer?
É. Fumei um cigarrinho de manhã, por acaso, tem sempre uma carteirinha... pensei: não vou fumar mais não, chega. Tem hora que dá um prazerzinho, aí eu pensei que ia ser legal. Fui a Paris há pouco tempo, cheguei lá, senti um climazinho para um cigarrinho. Não voltei a fumar. A comprar maço, não. Mas aquele negócio de “simidão”... pega um ali na banca de jornal... Agora, o que eu tenho visto é pessoas morrer de morrer mesmo! É o fígado que apodreceu... o câncer que surgiu...
O que você foi fazer em Paris?
Eu fui passear mesmo. Eu tenho muitos amigos em Paris. Eu tenho um casal de amigos mais íntimo que eu sou padrinho do filho deles. Ele é filho de um grande amigo meu também que era colecionador e marchand. Comprava, assim, os melhores. Tinha Modigliani... Picasso... Família bem tradicionalzinha.
Beaucoup de l’argent?
Não eram milionários, mas eram bem riquinhos. Trabalhavam, compravam, conclusão: o filho dele, o Roman, que é um bon vivantcasou com uma Françoise, uma menina normal também, morou um tempo no Brasil. Eu estou falando deles porque eles são um casalzinho que me oferece, por exemplo, a casa lá, mas não é nem na casa deles. Acabou acontecendo que eles tinham um apartamento, venderam o apartamento, compraram um pequeno para alugar. Foram alugar o apartamento. Depois, o pai morreu, deixou outro apartamento e a mãe dela morreu e deixou outro apartamento, não sei aonde. Conclusão: eles têm lá três ou quatro apartamentos que alugam, caprichados, porque eles capricham. O marido é marchand de tableaux, trabalha nisso há muitos anos. Então, para mim não tem problema nenhum, eu chego lá, estou no meio da curriola. Chega seis horas da tarde tomo uisque com mais de 100 marchands, compradores... eu fico bem no meio da curriola, não preciso me esforçar.
Você faz negócios?
Às vezes, mas não é o caso. Nosso objetivo é beber... é comer o patê não sei que lá... O importante lá para nós é a relação de comida. E dessa vez fui para uma cidadezinha do interior chamada Le Mans, que lá também a mãe dele deixou uma casa de campo para eles, e nosso objetivo era, para essa casinha de campo, que é uma gracinha, qual é o programa? Chaminé - que é a lareira - e cozinhar. O meu amigo Roman é metido para caralho a ser cozinheiro, sabe? Daqueles caras metidos... Não é bom cozinheiro, mas metido a entender mais de cozinha do que qualquer um. Dá opinião... Eu jamais em Paris vou a um restaurante sem passar pelo crivo dele, senão ele fica puto. Puto mesmo! Maluco! Ele vende quadro, mas o assunto mais importante é o vinho que vamos tomar à tarde. É francês, estou falando que ele é francês! E um outro amigo nosso, que é casado com outra amiga minha, brasileira, ele era o dono do bar mais famoso da Rue de Senne, o bar dos galeristas. Era um bar famoso, onde frequentava Picasso, Matisse. La Palette. E ele era o que? Era garçom, depois ficou dono. Então, fica aquele clima... um na lareira, outro na cozinha, limpando o copo durante três horas, porque eles têm a mania de pegar o pano e ficar, e futucam e secam... quinze minutos para enxugar um copo. Você não vê em Paris aqueles garçons que ficam com o copo, assim? Então, é ele e essa Françoise, que é muito engraçada...aí, todo dia acordar cedo, aquele frio filho da puta, aquele programa “o que é que nós vamos comer”? Mas já estava tudo traçado. O almoço. E durante os outros períodos era a feitura daqueles mousses, patê de ganso...
Lá não é proibido, como em São Paulo?
Em Paris não é proibido nada! Eu estava lá na época do ataque ao ”Charlie Hebdo”. Então, eu nem penso em trabalhar muito em Paris. Quando eu vou a Paris eu vou para fazer bagunça! E aí depois eu fico como se estivesse em casa lá. Agora fiquei num apartamentinho deles que é maravilhoso... ali no Quartier Latin, pertinho das bocas todas e bom para sair a pé.
Paris ainda é a capital da arte ou está como aqui?
Paris é arte! Tem aquele perfume, aquele cheiro, aquelas paredes...Paris é impregnada de arte. Tem a área do pessoal contemporâneo e tem a área de Paris-Paris. Eu gosto dos franceses, gosto do tratamento dos restaurantes, aquele clima de almoçar, aquela quantidade de comida, porque lá em Paris não tem esse negócio de parar de fumar porque o americano diz que não faz bem. Não tem isso. Eles não fumam muito. A não ser quando cheiram também.
Estão cheirando bem?
Agora também não. Também lá em Paris isso diminuiu. Até o Keith Richards... Ron Wood... minha turma dos Stones... eles pararam com tudo também.
Keith está com quantos anos?
Setenta e um...Ele diz que dói a cabeça quando cheira. Eu quando vou a Londres ou aos Estados Unidos fico na casa dele.
Como você conheceu o Keith? Tem quadros teus?
Não, conheci em farra. Fiquei amigo do Ron Wood, ele gosta muito de pintura, fiquei muito amigo do Keith também. Wood é pintor, fez Belas Artes... Keith Richards é meu amigo íntimo! Ontem saiu uma foto eu, ele, Caetano e Gil. Está no meu e-mail, que alguém postou, não fui eu. Outro dia publiquei uma foto do Keith Richards com a Laís, fumando um Marlboro na casa dele onde eu fiquei hospedado, em Winston.
Inglaterra?
Em New York. Ele mora em Nova York...
E o dólar, hein? Quanto está o dólar hoje?
O dólar acabou de chegar em 4, mas ainda vai ter problema. Entraram com a venda hoje para ver se melhora.
Mas para você é bom aumentar o dólar, não é? Você vende bastante no exterior?
Isso aí é problema de quem tem muito empregado, muita indústria, muita fábrica e ganhando muito. A gente que está numa boa, normal, o máximo que pode acontecer é você fazer uma viagem menos agressiva.
E as tuas vendas? Foram afetadas? Vende-se menos obras de arte?
Para mim as vendas estão normais, porque eu já tive período de muita atividade, aquela coisa de estar na moda, todo mundo quer, depois continuei a vender normalmente e isso não afeta nada. O que afeta são esses mercados que precisam vender todo dia, é o mercado de arte de feiras, galerias de alta rotatividade. Para mim não mudou absolutamente nada.
Você tem recebido encomendas?
É muito raro. Em geral as pessoas compram o que já tem no mercado. E eu estou trabalhando para caralho! Nunca trabalhei tanto! Porque agora não tenho atelier fora, não saio muito nas farras mais, então a minha atividade cresceu. Acordo às 6 da manhã, não tem conversa, já parto logo para a pintura.
Como eram as farras?
O bacanal esteve em voga uma época... depois sumiu de cena... e o bacanal ganhou prestígio muito grande agora recentemente, nos anos 80. Porque nos anos 80 havia muitas casas de prostituição que hoje não tem mais, com moças muito bonitas e não era, vamos dizer, uma casa de prostituição. Na frente do meu estúdio tinha uma. Era um bar maravilhoso, um bar inglês, tinha um na Henrique Schauman que até hoje é um tipo de um bingo. E aquilo cativou os rapazes da época porque as moças eram muito bonitas, bem vestidas pra burro, usavam roupas iguais às das meninas da alta sociedade, tão bonitas quanto, tão jovens quanto, só que era um lugar que tinha bons drinques, boa luz, boa música e você ia para lá. Lá não era lugar de fazer nada, era um bar. Você pegava quem quisesse e saía. Podia sair com várias. Muita gente ia lá e nem saía com ninguém, frequentava diariamente, conheci muitas pessoas que sete horas da noite estavam lá. Por que?
Você está falando do Café Photo?
Não, além do Café Photo, é claro, do meu amigo Luiz Tripoli, tinha vários. O Café Photo tinha a dinâmica de ter um preço mais caro, elitista. Esse não era um preço elitista. Era um bar normal. Tinha vários bares na Henrique Schauman muito bons. Só que os bares muito bons tinham meninas, mas não eram meninas que transavam... transavam também, mas eram mais trabalhosas, tinha que ter muita conversa, havia um certo envolvimento. Depois, a situação das pessoas não podia ser exposta, um sujeito casado que está namorando vai lá tomar um drinque para se divertir não ia ficar paquerando uma menina que é da roda ou do sistema. E nesses lugares, não, eram meninas que estavam ali com uma função específica. Elas não eram da sua turma. Você podia brincar à vontade, dançar à vontade, não tinha crítica. Então, eu me lembro que nessa época ficou muito evidente essa relação...
Mas até aí não tem bacanal.
Nesse período rolaram muitas bacanais. Porque as pessoas saíam desses bares, em grupos de vários amigos, várias meninas e daí iam para algum lugar onde faziam coisas superinteressantes. Mas tudo começava ali, eram bares que até meninas iam só para ver porque as meninas eram muito bonitas, muito bem vestidas. Alguns restaurantes dos Jardins eram frequentados por meninas desses lugares, que se vestiam quase ou até melhor, roupas, bolsas, sapatos, elegância, tudo, iam almoçar e ali elas faziam os baratos delas. Desses bares surgiram grandes amizades e festas memoráveis...em belas casas... isso aconteceu muito aqui.
Como era uma festa memorável?
Até teve um filme agora há pouco tempo que relatou isso, aquela história do cara que ficou rico na Bolsa... um pouco mais ou menos assim: o pessoal ganhava muito dinheiro...
O “Lobo de Wall Street”?
Sim. Não era nada mais diferente que aquilo, não. Não vou descrever, mas aquele filme abordou uma história que aconteceu muito em São Paulo. Em Nova York também tinha muito disso, em São Paulo... em São Paulo até mais que em Nova York na época, porque em Nova York era um círculo mais fechado. E aqui, não, não era só para os bacanas, vamos supor, para os garotos que estavam ganhando dinheiro. Mas para as pessoas... todo mundo que visitava a cidade... artistas, exposições que tinha e depois das exposições, depois dos acontecimentos, todo mundo ia para esses... e tinha uma que ficou excepcionalmente famosa, eu sei disso porque era em frente ao meu estúdio na Henrique Schaumann, eu recebia muita gente, não só pelos meus conhecimentos, mas também tinha uma boa gestão sobre isso, porque muitas pessoas passavam lá no meu atelier e viam de longe, da janela começava o acontecimento. Começavam a botar o tapete vermelho na entrada, movimentação, o pessoal descia para ir para lá. E isso durou uns seis, sete anos em pique grande. Hoje continua, mas acho que em condições mais modestas. Não envolve tanta gente. Mas na época era uma coisa normal.
Era o temp0 do amor livre.
Não só em São Paulo, em muitas cidades da Europa. Em Paris, quem conhece bem Paris, por exemplo, das cinco às sete existe um sistema que se desliga as câmeras da cidade... e todo mundo tem direito de privacidade... então, um barzinho que vende lá uma empadinha troca a tabuleta e vira um lugar para você tomar um drinque, pegar alguém e transar, fazer isso, tal e tal, depois você pega, sai, acabou, chega às sete, todo mundo acaba, fecha, vira o bar de novo. Isso se chama “das cinco às sete”.
Como no filme da Agnès Varda, “Cleo das 5 às 7”?
Isso é clássico. Dizem que as pessoas preferem... tem muita gente que gosta de transar na rua e não gosta de transar na cama, o francês gosta de transar em metrô antes de ir para casa... muita gente solitária também que depois das sete vai para casa, oito e meia fecha tudo, então esses lugares têm esse horário para funcionar. Não é uma coisa nova. De um tempo para cá que eu vejo que as pessoas estão mais politizadas, mais preocupados com os dramas sofisticados que com a vida. A relação está mais focada em dinheiro, conquista. Não é que não existia isso, existia isso também, todos estavam focados, todos tinham seu carro, tinham dinheiro para gastar. Mas tinha uma hora que você queria se dar um certo “espírito fugitivo”, que dava nisso. Eu não vejo muito isso hoje, esses espíritos fugitivos. As pessoas são mais contidas, ou fazem mais escondido ou não demonstram tanto. Nos anos 70... tinha casais apropriados para a sacanagem que faziam organizadamente. Tinha até um nome... eles se chamavam...
Como se fosse o “coelho” de uma corrida?
É. E tinha um nome...
Você esteve em alguma bacanal dessas? Como é que era?
Eu já estive em algumas festas... mas uma bacanal organizada assim...bacanal... eu via que tinha isso, havia os casais que se organizavam... Eu participei muito de farras de festas, embalos em que vão rolando coisas e tal e que era divertido pra burro, porque acho que todo mundo participou. Mas não era nada sério de fazer isso por causa disso. Havia grupos que faziam isso... anunciavam... chamavam gente pelo jornal...gente se inscrevia... Houve um período nos anos 80 em que havia uma certa farra no ar. Era uma moda terrível cheirar pó. Quem não cheirava pó estava por fora. Não é que era crime, era moda. E pó, por exemplo, muita gente sabe que é uma coisa participativa. Ela não é uma coisa de você se trancar com alguém, porque aquilo você quer falar... é um demonstrador... é uma excitação muito grande... não é uma coisa que você vai ficar no cantinho. Era farto...
Servia-se pó em bandejas?
Tinha em todo lugar. E também não era uma coisa que era considerada crime, não era crime, porque não se tratava aquilo como se fosse um objetivo para ser ruim. Era uma coisa que era boa! Se vendia como uma ideia de coisa boa! Se vendia e as pessoas estavam propositadamente nisso, não estavam no nicho de ser drogado, fazer escondido. Não! Aquilo era um prazer! Então, isso criou muito a relação da liberdade de ficar pelado, transar em várias pessoas juntas e ficar se divertindo, era mais expansiva do que para neurose ou defesa da religião, de atos cívicos ou a discussão da possibilidade de ser quem. Não era. Porque existiam os bacanais antigamente que eram ligados a transas homossexuais, mulher com mulher, homem com homem, mulher com homem, aquelas coisas sempre existiram, a humanidade sempre teve isso, alguns profissionais, outros quase religiosos, que aliás...
Inclusive no Vaticano...
Isso aconteceu em tudo quanto é canto. Nos anos 60 era uma bacanal constante na casa de qualquer um porque todo mundo ia para sua casa à tarde, todo mundo comia todo mundo, fumava um monte de baseado, todo mundo falava, todo mundo trabalhava. Isso nos anos 60. Nos anos 70 foi uma linguagem mais moderada. Hoje ficou uma linguagem mais estrangulada, porque se defendem teses... o gay quer casar... existe um certo poder, assim... a sapatona quer ser homem... ficou um negócio desequilibrado... muita religião... Hoje não se pode fazer muita coisa com mulher. E as mulheres... E a transa era colocada como uma coisa muito simples. Não tem esse valor de hoje que transar é uma epopéia... “eu sou homossexual”... “eu sou hetero”... isso é uma defesa de causa...
Você podia encontrar uma menina no ônibus, sentar ao lado dela, conversar, descer com ela, convidar para ir ao apê, transar e ir embora...
Normal. Não precisava forçar nada.
Tive um caso assim com uma moça chamada Aglaê.
Eu às vezes me pergunto o que aconteceu que fica todo mundo nessa metocracia esquisita, porque eu nunca vi tanto veado no Rio de Janeiro, naquelas boates, veados com fantasias de três metros de altura, no palco, as bichas botavam pra quebrar, era divertidíssimo e ninguém nunca bateu no veado, nunca houve, assim, briga feia. Agora, uns batem, outros brigam. Eu não entendo muito bem. Mas nos anos 80 a mentalidade das pessoas teve um certo deboche, uma certa brincadeira, eu sei que todo mundo queria viver muito bem, minha sensação foi essa... tudo bem no ano que vem... tudo era legal...
Tuas performances tinham viés erótico, não tinham?
Eu sempre tive conotação erótica, mas... inclusive publicamente, eu ficava nu, as meninas ficavam nuas para fazer performance, uma coisa que na época era normal. Quer dizer: era vanguarda, não era padrão normal, mas não era um bicho de sete cabeças...Essa menina que trabalhou comigo a vida inteira, ficava nua, a gente fazia bastante performance, tinha envolvimento com a nudez... era uma época que muita gente ficava nua com muita facilidade...não era um ato heroico, não. Na época dos anos 60 era um come cru violento, porque todo mundo era... como dizem os lençóis entrando na máquina de lavar: “lá dentro ninguém é de ninguém”. Esse sistema “máquina de lavar” ficou marcado nos anos 60; nos anos 70, com mais suavidade, nos anos 80 havia uma decisão: vamos todos viver muito bem, foda-se o mundo! Depois dessa liberdade é que veio o encanto por dinheiro de novo. Que começou a nascer essa fome pelo dinheiro que no fundo a mim me parece que é um lado religioso. O dinheiro virou uma religião maior do que a religião porque se criou uma obsessão por dinheiro e aquele lado vital acabou. Então você volta à Tradição, Família e Propriedade.
Templo é dinheiro!
Os anos 80 foi o período que eu achei mais bonito, todo mundo se preocupava com todo mundo, as pessoas conseguiam gostar das outras. Era facílimo ouvir as pessoas dizerem “eu te amo”, “eu te adoro”, “meu amigo”. Hoje não se vê muito mais amigo... eu não vejo... e olha que eu ando bem por aí. Mas não tem essa amizade. Muita gente envelheceu, os políticos ficaram corruptos. E vem aquela novela de menino pobre, igual a Roberto Carlos. “E agora estou rico, tudo bem, vou ajudar”... a ONG tal... Eu acho isso uma chatura... É muita gente que ficou rica e fica depois explorando a ideia de que foi pobre...como o Lula... ele ficou riquíssimo!
Mas e os pobres que ele ajudou a tirar da pobreza, você não leva em conta?
Quem mais criou pobreza no Brasil foi o PT! Eu não vi o PT ajudar ninguém! Eu viajo para caralho! A mesma merda que tinha no Maranhão, nesses lugares... há poucos dias eu viajei ao Rio de carro, eu fiquei... apavorado! Na Zona Norte, ali, é um perigo! Se você erra um caminho, está frito! Uma pobreza, uma situação miserável, fica dizendo que tirou gente da pobreza! Agora estão querendo tirar as pessoas das casas que deram do Minha Casa, Minha Vida. Isso não é uma coisa natural. Porque nos anos 80, por exemplo, não havia esses rancores, não existia isso! Você convivia com lavador de carro, com quem cuidava do seu carro muito bem! Cada um respeitando os seus interesses. Ninguém estava muito brigando com o mundo. Hoje está um horror! Existe uma faísca permanente no ar... Estamos vivendo um momento tendencioso ao horror. Tomara que voltem os anos 80 de novo! Ou que a gente pegue uma década mais moderna, com pessoas mais inteligentes, porque o que tem de gente burra...é um horror!
O Garotinho é da tua cidade, não é?
É da minha cidade.
Você teve algum contato com ele?
Eu não tive grandes contatos com ele. Quem teve muito contato com ele foi minha mãe. Porque ele é mais velho do que eu um pouco... ou mais novo do que eu... e minha mãe era muito amiga da mãe dele, da mulher dele e dele. Ele fez uma vez um páreo no Jockey em minha homenagem... eu levei umas gravuras para doar para o centro cultural da cidade...Eu não conheço bem a vida política dele, mas sei que ele é um politiqueiro. Esteve com o Cunha. Cresceu muito no lado político.
Você nunca teve proximidade com político?
Com político? Bom, eu tive proximidade na época das Diretas Já que eu fiz o primeiro cartaz para o Fernando Henrique Cardoso... tenho foto com Lula... ajudei o Lula... fiz algumas coisas...Envolvimento foi mais ou menos com Fernando Henrique, na primeira campanha dele, fiz umas gravuras para vender e arrecadar dinheiro...e por incrível que pareça eu dava apoio pela minha situação, pelo meu prestígio e minha posição na arte na época. Mas politicamente não era coerente o meu lado, porque desde 64, 68 que teve aquela situação que eu fui embora para a Bolívia... Peru... fazer aqueles caminhos todos... meio tipo guerrilha...
Como assim “tipo guerrilha”?
Eu era do diretório acadêmico da Escola de Belas Artes, no Rio, que foi o palco da confusão na Avenida Rio Branco. Eu tinha um certo poder político na época dentro das universidades. E a gente fazia uma pequena guerrilha ali. Jogava garrafa de coca-cola de cima do prédio...nas cavalarias... ali era a confusão... ali ficava o Jornal do Brasil... o Teatro Municipal...Museu de Belas Artes... Eu andava pelos telhados...Depois, quando estourou mesmo a boiada houve metralhadas, aquela confusão e houve uma dispersão. Nessa dispersão eu fui para a Bolívia. Cheguei na Bolívia no dia em que tinha morrido o Guevara. Eles me confundiram com o guerrilheiro que iria substituir Guevara...fui saudado na rua... aquela confusão...
Mas você militou em alguma guerrilha latino-americana?
Não. Só dei um tempo até a poeira baixar no Brasil. Quando eu vim voltando eu parei em São Paulo e acabei ficando amigo do MárioSchenberg, que me deu segurança e proteção porque ele era um cientista que ninguém podia botar a mão nele. Físico nuclear. Eu me desinteressei pela função política e me tornei um “anarquista invólucro”, não um anarquista agressivo, mas um anarquista que estava mais para a cultura do Jean Genet,.. eu estava mais nessa linha. Essa linha de atuação na época se chamava de anarquismo. Não era para ficar anarquizando, mas se chamava anarquismo. Era uma maneira de dizer que você estava numa linha contra, mas também não era radical, infeliz e nem ligado a uma decisão religiosa. Eu fiquei muito bravo por causa da situação que interrompeu os meus estudos. Porque, de repente, os meus estudos foram interrompidos, eu não só era politizado, como fiquei muito chateado porque a Escola de Belas Artes era um ideal todo para mim, tinha aulas de todos os tipos, bacanas, dentro de um museu... o Museu de Belas Artes. Um lugar espetacular! Meninas lindas... amigos formidáveis... pinturas de altas expressões... professores excelentes...ser interrompido aquilo para jogar garrafas de coca-cola em cima de cavalaria, brigar por causa de um regime vagabundo, de merda, eu achava isso desonesto. Muita gente daquela época se tornou bandido, ladrão, porque não tinha outros objetivos, estava querendo só arranjar um rumo na vida, não é que lutava por um idealismo. A política entrou em certa porcentagem, mas não era cem por cento porque eu tinha mais o que fazer.
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E a tua amiga, a princesa Gloria de Thurn und Taxis (*)? Ela tinha muitos táxis mesmo?
A família Thurn und Taxis é dona de todos os táxis antigos desde a época das carruagens...
Da Alemanha?
Da Alemanha. E da Europa. E lá no castelo dela tinha todos os táxis de antigamente, carruagens... antigamente você viajava de um país para outro de carruagem. Eles vêm de famílias antigas, espanholas, de quando a Europa ainda não existia.
A palavra táxi vem do nome da família dela?
Eles tinham o monopólio de todos os táxis desde os tempos das carruagens. Desde que eram puxadas por animais. Então o táxi é originado dessa família, da família do marido dela, Johanes de Thurn und Taxis...
Você conheceu o cara?
Conheci. Cheguei a morar um tempo no castelo deles. Uns três meses. Perto de Munique. Pintando.
E como é o clima no castelo? Como é a mordomia?
Não tinha muita mordomia, tinha eficiência. Eu tinha o meu lugar lá no atelier, um bonito estúdio. Lá no alto. Depois tinha o lugar para dormir, tinha aqueles quartos todos. Lagos, cozinha grande, essas coisas.
Você conheceu todos os 500 quartos do castelo?
Eu fiz uma visita completa lá.
Você contou? Tem 500 quartos mesmo?
Não fui contando assim. Era bastante. Era o suficiente para dizer que é muito.
E quantos empregados?
Ah, muitos... muitos seguranças,...tem toda uma infraestrutura grandiosa. Eles recebem para jantar... artistas... alta cúpula do governo...everybody...
Onde você conheceu a princesa?
Conheci em São Paulo. Eu tinha uma ligação grande com a Alemanha porque estava trabalhando com uma galerista alemã. E eu ia muito para Munique fazer exposições. E ela viu uma obra minha numa galeria, queria me conhecer e por coincidência ela era amiga de uma amiga minha. James Stewart Granger, você conheceu? É um fotógrafo que vem a ser o filho do Stewart Granger. E ele mora aqui no Brasil e é casado com essa amiga minha.
Você e a Princesa Gloria viviam nas colunas sociais...
Eu nem me lembro, porque eu não estava aqui.
Ué, você não saía com ela nas colunas?
Ah, saía, é claro! Era notícia para esse mundo.
E a Gloria sempre foi muito festeira?
Era. Na época ela fazia festa porque gostava, festa para seguir o protocolo, então eram festas constantes. Todo dia festa.
Enormes? Para muita gente?
Tinha de tudo. De todo jeito. Um dia num lado do castelo. Um dia no outro. Um dia no castelo todo. Uma agitação, né?
Você conhece algum artista de qualquer arte que não use drogas?
Ah, tem vários... que não usam... que usaram e não usam mais...
Os antigos – Picasso e sua turma – usavam o que?
Acho que era bebum mesmo. Não sei.
Mas devia rolar um pozinho também.
Ah, com certeza! Tem histórias.... naquela época era tudo meio escondido...
E você nunca mais viu a princesa?
Vejo, sempre vejo, estive há pouco tempo com ela na Itália. Ela está morando na França. O filho mais novo dela cresceu, ficou no lugar do príncipe, tomou conta do castelo e ela foi fazer a vida dela porque é muito chato ficar pagando de princesa o tempo todo. Tem que seguir protocolo o dia inteiro.
Ela tem quantos quadros teus?
Ah, ela tinha bastante. Mais de 20. Mas eu tenho aqui um catálogo com quase todas as obras que ela tem.
É gozado esse negócio de haver nobres em plena república...
É, mas é uma nobreza forte.
Muito influente politicamente?
Dentro do poder. Não sei se se propõe a isso, mas é por aí.
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(Ivald mostra a parede da sala ocupada com suas quatro pinturas mais recentes, óleos, 1.40 por 1.00.)
Quantos dias para fazer um desses?
Pode ser feito em duas horas se eu fizer intensamente.
Você faz vários ao mesmo tempo?
Vários ao mesmo tempo.
Esses quatro levaram quanto tempo?
Eu acho que umas duas semanas.
Só duas semanas?
Duas semanas é bastante...E o tamanho é gostoso. É o tamanho ideal para pintar.
Estão à venda?
Estão no acervo.
Não estão à venda?
Não.
E se alguém quiser comprar?
Se alguém quiser comprar eu vendo.
Quanto vale cada um?
Na base de uns 20 mil dólares...uns 80 mil reais...
O que acha do Romero Brito ser hoje a cara da arte brasileira no exterior? Te incomoda?
É uma coisa que surgiu pelo mercado, ele faz esse tipo de trabalho, não tem que ver com trabalho de artista. Ele é um esperto rapaz que faz o trabalho dele, bem popular, cada metro de rua que você anda em Nova York, de shopping dos Estados Unidos tem coisa dele para vender. No mundo inteiro. É uma indústria! Então está longe de ficar analisando ele como forma artística, ele é uma indústria e faz lá os gráficos visionários dele como qualquer outro poderia fazer. O pessoal gosta porque gosta, como gosta do desenho da Louis Vitton... não vejo nenhuma importância... é irrelevante... Romero Brito faz isso. Pronto. Isso é um negócio.
Ele é o Paulo Coelho da pintura?
Eles são amigos agora. Eles tiram foto juntos, um frequenta o ambiente do outro...
Mas você é amigo só do Paulo Coelho?
Eu conheço os dois. O Romero Brito é meu amigo também. Ele é um rapaz que foi para os Estados Unidos desenhar... ele não estava querendo ser um artista, fazer um legado. Ele foi lá fazer um capítulo da vida dele e fez. Ele não está discutindo uma visão intelectual da arte, ele está fazendo pintura para vender. Não vejo mal nenhum. O pessoal ficou puto com ele porque ele ganhou muito dinheiro... ganha 100 milhões de dólares por ano...
Tudo isso?!
Cem milhões... parece que sobra uns 29 para ele.
Fatura 100 milhões por ano?!
Aí o pessoal fica puto da vida, mas eu não vejo muito motivo para ficar puto. Não tenho nada contra ele. Quando eu ia muito a Miami ele me convidou para fazer uma exposição na loja dele, eu, o Gershman, o Tozzi...num shoppingzinho pequenininho, distante do centro. Ele é um menino engraçadinho, simpático, faz o trabalho dele lá e vende pra burro. Tanto ele como Vik Muniz vende pra burro. Eles fazem produtos que caíram na moda. O Petikov já vendeu... ele foi o artista que mais vendeu entre esses caras todos dos anos 60, ele vendia posters mais que o Vik Muniz, só que não era a época de ganhar dinheiro, nem ele estava interessado, ele era mais poeta. Já outros artistas são mais dinheireiros. Só pensam em dinheiro. É uma coisa lógica. E sou amigo deles. Romero é amigo mais recente, o Paulo Coelho é mais antigo. Eu conheci bem o Paulo Coelho. Jovem, no Rio. A gente até andava junto. No início da vida dele. Profissional. Conheci o Paulo Coelho na minha adolescência, depois ele se casou com uma amiga minha, a Cristina Oiticica, que era parente do Hélio Oiticica. Tinha umas meninas bonitas na família Oiticica.
Já fazia música com Raul Seixas?
Não, era anterior. Ele fazia teatrinho na igreja de Copacabana...
Como ator? Marionetes?
Não, pequeno teatro, porque era uma igrejinha do lado do túnel de Copacabana que se transformou num tipo de um pequeno teatro, assim... conheci o Paulo Coelho nessa época...escrevia peças para crianças, alguma coisa assim...
E depois?
Depois encontrei com ele em algumas vernissages, em São Paulo. Depois que ele ficou esse escritor conhecido eu nunca mais tive contato físico com ele. A última vez que vi ele estava na vernissage de uma exposição minha na galeria da Mônica Filgueiras, na Haddock Lobo, que era muito agitada na época. Depois ele ficou amigo do Raul...isso já é depois... eu conheci o Paulo Coelho antes...Porque o Raul eu vim a conhecer em São Paulo. Eu conheci bem e convivi bem com o Raul. Ele frequentava muito meu estúdio, minha casa. Ele era ótimo. Grande figura. Um menino adoentado.
Ele já era o Raul Seixas?
Já estava bem conhecido, mas não assim tão...popular...tinha a popularidade adequada... teve até uns períodos caídos à beça, veio morar aqui perto de casa...não estava assim naquele embalo... porque ele andava num embalo pesado. O Dinho, que era um produtor gostava que eu ficasse ao lado do Raul para ele não ficar só com os músicos. Porque o Raul não era tão intenso na vida dele como depois da morte. Tem essa tensão também. Depois que o cara morre as pessoas ficam mais curiosas em saber dele. Ele era uma pessoa normal. Tinha os afazeres da casa dele... tomar conta de criança, essas coisas. E o Raul tinha um problema de saúde também. Desde que eu conheci eu sentia que ele tinha um problema.
Pulmão?
Acho que era rim. Ele tinha alguma coisa atrofiada no rim, mas isso desde... e com o tempo foi...
Cheirar com problema no rim não deve fazer bem.
De jeito nenhum. Tem que limpar com uísque... Eu convivi bastante com ele, não em palco, mais em casa. A gente gostava muito de conversar, de bater papo. De ficar junto, de beber drinque, encontrar. Éramos amigos. Depois ele foi ficando bem mais doente e foi sumindo. Que são coisas normais de pessoas que vão ficando adoentadas. Ele se mudou para perto de casa, eu convidei ele várias vezes para um churrasco, ele dizia que vinha, mas não vinha. “Não me espera tanto” ele dizia.
Você sempre teve ligações com músicos?
Eu tinha um amigo de praia que era o Zé Rodrix. Que era fisicamente até meio parecido comigo. Conheci Ney Matogrosso, convivi muito com ele também. Desde menino sempre fui muito amigo de músicos. Lá em casa tinha muita música. Minha irmã tocava piano. Eu vivia no meio das bandas. Convivi com músicos... Ivan Lins... Levava eles para fazer show em Campos, fazia festival de música. Sempre fui entrosado com música numa boa. Depois que fiquei artista, conhecido, comecei a conhecer os músicos mais famosos. Aparece um na sua casa... vem conhecer... que o artista plástico é muito prestigiado. Na minha época o artista plástico tinha uma conotação maior que o músico. O músico era considerado burro. Todo mundo sabe disso. O artista plástico é endeusado no meio da arte. Isso ainda continua um pouco. Hoje todo mundo virou celebridade, murchou um pouco isso. Muitos artistas tinham curiosidade de me conhecer. E eu a eles. Queriam ver como eu fazia, como eu funcionava. Fiquei muito amigo de vários artistas famosos, outros menos. Sempre gostei de fazer festas com artistas. Houve um período aqui em São Paulo que não havia um artista que chegasse aqui que eu não levasse para a casa do Kim Esteve, uma casa muito bonita. Isso de Buddy Guy a... eu arranjava um jeito de chegar até eles, eu tinha uma facilidade muito grande para fazer isso. Pela própria cara de pau e pela minha própria pose, postura, sei lá eu... eu chegava lá no hotel e levava... todos cantaram lá, eu fiz festas ótimas lá. Gilberto Gil tocando no coreto... fulano... uma coisa que, foi meio histórica na minha vida conviver com músicos durante uma época. Quase todos que você possa imaginar, “importantão”, estiveram comigo. Peter Tosh... esses caras todos aí...
(*) Gloria de Thurn und Taxis é a filha mais velha do conde Joaquim de Schönburg-Glauchau e de sua esposa Beatriz, nascida condessa Széchényi de Sárvár. Apesar de sua família ter sangue azul, ela trabalhou comogarçonete. Em 31 de maio de 1980, no Castelo de Thurn und Taxis, ela casou-se com o príncipe Johannes de Thurn und Taxis, um dos homens mais ricos da Europa. Ela tinha então vinte anos de idade e Johannes quase cinqüenta e quatro. Após a morte dele, em dezembro de 1990, Gloria teve que controlar a enorme fortuna dos Thurn und Taxis. Conhecida como "Princesa TNT", foi um ícone durante a década de 1980, ficando também conhecida por seu estilo de vida extravagante. Em 2001,disse em um talk show que a alta taxa deAids nos países africanos não se devia apenas à falta de sexo seguro, mas também ao fato de que "negros gostam de copular (schnackseln) muito".
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